São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Empresas e grupos com doadores anônimos investem em segmentos em que Bush ou Kerry são favoritos

Lobbies despejam US$ 350 mi na eleição

MICHAEL MOSS
FORD FESSENDEN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Numa eleição em que o resultado dependerá em grande parte da diminuição da abstenção, um exército de grupos de interesse está investindo no mínimo US$ 350 milhões numa operação de dimensões inéditas para estimular o comparecimento eleitoral.
O esforço inclui os dois grandes partidos e seus aliados, grupos supostamente independentes e os chamados 527 -artigo do código tributário que permite descontar contribuições do Imposto de Renda-, que financiam os anúncios de TV para o presidente George W. Bush e para o senador John Kerry.
Instituições como a Câmara de Comércio e ONGs filantrópicas estão gastando milhões de doadores nem sempre obrigados a se identificar. A operação inclui o porta a porta, o envio de e-mails e telefonemas e tem por foco segmentos de eleitores em locais com equilíbrio entre Bush e Kerry.
O esforço chegou até Bagdá, onde um lobista republicano se esforça para que sejam apurados a tempo os votos de 100 mil empregados de empresas americanas em toda a região do Golfo.
Os grupos não-partidários não podem fazer propaganda por determinado candidato. Mas acabam favorecendo um ou outro ao enfatizarem determinada causa.
Uma coalizão filantrópica chamada National Voice está gastando US$ 80 milhões para motivar eleitores em áreas nas quais há bem mais eleitores de John Kerry.
A Câmara de Comércio, ao contrário, está indiretamente empenhada na reeleição de Bush. Uma empresa de eletricidade lhe fez esta semana doação de US$ 250 mil.
Em Iowa, industriais republicanos aderiram ao Prosperity Project, entidade que tenta convencer os empregados a votarem no candidato mais capaz de garantir empregos, no caso, para eles, Bush.
Os eleitores assediados reagem de forma diversa. Alguns acham positivo que sejam procurados. Outros lamentam a perda da privacidade e a pressão que recebem para votar antecipadamente e, assim, não precisarem comparecer às urnas em 2 de novembro.
Iniciativas idênticas ocorreram em 2000. Mas a dimensão e o grau de agressividade deste ano são inéditos. A meta desses grupos é fazer com que votem 121 milhões de americanos, em lugar dos 105 milhões que votaram em 2000.
Partidários de Bush e de Kerry acusam-se mutuamente de atuar ilegalmente, embora haja a crença de que tais casos são minoritários em ambos os lados.
Um exemplo: em Ohio, um procurador encontrou 65 eleitores indevidamente induzidos a votar por antecipação. Mas descobriu que houve uma má interpretação dos lobistas sobre os formulários a serem preenchidos.
Na Flórida, um grupo chamado Associação das Organizações Comunitárias foi formado para que nas cédulas os eleitores votem por um aumento do salário mínimo. A ONG criou uma subsidiária que está registrando 90 mil eleitores de minorias ou baixa renda.
Martin Levin, um dos doadores, disse fazer "qualquer coisa" para evitar a reeleição de Bush.
"Não temos idéia de quanto dinheiro foi injetado nesse circuito", diz Kent Cooper, da ONG Political Money Line, que identifica a origem dos fundos gastos em campanhas eleitorais.
Uma entidade supostamente não-partidária e que investe em eleitores com perfil democrata na Flórida recebe doações de dois grupos filantrópicos de outros Estados, cujos doadores são desconhecidos do IR. O mesmo ocorre com a Pew Charitable Trust, que está gastando agora seis vezes mais que em 2000 para registrar eleitores e estimulá-los a votar.
Nos Estados de resultado incerto ninguém é mais eficaz que a ACT (America Coming Together), um grupo 527 que arrecadou US$ 125 milhões e que irá remunerar no dia das eleições 45 mil pessoas.
Entre os republicanos o esforço é idêntico. Um comitê de ação política chamado Bipac está gastando este ano dez vezes mais que em 2000 numa operação destinada a convencer assalariados a elegerem o candidato favorável aos interesses do mundo empresarial.
Mas o tiro pode sair pela culatra. Denise Lamb, diretora das eleições no Novo México, acredita que o assédio tem sido tão grande que, como reação, os eleitores simplesmente deixariam de votar.


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