São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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GUERRA SEM LIMITES
Germe encontrado em material enviado ao "New York Times" não oferece perigo, diz Fiocruz

Carta enviada a jornal no Rio não tinha antraz

ROSAYNE MACEDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não era antraz o microorganismo existente no material recebido na terça-feira passada pelo escritório do jornal americano "The New York Times" no Rio de Janeiro. Ao meio-dia de ontem o presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Paulo Buss, divulgou o resultado do exame de cultura do material e afirmou que foi constatada a presença de um germe que, segundo ele, não oferece perigo a seres humanos.
"No Brasil não temos bioterroristas, só bioengraçadinhos. Poderia dizer também biobabacas", disse Buss. Segundo ele, o germe existente no material enviado ao escritório do jornal americano, que ele definiu como um "contaminante ambiental" existente na natureza, já havia sido encontrado em outras das mais de 60 amostras de pó suspeitas enviadas à fundação para exame desde que começaram a aparecer as suspeitas de presença do antraz no Brasil, há duas semanas.
Buss definiu a substância encontrada no envelope enviado ao escritório do "The New York Times" como "uma sujeirinha" que estava junto com um convite. Ele disse ainda que o exame de cultura vai prosseguir e que amanhã será divulgado qual o nome do germe contido no material.

Serra
A suspeita de que a carta continha antraz surgiu anteontem, quando a direção do "The New York Times" distribuiu um comunicado interno informando ter sido comunicada por "autoridades brasileiras" que o exame preliminar feito no material recebido por seu escritório no Rio indicou a presença de "esporos compatíveis com o antraz".
Ontem à tarde o ministro da Saúde, José Serra, negou em entrevista que o governo brasileiro tenha dado essas informações ao jornal. "Não partiu do Ministério da Saúde ou da Fiocruz esse tipo de informação", afirmou.
Para ele, o jornal americano interpretou como indício da presença de antraz o fato de seus empregados terem colhido material para exame e tomado remédio contra a bactéria.
Serra iria divulgar o resultado do exame ao meio-dia de ontem, mas pouco antes a incumbência foi transferida ao presidente da Fiocruz porque o ministro teria ficado retido em São Paulo por causa do mau tempo.
Na sexta-feira, a Fiocruz negou o tempo todo o encontro de bactéria no material e a divulgação de qualquer resultado preliminar.
A carta suspeita foi postada em Nova York, no dia 5 deste mês, sem identificação do remetente, endereçada ao correspondente do "The New York Times" no Rio, Larry Rohter. Ela chegou ao escritório, em Ipanema (zona sul), na terça-feira, dia 16, e não teria chegado a ser aberta no local.
O escritório do jornal americano no Rio tem quatro funcionários. A jornalista Mery Galanternick, membro da equipe, disse que todos eles foram ao hospital São Sebastião (Caju, zona norte), especializado em tratamento de doenças epidemiológicas, para colher material da mucosa nasal para exames.
Ela confirmou que todos os funcionários foram medicados preventivamente com o antibiótico Cipro. A Folha fez contato com o correspondente Larry Rohter, mas ele preferiu não fazer nenhum declaração.



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