São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Metas hoje são tema político, e não de desenvolvimento

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

Ban Ki-moon deve estar de marqueteiro novo. O apagado secretário-geral da ONU tem nas Metas do Milênio uma rara chance de deixar algo como legado. Sabe que hoje é difícil atingi-las.
Na semana passada, divulgou a conta-gotas boas novas sobre a queda da fome no mundo (9,6% nos últimos 15 anos) e da mortalidade materna (34% no período entre 1990 e 2008).
Números animadores, sem dúvida, mas ainda distantes do que pedem as Metas, de redução pela metade na pobreza entre 1990 e 2015, entre outros objetivos.
Sua mensagem: estou fazendo a minha parte, e se não der certo, não é culpa minha.
Arrematou ontem com um discurso à Assembleia Geral da ONU em que deu a entender que está no colo dos países ricos a responsabilidade de o planeta atingir as Metas.
Na mesma reunião, a intervenção do presidente francês, Nicolas Sarkozy, mirou seu público interno.
Após meses destilando populismo conservador, com expulsão de ciganos, perseguição ao véu muçulmano e ameaça de revogação de cidadania de imigrantes, ele ontem abraçou uma causa célebre da esquerda mundial, a taxa Tobin.
Esse percentual sobre transações financeiras ajudaria a atingir as Metas, disse. Não custa muito perceber que Sarkozy busca equilibrar suas recentes medidas extremistas de direita com outra extremista de esquerda -cuja implementação, aliás, não é nada realista.
O presidente precisa voltar ao centro no debate político em seu país, se quiser respirar eleitoralmente.
Ontem, a improvável dupla Ban-Sarkozy deixou evidente de uma vez por todas: as Metas do Milênio transformaram-se num tema mais político do que de desenvolvimento humano.


Texto Anterior: Presidente francês defende criação de imposto global
Próximo Texto: "Le Monde": Jornal abre processo por violação
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.