São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Escócia solta terrorista líbio condenado por morte de 270

Megrahi cumpria prisão perpétua pelo ataque que explodiu avião da Pan Am em 1988

Vítima de câncer de próstata terminal, libertado chegou a Trípoli ainda ontem; Londres e Washington protestaram contra decisão


DA REDAÇÃO

A Justiça da Escócia libertou ontem por motivos humanitários o líbio Abdel Basset Ali al Megrahi, 57, condenado pela explosão terrorista de um voo da Pan Am em 1988 que resultou na morte de 270 pessoas -259 a bordo e 11 no solo. Megrahi sofre de câncer da próstata e tem menos de três meses de vida, segundo seus médicos.
O atentado terrorista do voo 103 da Pan Am, que ia de Londres a Nova York e explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie, foi o pior da história do Reino Unido. Megrahi, que nega participação, cumpriu somente oito anos de uma sentença de prisão perpétua.
Sua soltura foi motivo de protestos por parte dos governos britânico e principalmente dos EUA -189 vítimas eram americanas. "A decisão foi um erro", afirmou o presidente Barack Obama a uma rádio ontem. "Estamos em contato com o governo líbio para que ele não seja recebido [com honras] e fique sob prisão domiciliar."
Em vão. A chegada de Megrahi em Trípoli na noite de ontem contou com a presença de centenas de simpatizantes com bandeiras líbias. Ele é visto por muitos no país como um bode expiatório de uma antiga campanha do Ocidente para isolar a Líbia no cenário externo.
Ex-membro do serviço de inteligência líbio, Megrahi faz parte de uma poderosa tribo política aliada ao ditador Muammar Gaddafi, que chegou a ser acusado de terrorismo de Estado pelo atentado.

Jogos de poder
Trípoli enfrentou condenação internacional não apenas pelas acusações de participação em atentados, mas também por seu programa nuclear. O país se recusou por anos a entregar Megrahi para julgamento e recebeu várias sanções da ONU.
Após anos de negociações e pressões externas, Megrahi acabou sendo enviado em 1999 a um tribunal considerado neutro na Holanda. E, depois do 11 de Setembro, Gaddafi empreendeu uma reaproximação com o Ocidente, desmontando seu programa nuclear.
Para Europa e EUA, a reaproximação interessava também por motivos econômicos, já que a Líbia tem cerca de 3% das reservas petrolíferas mundiais e 1% das de gás natural.
Nesse contexto, parentes de vítimas contrários à libertação de Megrahi viram elo entre a soltura e acordos financeiros.
"Acho que é horrível, nojento e tão doente que não posso nem encontrar palavras para descrever [o que sinto]", disse Susan Cohen, uma americana de Nova Jersey cuja filha de 20 anos morreu no atentado. "Isso não foi algo movido a compaixão. É parte do jogo "dê a Gaddafi o que ele quer para que possamos ter seu petróleo"."
Nem todos, porém, creem na culpa do condenado. O britânico Jim Swire, pai de outra vítimas, se mostrou favorável à soltura: "Não acredito nem por um momento que esse homem estava envolvido da maneira que dizem", afirmou.
A condenação do líbio se deveu em boa parte ao testemunho de um comerciante que afirmou ter vendido uma camiseta a Megrahi antes do voo -resquícios da camiseta foram encontrados envolvendo a bomba que explodiu o avião. A defesa questionou o relato.
Além disso, em 1995, um relatório da inteligência dos EUA sugeriu que o Irã, e não a Líbia, estivera por trás do ataque. O documento foi desconsiderado.
Mas mesmo a Escócia disse não ter dúvidas sobre a culpabilidade do líbio. "Megrahi não demonstrou compaixão por suas vítimas", disse o ministro da Justiça escocês, Kenny MacAskill. "Mas ele agora enfrenta uma sentença imposta por um poder superior."

Com agências internacionais



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