São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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Empresa paulista vende antiantraz pela internet

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Pânico para uns, oportunidade de lucro para outros.
Enquanto o governo norte-americano começa a combater com rigor a importação e a venda pela internet de medicamentos contra a bactéria antraz, uma revendedora brasileira de remédios ganha dinheiro nos EUA com o temor de um ataque biológico maciço.
A Pharmacy International, uma empresa de São Paulo com ramificações na Malásia, passou a vender nos EUA, pela internet e sem exigência de receita, o medicamento Cipro e outros antibióticos produzidos no Brasil que seriam eficazes no combate ao antraz.
A empresa brasileira associou-se a um comerciante de Connecticut que ganhara espaço na mídia quando sua empresa, a Defcon Tech, passou a vender máscaras de gás e "pílulas de potássio contra a radiação nuclear". Com essa associação, a empresa imaginou estar driblando leis norte-americanas que proíbem a venda de remédios estrangeiros nos EUA, mas não conseguiu conter as críticas.
"Além de serem ilegais, websites como esse lucram com o temor das pessoas", disse à Folha Carmen Catizone, diretora executiva da Associação Nacional dos Conselhos de Farmácias. "Negócios que misturam a venda de remédios com a venda de máscaras de gás são vergonhosos."

Negócio milionário
As operações das duas empresas (feitas pelo site www.defcontech.com:8080/tech) começaram dias depois que um funcionário de um tablóide na Flórida transformou-se na primeira vítima fatal da bactéria antraz. "Recebemos diariamente cerca de mil consultas e 50 pedidos", disse à Folha o empresário Paul Nash, o sócio norte-americano da empresa brasileira.
A julgar pelo preço médio de todos os remédios oferecidos no site, calcula-se que suas vendas atinjam US$ 10 mil por dia. "Nosso compromisso é permitir aos norte-americanos que garantam sua própria proteção sem esperar uma ação do governo. Se formos vítimas de um ataque bioterrorista maciço, poderá ser tarde demais."
O responsável pela Pharmacy International não atendeu os pedidos da Folha para uma entrevista. Seu primeiro nome é Jamil e ele mora em São Paulo.
Além do medicamento Cipro, da Bayer, e de sua versão genérica, o site também vende produtos como Doxycycline, outro antibiótico indicado pelo governo norte-americano como sendo eficaz no combate ao antraz.
Os remédios vendidos por Jamil e Nash são produzidos no Brasil e vendidos sem receita nos EUA. "A lei norte-americana permite a importação do suprimento pessoal de três meses de remédios não controlados", disse Nash. "O Cipro não é um medicamento controlado e, portanto, não exige receita."
A importação de remédios nos EUA sempre foi motivo de inquietação das farmácias norte-americanas que temem a competição arrasadora dos preços internacionais de medicamentos. Remédios são muito mais baratos fora dos EUA do que dentro do país.
Na sexta-feira, o governo determinou a apreensão de todos os remédios contra o antraz importados por norte-americanos e ainda não entregues.


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