|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
Metas hoje são tema político, e não de desenvolvimento
FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO
Ban Ki-moon deve estar de
marqueteiro novo. O apagado secretário-geral da ONU
tem nas Metas do Milênio
uma rara chance de deixar algo como legado. Sabe que
hoje é difícil atingi-las.
Na semana passada, divulgou a conta-gotas boas
novas sobre a queda da fome
no mundo (9,6% nos últimos
15 anos) e da mortalidade
materna (34% no período entre 1990 e 2008).
Números animadores,
sem dúvida, mas ainda distantes do que pedem as Metas, de redução pela metade
na pobreza entre 1990 e 2015,
entre outros objetivos.
Sua mensagem: estou fazendo a minha parte, e se não
der certo, não é culpa minha.
Arrematou ontem com um
discurso à Assembleia Geral
da ONU em que deu a entender que está no colo dos países ricos a responsabilidade
de o planeta atingir as Metas.
Na mesma reunião, a intervenção do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, mirou seu público interno.
Após meses destilando populismo conservador, com
expulsão de ciganos, perseguição ao véu muçulmano e
ameaça de revogação de cidadania de imigrantes, ele
ontem abraçou uma causa
célebre da esquerda mundial, a taxa Tobin.
Esse percentual sobre
transações financeiras ajudaria a atingir as Metas, disse. Não custa muito perceber
que Sarkozy busca equilibrar
suas recentes medidas extremistas de direita com outra
extremista de esquerda -cuja implementação, aliás, não
é nada realista.
O presidente precisa voltar
ao centro no debate político
em seu país, se quiser respirar eleitoralmente.
Ontem, a improvável dupla Ban-Sarkozy deixou evidente de uma vez por todas:
as Metas do Milênio transformaram-se num tema mais
político do que de desenvolvimento humano.
Texto Anterior: Presidente francês defende criação de imposto global Próximo Texto: "Le Monde": Jornal abre processo por violação Índice | Comunicar Erros
|