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"Brasiguaios" temem que invasões se alastrem
Produtores brasileiros no Paraguai receiam que ações de sem-terra se espalhem de San Pedro a resto do país
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O anúncio de invasões de terras a partir desta semana por
grupos sem terra do departamento de San Pedro, no Paraguai, tornou ainda mais tensa a
situação de produtores brasileiros no país vizinho.
O temor dos "brasiguaios" é
que as ações dos sem-terra -há
várias organizações camponesas no Paraguai- se alastrem
por áreas em que os conflitos
pareciam resolvidos.
É o caso das cidades de Maracaju e Porto Índio, no departamento de Alto Paraná, onde um
acordo há duas semanas conteve as invasões. O acerto entre o
governo paraguaio, os sem-terra e os produtores brasileiros
permitiu que o plantio na área
fosse retomado.
Após um mês de trabalho sob
proteção policial, Aldo Maia,
que tem 1.010 hectares em Porto Índio, voltou à atividade sem
amparo da Polícia Nacional do
Paraguai.
Maia disse ter orientação de
sua advogada para não dar entrevistas, mas afirmou que o
acordo possibilitou a saída dos
sem-terra de sua fazenda. Em
troca, disse, irá reflorestar uma
área que separa sua propriedade de um assentamento de
sem-terra. Na mesma região,
um camponês foi morto há 15
dias em conflito durante desocupação de uma fazenda pela
polícia paraguaia.
""Agora que as coisas se acalmaram, essa movimentação
em San Pedro pode reverter o
quadro por aqui", disse Jaime
Pavei, ex-presidente da Associação de Produtores de Maracaju. Para ele, o governo paraguaio, por meio do Indert (Instituto de Desenvolvimento Rural e de Terras), órgão equivalente ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) no Brasil, deve ter uma
posição clara sobre a questão.
""Esse quadro de incerteza
não dá respaldo para o agricultor trabalhar. E isso prejudica
os produtores e a economia como um todo", reclama.
Pedágio
Em San Alberto (Alto Paraná), a cerca de cem quilômetros
de Foz do Iguaçu (PR), produtores brasileiros acusam os
sem-terra paraguaios de proibir o acesso às suas terras.
""A situação é crítica. E, se não
houver uma ação oficial, pode
ficar ainda mais grave", afirmou Moacir Fernandes. Segundo o produtor, agricultores
brasileiros são obrigados a pagar "pedágio" de US$ 1.000 a
US$ 2.000 para plantar e colher em suas próprias lavouras.
Dono de 126 hectares de terras no Paraguai, Fernandes
participa de uma comissão em
San Alberto que, a exemplo de
Maracaju, tenta solucionar os
conflitos. ""O quadro aqui é tão
tenso que tive de enviar minha
família para o Brasil. Já sofri
ameaças por participar da comissão."
A Folha procurou ontem o
presidente do Indert, Alberto
Alderete, para que comentasse
as queixas dos produtores brasileiros. No escritório do órgão
em Assunção, a informação era
que ele estava em viagem oficial pelo interior do país com o
presidente Fernando Lugo,
com celular fora de área.
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