São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

Itamaraty quer acelerar reconstrução

Brasil negocia com Banco Mundial liberação de verba para o Haiti

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

O Brasil lançou ofensiva diplomática para acelerar o início de obras de infra-estrutura no Haiti e tentar assegurar uma "conciliação nacional" para a realização das eleições previstas para novembro de 2005, mas ameaçadas pela crescente violência no país.
Na semana passada, o embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Abdenur, se reuniu com o presidente do Banco Mundial (Bird), Enrique Iglesias, e pediu que a verba -de mais de US$ 100 milhões- seja liberada urgentemente para projetos rodoviários, energéticos e de coleta de lixo.
O Itamaraty avalia que é necessária uma flexibilização dos procedimentos do Bird. Sem citar o Bird, o chanceler Celso Amorim, cobrou, na semana passada, a liberação imediata de recursos para o Haiti. Segundo o porta-voz do Itamaraty, Ricardo Neiva Tavares, "há muita disposição de ajudar o Haiti" no Bird.
Além disso, a diplomacia brasileira decidiu enviar um mediador ao país. O escolhido foi Ricardo Seitenfus, especialista em relações internacionais. Deve chegar hoje ao Haiti, onde ficará durante três semanas assessorando o chefe diplomático da missão da ONU, o chileno Juan Gabriel Valdez. Seitenfus quer se reunir com lideres das principais forças políticas.
Também está prevista uma visita do assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia. Deve chegar a Porto Príncipe no fim da semana que vem. Na semana passada, o Itamaraty já havia enviado o embaixador José Eduardo Felício, do gabinete de Amorim.
Desde o fim de setembro, partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide têm feito violentos protestos em Porto Príncipe, que já deixaram dezenas de mortos. Um soldado brasileiro foi baleado, mas já foi reintegrado à tropa.
Ontem foram ouvidos tiros num bairro em que se concentram os simpatizantes de Aristide. A polícia local disse precisar de mais ajuda, citando penúria de armas e problemas com oficiais que, supostamente, estão colaborando com gangues armadas.
Outro grupo que preocupa é o dos ex-militares, que controlam a cidade de Petit-Goâve (oeste de Porto Príncipe) e vêm ameaçando atacar os partidários de Aristide, a quem eles ajudaram a depor com um violento levante. Segundo a inteligência militar brasileira, há o risco do aumento no número de ataques violentos aos "capacetes azuis" nos próximos seis meses.
Para o Itamaraty, no entanto, a ofensiva diplomática está dentro do que foi previsto inicialmente, quando o Brasil assumiu o comando militar da missão da ONU no Haiti. "Sempre dissemos que a missão no Haiti era de médio e longo prazo, de reconstrução do país", disse Tavares.
Ele também negou que o envio de Seitenfus esteja ligado a declarações recentes do comandante da Minustah, o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ligando a violência a declarações do candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry.


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