São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2005

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"EIXO DO MAL"

Para negociador iraniano, parceiros econômicos devem assumir responsabilidade de defender programa

Irã condiciona petróleo a apoio nuclear

DA REDAÇÃO

O Irã, terceiro maior produtor de petróleo do mundo, irá condicionar suas vendas do produto e outras transações comerciais ao apoio que receber de seus parceiros econômicos nas negociações sobre seu programa nuclear, disse ontem o representante iraniano nessas tratativas, Ali Larijani.
Larijani afirmou ainda que o país retomará seu programa de enriquecimento de urânio e impedirá inspeções de suas instalações nucleares caso a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) decida remeter o caso ao Conselho de Segurança (CS) da ONU para possíveis sanções.
"Alguns países têm relações econômicas abrangentes com o Irã, especialmente na área de petróleo, mas não assumem a responsabilidade de defender os direitos de uma nação oprimida. O Conselho Supremo de Segurança Nacional está determinado a pôr as duas coisas na balança", disse.
"O Irã decidirá a participação de seus sócios em sua economia em função do apoio que aportem na defesa de seu direito nacional" no tema nuclear, acrescentou.
Mantendo um tom duro, Larijani propôs às autoridades européias uma nova rodada de negociações para que se chegue a um acordo político.
"Se eles querem falar com o Irã na linguagem da força, o Irã não terá outra escolha, de modo a preservar suas conquistas tecnológicas, a não ser sair do Tratado de Não-Proliferação [TNP] e recomeçar o enriquecimento [de urânio]", disse Larijani.
Ontem, Reino Unido, França e Alemanha, que negociam a questão em nome da União Européia, preparavam uma resolução remetendo o Irã ao CS por supostas "falhas e quebras de suas obrigações" com o TNP. Segundo fontes diplomáticas, porém, a iniciativa tinha a oposição da Rússia e da China, que fazem parte da AIEA e têm poder de veto no CS.
Teerã sustenta que seu programa nuclear tem por fim a produção de eletricidade. Para os EUA, porém, o país quer construir armas atômicas. No último sábado, em um discurso inflamado na ONU, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, propôs que governos e empresas estrangeiras participassem do processo como garantia de que tem fins pacíficos.
"Não há dúvidas de que o Irã está cada vez mais isolado. O discurso foi visto como muito duro e intransigente. Falou de seus direitos mas não de suas responsabilidades", disse Nicholas Burns, subsecretário de Estado dos EUA.

Coréia do Norte
As afirmações do governo iraniano coincidem com um endurecimento da posição da Coréia do Norte, que, um dia depois de ter se comprometido a abandonar seu programa atômico, condicionou a decisão ao recebimento de reatores nucleares para a produção de energia.
Segundo os principais negociadores, porém, o pacto ainda não foi sepultado, e analistas avaliam que as declarações de Pyongyang têm como alvo o público interno.
Ontem, EUA e China chamaram as partes a cumprir o acordado. "Vamos fazer isso funcionar", disse o negociador-chefe dos EUA, Christopher Hill.
"Devemos observar a Coréia do Norte de perto para ver se há realmente uma diferença fundamental nesse ponto", disse o porta-voz do governo japonês, Hiroyuki Hosoda. "Se estivermos completamente em desacordo, significa ter de voltar ao início. Mas não acredito que seja esse o caso."


Com agências internacionais

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