São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Governistas elegem Abe para liderar Japão

Chefe de gabinete de Koizumi tem plataforma obscura, mas ganhou popularidade com imagem nacionalista

NORIMITSU ONISHI
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

Shinzo Abe, o nacionalista que quer rever a Constituição do Japão, conquistou ontem a liderança do governista Partido Liberal Democrático. Como o PLD controla a Câmara Baixa, que escolhe o premiê, é certo que Abe sucederá Junichiro Koizumi quando o Parlamento se reunir, na próxima terça.
Aos 52, Abe, líder de uma onda nacionalista que em quatro anos fez dele o político mais popular do Japão após Koizumi, será o primeiro premiê japonês nascido após o fim da Segunda Guerra. Ele vai suceder um homem que liderou o país por cinco anos e meio, carismático, que levou um Japão tímido a afirmar-se perante o mundo e promoveu reformas dolorosas.
"O Partido Liberal Democrático tem por ideal enriquecer o Japão e promover o orgulho nacional", disse Abe a seus correligionários após a votação. "Quero reafirmar a disposição de seguir com as reformas." Numa disputa que só perderia se quisesse, Abe evitou comentar como vai levar adiante as reformas econômicas ou melhorar os laços com a China e a Coréia do Norte. Em vez disso, falou em rever a Constituição imposta pelos EUA após a guerra, de modo a remover as restrições à existência de forças armadas plenas no Japão.
Conhecido inicialmente por ser neto de um ex-premiê, Nobusuke Kishi, Abe ganhou peso nacional em 2002, quando a Coréia do Norte admitiu ter seqüestrado vários cidadãos japoneses nos anos 70 e 80 -e ele virou o maior crítico do vizinho, beneficiando-se da ira nacionalista que, mais tarde, também visaria a China. Um dos problemas mais prementes será acalmar a tensão com a China, que se recusa a participar de cúpulas devido às visitas de Koizumi a Yasukuni, memorial aos mortos japoneses na guerra onde estão 14 criminosos de guerra, visto no restante da Ásia como símbolo do militarismo japonês.
No âmbito doméstico, ele será pressionado a aumentar os gastos públicos e reverter algumas medidas para reformar a economia e o Orçamento. Gerald Curtis, especialista em política japonesa da Universidade Columbia (Nova York), disse que faltam a Abe o estilo e a personalidade forte de Koizumi, que poderiam ajudá-lo a implementar reformas.
"Ele precisa promover algo substancial. E no momento, francamente, é muito difícil enxergar qual será sua política." As pesquisas de opinião indicam que, embora o apoio a Abe seja alto, os eleitores conhecem pouco sua postura política -eles apenas gostam de sua imagem e personalidade.


Tradução de CLARA ALLAIN


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