São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Oposição busca amenizar maioria chavista

Com novas caras, opositores devem voltar à Assembleia Nacional no domingo, de onde estão ausentes desde 2005

Objetivos de partidos são impedir que Hugo Chávez tenha maioria qualificada e vencer na contagem geral de votos

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Virtualmente impossibilitada de capturar a maioria simples no Parlamento da Venezuela, a oposição aposta em obter duas vitórias na votação do próximo domingo: impedir o chavismo de manter a maioria qualificada e ganhar na contagem geral de votos no país.
A oposição tem seus bastiões em 8 dos 24 Estados (incluindo o Distrito Federal), e, por conta da distribuição das cadeiras e pelas mudanças pró-governo na legislação, nem os mais aguerridos opositores falam de obter a maioria da Assembleia Nacional.
Por isso, o número mágico a perseguir pela MUD (Mesa de Unidade), a coalizão que aglutinou diversos antichavistas, são 56 das 165 vagas.
Isso seria suficiente para impedir Hugo Chávez de passar leis orgânicas na Casa, como o governo fez nos últimos cinco anos de domínio do Legislativo.
A oposição parte de um piso de 39 parlamentares, tido o histórico de votações, e um deles será Maria Corina, 42, ex-presidente da ONG opositora Súmate. Ela é candidata pelo mais emblemático distrito da oposição, que abrange zonas nobres de Caracas.
Ironicamente, Corina foi uma militante da abstenção na eleição legislativa de 2005, boicotada pela oposição. Ao contrário de grande parte dos colegas, ela resiste a admitir o erro da estratégia.
"O segredo de voto não estava garantido. Agora está", disse à Folha. Horas depois, Hugo Chávez diria na TV que "seria ideal enfrentar essa burguesinha" nas presidenciais de 2012.
Apesar da eleição garantida, Corina é uma das mais ativas na campanha, com horas de caminhada porta a porta e spots na TV e na internet. "Somos maioria" é o slogan que ela espalha por todos os lados, inclusive fora do seu distrito.
Ela explica: "Eu entrei em lugares que a oposição não poderia nem pisar há alguns anos. Vamos mostrar que somos maioria. A opção é simples: comunismo à cubana ou democracia à venezuelana", afirma.
A estratégia é lutar por cada voto para conseguir maior votação geral e desferir um golpe simbólico a Chávez: o de mostrar que lhe faltará legitimidade para radicalizar a revolução, como promete fazer depois de domingo.
A meta não está longe. De acordo com as pesquisas de projeção nacional, as forças não chavistas -MUD e os dissidentes chavistas do PPT (Patria Para Todos)- estão praticamente empatados com os governistas.
Ainda assim, a campanha não parece fácil. Corina e outros falam do "terror" dos empresários em doar às suas campanhas temendo represálias do governo, sem falar do uso aberto da máquina pública.

FALTA DE RENOVAÇÃO
Para Oscar Schemel, do instituto de pesquisa Hinterlaces, considerado próximo à oposição, a MUD sofre também com seus próprios erros. O primeiro, diz, é pregar a convertidos: reverberar Chávez e falar contra comunismo ou liberdade de expressão quando deveria martelar nas crises simultâneas que o governo enfrenta -recessão econômica, altos índices de violência e variadas crises setoriais, como a energética (leia texto nesta página).
"A oposição sofre de insensibilidade. Não entendeu o país que surgiu depois de 1998 e não se renovou", diz.
Para Schemel, a novidade do cenário eleitoral está no PPT do popular governador de Lara, o ex-chavista Henri Falcón, que prega contra a "polarização interessada" entre governo e oposição e fala de "revolução eficiente".
Seu Estado é o único onde há três forças em disputa: MUD, Chávez e PPT.


Texto Anterior: Coreia do Norte: Regime realizará no dia 28 a escolha de sucessor
Próximo Texto: Retorno de apagões expõe falta de investimento e afeta governo
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.