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ELEIÇÃO NOS EUA
Empresas e grupos com doadores anônimos investem em segmentos em que Bush ou Kerry são favoritos
Lobbies despejam US$ 350 mi na eleição
MICHAEL MOSS
FORD FESSENDEN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON
Numa eleição em que o resultado dependerá em grande parte da
diminuição da abstenção, um
exército de grupos de interesse está investindo no mínimo US$ 350
milhões numa operação de dimensões inéditas para estimular o
comparecimento eleitoral.
O esforço inclui os dois grandes
partidos e seus aliados, grupos supostamente independentes e os
chamados 527 -artigo do código
tributário que permite descontar
contribuições do Imposto de
Renda-, que financiam os anúncios de TV para o presidente
George W. Bush e para o senador
John Kerry.
Instituições como a Câmara de
Comércio e ONGs filantrópicas
estão gastando milhões de doadores nem sempre obrigados a se
identificar. A operação inclui o
porta a porta, o envio de e-mails e
telefonemas e tem por foco segmentos de eleitores em locais com
equilíbrio entre Bush e Kerry.
O esforço chegou até Bagdá, onde um lobista republicano se esforça para que sejam apurados a
tempo os votos de 100 mil empregados de empresas americanas
em toda a região do Golfo.
Os grupos não-partidários não
podem fazer propaganda por determinado candidato. Mas acabam favorecendo um ou outro ao
enfatizarem determinada causa.
Uma coalizão filantrópica chamada National Voice está gastando US$ 80 milhões para motivar
eleitores em áreas nas quais há
bem mais eleitores de John Kerry.
A Câmara de Comércio, ao contrário, está indiretamente empenhada na reeleição de Bush. Uma
empresa de eletricidade lhe fez esta semana doação de US$ 250 mil.
Em Iowa, industriais republicanos aderiram ao Prosperity Project, entidade que tenta convencer
os empregados a votarem no candidato mais capaz de garantir empregos, no caso, para eles, Bush.
Os eleitores assediados reagem
de forma diversa. Alguns acham
positivo que sejam procurados.
Outros lamentam a perda da privacidade e a pressão que recebem
para votar antecipadamente e, assim, não precisarem comparecer
às urnas em 2 de novembro.
Iniciativas idênticas ocorreram
em 2000. Mas a dimensão e o grau
de agressividade deste ano são
inéditos. A meta desses grupos é
fazer com que votem 121 milhões
de americanos, em lugar dos 105
milhões que votaram em 2000.
Partidários de Bush e de Kerry
acusam-se mutuamente de atuar
ilegalmente, embora haja a crença
de que tais casos são minoritários
em ambos os lados.
Um exemplo: em Ohio, um procurador encontrou 65 eleitores indevidamente induzidos a votar
por antecipação. Mas descobriu
que houve uma má interpretação
dos lobistas sobre os formulários
a serem preenchidos.
Na Flórida, um grupo chamado
Associação das Organizações Comunitárias foi formado para que
nas cédulas os eleitores votem por
um aumento do salário mínimo.
A ONG criou uma subsidiária que
está registrando 90 mil eleitores
de minorias ou baixa renda.
Martin Levin, um dos doadores,
disse fazer "qualquer coisa" para
evitar a reeleição de Bush.
"Não temos idéia de quanto dinheiro foi injetado nesse circuito", diz Kent Cooper, da ONG Political Money Line, que identifica
a origem dos fundos gastos em
campanhas eleitorais.
Uma entidade supostamente
não-partidária e que investe em
eleitores com perfil democrata na
Flórida recebe doações de dois
grupos filantrópicos de outros Estados, cujos doadores são desconhecidos do IR. O mesmo ocorre
com a Pew Charitable Trust, que
está gastando agora seis vezes
mais que em 2000 para registrar
eleitores e estimulá-los a votar.
Nos Estados de resultado incerto ninguém é mais eficaz que a
ACT (America Coming Together), um grupo 527 que arrecadou US$ 125 milhões e que irá remunerar no dia das eleições 45
mil pessoas.
Entre os republicanos o esforço
é idêntico. Um comitê de ação política chamado Bipac está gastando este ano dez vezes mais que em
2000 numa operação destinada a
convencer assalariados a elegerem o candidato favorável aos interesses do mundo empresarial.
Mas o tiro pode sair pela culatra.
Denise Lamb, diretora das eleições no Novo México, acredita
que o assédio tem sido tão grande
que, como reação, os eleitores
simplesmente deixariam de votar.
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