São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Conclusão provisória de investigação exclui falhas estruturais como fator central no desabamento das torres

Relatório isenta projeto de culpa pela queda do WTC

ERIC LIPTON
DO "NEW YORK TIMES"

Depois de conduzir a mais sofisticada análise de construção de edifício na história dos EUA, investigadores federais chegaram à visão mais clara até agora da seqüência de eventos que conduziu à queda das torres do World Trade Center, excluindo em grande medida uma falha de projeto nos edifícios como fator crucial.
Desde o atentado de 11 de setembro de 2001, as famílias das vítimas e alguns especialistas em segurança em incêndios vinham difundindo dúvidas quanto à possibilidade de uma proteção insuficiente contra incêndios ou uma fraqueza incomum nos pisos inovadores e leves do edifício terem desempenhado papel crítico.
Em lugar disso, a conclusão temporária dos investigadores, apresentada em quase 500 páginas de documentos divulgadas anteontem, é que as torres caíram porque as colunas estruturais do cerne dos edifícios, danificadas pelo impacto dos aviões, se deformaram e encurtaram sob o efeito dos incêndios, como isso deslocando uma carga maior para as colunas externas que eram características das torres. Essas colunas externas acabaram por sofrer um estresse e calor tão extraordinários que cederam.
Baseada na análise de milhares de fotos e vídeos, no exame de quase todos os elementos usados para construir as torres e na construção de cuidadosos modelos computadorizados dos impactos dos aviões e dos incêndios que se alastraram, a análise ainda não está completa -deve ficar pronta no final do ano.
O chefe da investigação, S. Shyam Sunder, e outros engenheiros que estudaram o colapso das torres disseram que as evidências apontam cada vez mais para a idéia de que as estruturas gigantes apresentaram desempenho relativamente bom em 11 de setembro de 2001, em vista das condições extremas que enfrentaram, incluindo temperaturas que superaram 1.000C.
Os investigadores disseram que é certo que elementos do projeto e da construção das torres ajudaram a determinar o tempo que os edifícios se conservaram em pé. Para eles, edifícios que tivessem sido projetados de outra maneira -por exemplo com poços de escadas de emergência mais protegidos e espaçados- poderiam ter resultado em menos mortes.
Mas as falhas mais graves identificadas no World Trade Center não dizem respeito à concepção ou à construção das torres. Elas foram identificadas principalmente na reação dos departamentos de polícia e de bombeiros de Nova York, prejudicada por um sistema de comando inadequado, equipamentos de comunicação pouco confiáveis e um sistema de repasse de informações e instruções que não comportou a sobrecarga naquele dia.
Mas as descobertas não exoneram de culpa nem os projetistas nem a proprietária dos edifícios, a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, que, ao defender o projeto do WTC, nos anos 1960, afirmava que a obra projetada seria tão forte que as torres poderiam ser atingidas por um avião a jato deslocando-se a 960 km/h sem cair ou colocar em risco a vida de seus ocupantes, fora da zona do impacto.
Sally Regenhard, que fundou o grupo Campanha de Segurança em Arranha-Céus, em homenagem a seu filho Christian Regenhard, bombeiro que foi uma das 2.749 vítimas do atentado, disse que não está disposta a admitir que não havia falhas fundamentais no design dos edifícios.
"Ainda é muito cedo para concluir que a culpa não foi dos edifícios ou que não havia nada de errado com eles", disse ela.
Os investigadores já examinaram praticamente todos os elementos possíveis que poderiam ter ajudado a provocar a queda, entre eles o aço utilizado nas colunas.


Tradução de Clara Allain


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