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Morales e oposição anunciam referendos de Carta em 2009
Presidente desiste de re-reeleição e abre caminho para acordo no Congresso
Constituição não mexerá em terra produtiva, diz governo; pacto garantiria votos, porém oposicionistas de Santa Cruz e Chuquisaca não aderem
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Governistas e representantes da oposição do Congresso
da Bolívia fecharam acordo ontem para realizar em janeiro de
2009 os dois referendos que
faltam para promulgar a nova
Constituição.
A promessa do presidente
Evo Morales de desistir de disputar dois mandatos sob o novo
texto constitucional além de
concessões e ajustes em temas
como regime fundiário, autonomia administrativa departamental e limites para Justiça
indígena foram decisivos para o
entendimento. No entanto, o
Podemos, a maior bancada
opositora, rachou na negociação por conta da pressão de
grupos regionais radicais.
Não endossaram o acordo final nem a maior parte dos parlamentares podemistas do departamento de Santa Cruz-o
mais rico bastião oposicionista- nem os de Chuquisaca
-que abraçou a causa de voltar
a sediar todos os Poderes nacionais em sua capital, Sucre.
Ainda assim, tanto governistas como oposicionistas afirmavam ter os votos necessários
para aprovar a convocatória. A
sessão conjunta do Congresso
sobre o tema não havia acabado
até o fechamento desta edição.
"Conseguimos um texto de
consenso ao menos para submeter ao povo. Tarija votou pela pacificação do país", disse o
senador tarijenho Roberto
Ruiz, também do Podemos.
Do lado de fora do Legislativo, em La Paz, centenas de milhares de apoiadores do governo comemoravam o acordo
após encerrar uma semana de
marcha em defesa da Carta
-eles ameaçaram várias vezes
cercar o prédio se não fossem
atendidos. Morales, que liderou os últimos quilômetros da
passeata, pediu que os simpatizantes esperassem reunidos no
local até a promulgação da lei
dos referendos.
Se aprovada de fato no Congresso, a lei cumpre etapa crucial no processo de quase três
anos de disputa entre oposição
e governo em torno da Constituição, com incontáveis protestos e episódios de violência.
Pelos planos, em 25 de janeiro de 2009 a população responderá a duas perguntas. A primeira: qual o tamanho máximo
de fazendas na Bolívia, 5.000
ha ou 10.000 hectares?
Para convencer a oposição ligada a grandes proprietários de
terra a aceitar a consulta, o governo deixou claro no texto que
fazendas produtivas, mesmo
que ultrapassem qualquer dos
limites, não serão afetadas.
A notícia deve aliviar parte
dos grandes sojicultores brasileiros em Santa Cruz. "As terras
vão passar por um censo. Não é
lei confiscatória, é regulatória",
explicou à Folha o deputado
governista Gustavo Torrico.
A população também dirá se
está de acordo ou não com o
texto total da Carta, a principal
promessa de governo de Morales, que propõe ampliar os direitos dos povos originários
-62% dos bolivianos dizem
pertencer a um povo indígena.
Além dos dois referendos, as
forças políticas no Congresso
concordaram em convocar
eleições gerais para dezembro
de 2009. O acerto, negociado
nos últimos 12 dias, tomou
contornos finais quando Morales prometeu não concorrer a
dois novos mandatos de cinco
anos uma vez ratificada a nova
Carta (a seqüência lhe permitiria governar até 2019).
A nova Constituição prevê
reeleição para presidente uma
vez só. Os governistas defendiam que o atual mandato de
Morales, eleito em 2005, não
deveria entrar na conta, mas
acabaram cedendo. Agora, no
máximo, o presidente poderia
esticar sua estadia no poder até
o fim de 2014.
Os governistas aceitaram
mudar, segundo a contabilidade dos jornais locais, 105 dos
411 artigos aprovados pela Assembléia Constituinte em
2007, em sessão sem a presença do Podemos. A mais extensiva alteração ocorreu nos regimes de autonomia administrativa, a maior bandeira dos governadores opositores de Santa
Cruz, Tarija, Beni e Pando.
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