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IRAQUE SOB TUTELA
Para Michael O'Hanlon, impasse sobre exploração petroleira é o mais complexo obstáculo para a Constituição
Paz iraquiana jaz no petróleo, diz analista
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Analista sempre presente nas
páginas dos principais jornais
americanos, Michael O'Hanlon
afirma que o principal entrave às
negociações internas no Iraque é
mesmo o petróleo e que todos os
outros temas -do islã ao direito
das mulheres- serão resolvidos
com o tempo.
Na semana passada, os iraquianos reunidos para redigir a nova
Constituição do país não conseguiram cumprir o prazo estabelecido pelo governo com respaldo
dos EUA. A nova data-limite estoura amanhã. Os americanos
acreditam que, se não houver
acordo, a insurgência pode se fortalecer com o impasse político.
O'Hanlon, que é PhD em relações internacionais pela Universidade Princeton e tem se dedicado
a estudar a política iraquiana nos
últimos anos, diz que não há como saber se os constituintes conseguirão cumprir o prazo. Há
muitos pontos em aberto: os direitos das mulheres, uma proteção especial aos imãs xiitas (que
não ficariam sujeitos à lei), o papel do islã na Constituição e a autonomia de curdos (no norte) e
xiitas (no sul) nas regiões onde estão as principais reservas de petróleo do país.
Mas por trás de tudo isso, o
ponto principal, segundo O'Hanlon, é mesmo a divisão do petróleo. "É importante não ter apenas
uma Constituição, mas sim uma
Constituição boa e justa, com os
lucros do petróleo sendo divididos justamente entre as Províncias e entre a população. Sem isso,
sou muito pessimista", afirma o
especialista, do Instituto Brookings, um think-tank com base
em Washington. Leia abaixo a entrevista.
Folha - Os iraquianos não conseguiram cumprir o prazo e passaram
a semana em tensas negociações. O
senhor acha que será possível um
acordo na segunda-feira?
Michael O'Hanlon - Não há como
prever isso. Não há como ninguém que está aqui fora, e, muito
provavelmente, para ninguém
que está lá, também, saber. Eles
estão fazendo isso pela primeira
vez, e é algo tremendamente difícil escrever uma Constituição. De
certo modo, eles estão tentando
construir um país, partindo de
três grupos étnico-religiosos extremamente definidos [curdos,
que são 15% da população, árabes
sunitas, que somam 20%, e árabes
xiitas, que perfazem 60%].
Ainda que fossem um único
país antes, obviamente era sob
um forte regime autocrático. Então é a primeira vez que estão vendo se conseguem fazer isso funcionar democraticamente.
Folha - Há muitas questões em jogo, como a divisão do petróleo, autonomia para os curdos no norte e
para os xiitas no sul... Existe algum
ponto preponderante de entrave?
O'Hanlon - Acho que esses dois
são os mais importantes e constituem basicamente uma única
questão. O mais importante em
relação à autonomia é justamente
a distribuição dos lucros com o
petróleo, que é a questão mais crítica. Acredito que, no final, os xiitas terão de saber que não podem
dar muito poder a seus próprios
imãs na Constituição, e os sunitas
provavelmente poderão aceitar
algum papel para o islã em seu
país -e não acho que isso signifique que será uma teocracia, em
nenhuma hipótese.
Acho que muitas das questões
sobre o papel do islã, das mulheres e dos imãs são importantes,
mas não a ponto de provocar uma
guerra civil que se aprofunde,
porque não devem jogar nenhum
grande grupo contra outro em
um grau mais sério. Obviamente
há preocupações, como a relação
com o Irã. Mas acho que essas
questões devem ser superadas,
porque muitos países islâmicos tiveram esse tipo de problemas antes, e há muitos modelos lá fora.
Os iraquianos devem chegar a um
consenso em relação a isso. Já em
relação à questão da autonomia e
da divisão dos lucros do petróleo
estou menos confiante.
Folha - Quais são as possibilidades, se houver ou não um acordo?
Pode haver uma guerra civil?
O'Hanlon - Não quero fazer previsões, mas é muito importante
que se chegue a um acordo, porque os sunitas estão amargurados, se sentindo sem poder, e eles
são a principal fonte da insurgência e podem levar à guerra civil. É
importante não ter apenas uma
Constituição, mas sim uma Constituição boa e justa, com os lucros
do petróleo sendo divididos justamente entre as Províncias e entre
a população. Sem isso, sou muito
pessimista.
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