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Escócia solta terrorista líbio condenado por morte de 270
Megrahi cumpria prisão perpétua pelo ataque que explodiu avião da Pan Am em 1988
Vítima de câncer de próstata terminal, libertado chegou a Trípoli ainda ontem; Londres e Washington protestaram contra decisão
DA REDAÇÃO
A Justiça da Escócia libertou
ontem por motivos humanitários o líbio Abdel Basset Ali al
Megrahi, 57, condenado pela
explosão terrorista de um voo
da Pan Am em 1988 que resultou na morte de 270 pessoas
-259 a bordo e 11 no solo. Megrahi sofre de câncer da próstata e tem menos de três meses
de vida, segundo seus médicos.
O atentado terrorista do voo
103 da Pan Am, que ia de Londres a Nova York e explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie, foi o pior da história do
Reino Unido. Megrahi, que nega participação, cumpriu somente oito anos de uma sentença de prisão perpétua.
Sua soltura foi motivo de
protestos por parte dos governos britânico e principalmente
dos EUA -189 vítimas eram
americanas. "A decisão foi um
erro", afirmou o presidente Barack Obama a uma rádio ontem. "Estamos em contato com
o governo líbio para que ele não
seja recebido [com honras] e fique sob prisão domiciliar."
Em vão. A chegada de Megrahi em Trípoli na noite de ontem
contou com a presença de centenas de simpatizantes com
bandeiras líbias. Ele é visto por
muitos no país como um bode
expiatório de uma antiga campanha do Ocidente para isolar a
Líbia no cenário externo.
Ex-membro do serviço de inteligência líbio, Megrahi faz
parte de uma poderosa tribo
política aliada ao ditador
Muammar Gaddafi, que chegou
a ser acusado de terrorismo de
Estado pelo atentado.
Jogos de poder
Trípoli enfrentou condenação internacional não apenas
pelas acusações de participação
em atentados, mas também por
seu programa nuclear. O país se
recusou por anos a entregar
Megrahi para julgamento e recebeu várias sanções da ONU.
Após anos de negociações e
pressões externas, Megrahi
acabou sendo enviado em 1999
a um tribunal considerado neutro na Holanda. E, depois do 11
de Setembro, Gaddafi empreendeu uma reaproximação
com o Ocidente, desmontando
seu programa nuclear.
Para Europa e EUA, a reaproximação interessava também
por motivos econômicos, já que
a Líbia tem cerca de 3% das reservas petrolíferas mundiais e
1% das de gás natural.
Nesse contexto, parentes de
vítimas contrários à libertação
de Megrahi viram elo entre a
soltura e acordos financeiros.
"Acho que é horrível, nojento
e tão doente que não posso nem
encontrar palavras para descrever [o que sinto]", disse Susan Cohen, uma americana de
Nova Jersey cuja filha de 20
anos morreu no atentado. "Isso
não foi algo movido a compaixão. É parte do jogo "dê a Gaddafi o que ele quer para que
possamos ter seu petróleo"."
Nem todos, porém, creem na
culpa do condenado. O britânico Jim Swire, pai de outra vítimas, se mostrou favorável à soltura: "Não acredito nem por
um momento que esse homem
estava envolvido da maneira
que dizem", afirmou.
A condenação do líbio se deveu em boa parte ao testemunho de um comerciante que
afirmou ter vendido uma camiseta a Megrahi antes do voo
-resquícios da camiseta foram
encontrados envolvendo a
bomba que explodiu o avião. A
defesa questionou o relato.
Além disso, em 1995, um relatório da inteligência dos EUA
sugeriu que o Irã, e não a Líbia,
estivera por trás do ataque. O
documento foi desconsiderado.
Mas mesmo a Escócia disse
não ter dúvidas sobre a culpabilidade do líbio. "Megrahi não
demonstrou compaixão por
suas vítimas", disse o ministro
da Justiça escocês, Kenny
MacAskill. "Mas ele agora enfrenta uma sentença imposta
por um poder superior."
Com agências internacionais
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