São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Retorno de apagões expõe falta de investimento e afeta governo

Crise energética atinge principalmente bastiões chavistas

DE CARACAS

Em plena temporada de férias, um dos destinos turísticos mais famosos da Venezuela, a Ilha Margarita, é das zonas do país que mais sofrem com as quedas de energia e apagões, por conta da crise elétrica que se arrasta desde o final de 2009.
Na semana passada, moradores da ilha saíram para as ruas para bater panelas, e o governo Hugo Chávez acusou o governador local, de oposição, de insuflar as massas com intenções eleitorais.
No resto do país, onde também voltaram a ocorrer apagões, a acusação foi de sabotagem.
Tenha o governador Morel Rodríguez Ávila ajudado nos protestos ou não, o certo é que horas depois o comissário nacional para Distribuição e Comercialização Elétrica, Joaquín Osório, afirmou na TV estatal:
"Em Nova Esparta [onde fica Margarita] temos de assumir a nossa responsabilidade. Há um desequilíbrio entre oferta e demanda e estamos trabalhando para resolver o mais rápido possível".
A retórica de Osório, que assumiu o cargo no semestre passado, não casa com o discurso do resto do governo, que culpou especialmente o fenômeno climático do El Niño pela crise.
Para especialistas, sem dúvida a maior seca em décadas afetou o fornecimento de energia na Venezuela, excessivamente dependente de um único reservatório, a represa de Guri, que gera 70% da energia do país.
Mas chegaram as chuvas e, no começo de setembro, o governo teve até de abrir parte das eclusas da hidrelétrica.
Veio à tona, então, a outra causa da crise, uma das responsáveis pelo recuo de 5,8% na economia no primeiro trimestre: o atraso de ao menos cinco anos nos planos de investimento do setor e de manutenção.
A crise afeta principalmente os Estados de Aragua, Barinas (terra natal do presidente Chávez), Falcón e Cojedes. Uma das características comuns das regiões é serem bastiões governistas, daí o alerta do governo, que teme que o voto castigo provoque surpresas na votação de domingo.
A irritação dos Estados tem um motivo adicional: no começo de junho, Chávez fez cadeia nacional de TV para anunciar o fim da crise energética. Começaria a Copa do Mundo, e não haveria mais apagões.
O comissário da Distribuição e Comercialização Elétrica Osório, porém, não põe panos quentes.
Afirma que, com a volta das chuvas, o mais grave agora são as redes de distribuição.
A sobrecarga tem feito estourar turbinas e transformadores especialmente. Sem falar de falhas básicas: "São sete anos sem fazer o ABC. Poda de árvores", disse.
Nem Caracas, blindada pelo governo no plano de racionamento do governo, escapou. Na região de Palo Verde, no leste da cidade, um apagão no último dia 5 durou 8 horas. A principal linha de metrô de Caracas ficou paralisada em parte da manhã.


Texto Anterior: Oposição busca amenizar maioria chavista
Próximo Texto: Presidente francês defende criação de imposto global
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.