São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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"Brasiguaios" temem que invasões se alastrem

Produtores brasileiros no Paraguai receiam que ações de sem-terra se espalhem de San Pedro a resto do país

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O anúncio de invasões de terras a partir desta semana por grupos sem terra do departamento de San Pedro, no Paraguai, tornou ainda mais tensa a situação de produtores brasileiros no país vizinho.
O temor dos "brasiguaios" é que as ações dos sem-terra -há várias organizações camponesas no Paraguai- se alastrem por áreas em que os conflitos pareciam resolvidos.
É o caso das cidades de Maracaju e Porto Índio, no departamento de Alto Paraná, onde um acordo há duas semanas conteve as invasões. O acerto entre o governo paraguaio, os sem-terra e os produtores brasileiros permitiu que o plantio na área fosse retomado.
Após um mês de trabalho sob proteção policial, Aldo Maia, que tem 1.010 hectares em Porto Índio, voltou à atividade sem amparo da Polícia Nacional do Paraguai.
Maia disse ter orientação de sua advogada para não dar entrevistas, mas afirmou que o acordo possibilitou a saída dos sem-terra de sua fazenda. Em troca, disse, irá reflorestar uma área que separa sua propriedade de um assentamento de sem-terra. Na mesma região, um camponês foi morto há 15 dias em conflito durante desocupação de uma fazenda pela polícia paraguaia.
""Agora que as coisas se acalmaram, essa movimentação em San Pedro pode reverter o quadro por aqui", disse Jaime Pavei, ex-presidente da Associação de Produtores de Maracaju. Para ele, o governo paraguaio, por meio do Indert (Instituto de Desenvolvimento Rural e de Terras), órgão equivalente ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Brasil, deve ter uma posição clara sobre a questão.
""Esse quadro de incerteza não dá respaldo para o agricultor trabalhar. E isso prejudica os produtores e a economia como um todo", reclama.

Pedágio
Em San Alberto (Alto Paraná), a cerca de cem quilômetros de Foz do Iguaçu (PR), produtores brasileiros acusam os sem-terra paraguaios de proibir o acesso às suas terras.
""A situação é crítica. E, se não houver uma ação oficial, pode ficar ainda mais grave", afirmou Moacir Fernandes. Segundo o produtor, agricultores brasileiros são obrigados a pagar "pedágio" de US$ 1.000 a US$ 2.000 para plantar e colher em suas próprias lavouras.
Dono de 126 hectares de terras no Paraguai, Fernandes participa de uma comissão em San Alberto que, a exemplo de Maracaju, tenta solucionar os conflitos. ""O quadro aqui é tão tenso que tive de enviar minha família para o Brasil. Já sofri ameaças por participar da comissão."
A Folha procurou ontem o presidente do Indert, Alberto Alderete, para que comentasse as queixas dos produtores brasileiros. No escritório do órgão em Assunção, a informação era que ele estava em viagem oficial pelo interior do país com o presidente Fernando Lugo, com celular fora de área.


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