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AMÉRICA DO SUL
No prazo de um ano, serão sete eleições presidenciais, das quais cinco têm cenário imprevisível até agora
Incerta, região vive supersafra eleitoral
JOÃO CARLOS BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Após entrar num período dos
mais turbulentos neste início de
século, com quedas de presidente
na Argentina, na Venezuela (provisória), na Bolívia (duas vezes) e
no Equador, a América do Sul está próxima de ver neste ano o início de um superperíodo eleitoral.
Entre dezembro próximo e o
mesmo mês de 2006, serão sete
eleições presidenciais nos 13 países do subcontinente. Haverá ainda, a partir de outubro, três legislativas, em separado, incluindo a
de uma oitava nação, a Argentina.
Das sete disputas presidenciais,
cinco estão com as perspectivas
indefinidas. A explicação para isso não é só o tempo que ainda falta para a realização de cada uma.
As eleições da Venezuela, por
exemplo, são as que encerrarão a
safra, em dezembro de 2006, e entram até o momento no grupo das
previsíveis, ao lado das chilenas.
A mais de um ano da votação
venezuelana, o presidente Hugo
Chávez já pode ser apontado como favorito. Em pesquisa recente,
ele aparece com cerca de 70% de
aprovação. Também tem obtido
sucessivas vitórias eleitorais: ganhou o plebiscito sobre seu mandato com quase 60% dos votos e
possui aliados nos governos de 22
das 24 unidades da Federação.
Na companhia da Venezuela,
está o Chile, onde a candidata da
situação para as eleições de dezembro próximo tem 29 pontos
percentuais de vantagem sobre o
segundo colocado. A ex-ministra
socialista Michelle Bachelet soma
47% das intenções de voto, contra
18% do direitista Joaquín Lavín.
A Colômbia poderá ser o terceiro país a integrar o grupo dos previsíveis. Seu presidente, Álvaro
Uribe, ainda tenta obter a confirmação judicial da reeleição aprovada no Parlamento. Caso consiga, entra na disputa de maio do
ano que vem como favorito
-tem 70% das intenções. Se não
conseguir, a situação fica em
aberto. Como a decisão judicial
ainda está por sair, a Colômbia segue por ora entre os indefinidos.
No grupo dos imprevisíveis, o
destaque é a Bolívia. Entre 2003 e
este ano, dois presidentes (Gonzalo Sánchez de Lozada e Carlos
Mesa, que era o vice) foram derrubados por protestos contra, entre outras coisas, a exploração das
reservas de hidrocarbonetos do
país por empresas estrangeiras.
Como resultado da última queda, que colocou o então presidente da Suprema Corte no poder, foram convocadas eleições antecipadas. Hoje, a pouco mais de três
meses da votação, nem as candidaturas estão todas definidas. As
intenções de voto também estão
fragmentadas, com nenhum postulante obtendo mais do que 22%.
Situação parecida é a do Equador, que também viu a queda de
um presidente neste ano. Lucio
Gutiérrez foi destituído pelo Parlamento, sob a alegação de que
havia abandonado o cargo, após
protestos contra seus desmandos
em relação à principal corte judicial. Ele, que deu lugar ao então
vice Alfredo Palacio, foi o terceiro
eleito a não encerrar o mandato
em oito anos. Assim, para as eleições de outubro de 2006, está tudo
em aberto. Não há pesquisas recentes nem candidatos favoritos.
No Brasil, onde a disputa presidencial está marcada para o mesmo mês de 2006, a indefinição
também possui mais relação com
o quadro político instável do que
com o tempo até a votação.
Diante de um panorama econômico favorável, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva vinha como
favorito até ver seu partido e seu
governo serem atingidos por denúncias de corrupção. Agora, a
pesquisa mais recente já mostra
que ele seria derrotado pelo principal rival de 2002 num eventual
segundo turno entre os dois.
Para o cientista político Fabiano
Santos, do Iuperj, o Brasil, apesar
da crise atual, o Chile e o Uruguai
são os países mais estáveis da região em termos estruturais. Segundo ele, autor, com mais dois
colegas, de "Governabilidade e representação política na América
do Sul", a principal explicação é o
fato de as três nações terem contado com a organização de um partido de esquerda em seus processos de retomada da democracia.
Santos aponta também a importância dos resultados eleitorais para a consolidação ou não
do processo de integração da
América do Sul, que hoje tem o
Brasil como seu entusiasta. "Os
próximos governos definirão se
haverá a integração", disse. "Será
necessário ainda saber se o futuro
presidente brasileiro terá a mesma disposição nesse sentido."
Lado bom
Há elogios para o respeito ao calendário eleitoral. "Em todos esses países, exceto na Bolívia, um
importante traço em comum é
que as eleições ocorrerão conforme foram programadas. Quando
se pensa na história da América
Latina, isso é um fato extraordinário", disse o cientista político
Scott Mainwaring, diretor do renomado Instituto Kellogg da Universidade de Notre Dame (EUA).
"A existência de eleições regulares começou a se tornar lugar-comum, mas quando você pensa
nas gerações de regimes autoritários e na longa história de golpes
nesses países, é impressionante
que governos democráticos e semi-democráticos tenham perdurado e que eleições regulares estejam acontecendo", afirmou.
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