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Com a França parada, Sarkozy diz que não recua
Um terço dos servidores franceses adere a greve de 24 horas contra projetos que cortam gastos com funcionalismo
Movimento grevista afeta os aeroportos e atrai 65% dos professores da educação primária; presidente chama sindicatos de "minoria"
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Depois de uma semana de
paralisação dos transportes públicos, os demais servidores engrossaram ontem o contingente de grevistas na França.
Diante da adesão de um terço
dos funcionários públicos a
uma paralisação de 24 horas
que se opõe a projetos do governo que visam diminuir os gastos com o funcionalismo e levar
as universidades públicas a arrecadar verbas com a iniciativa
privada, o presidente Nicolas
Sarkozy falou pela primeira vez
sobre o movimento.
Em discurso diante de prefeitos, Sarkozy disse que não
recuará em suas propostas.
"Não cederemos. Não recuaremos", afirmou. A tônica de negociador duro, que foi a marca
de sua campanha à Presidência,
marcou o pronunciamento.
"Permanecerei determinado
até o fim, mas aberto, porque
esse é o meu dever. Mas também digo que é preciso terminar uma greve quando começa
a hora da discussão", argumentou o presidente.
O presidente conservador
disse ainda que "a França precisa das reformas para enfrentar os desafios impostos a ela
pelo mundo" e chamou os grevistas de "minoria", que "não
pode impor sua lei à maioria".
Aeroportos
Ontem, em média 1 em cada 3
funcionários públicos cruzou
os braços. No Ministério da
Educação, 39% aderiram à greve, com a maior taxa de participação, quase 65%, registrada
entre professores primários.
Nos outros ministérios, a média de grevistas também ficou
em um terço do efetivo total.
Já entre os empregados dos
Correios, o número de grevistas foi relativamente pequeno,
cerca de 15%. Médicos e profissionais da saúde também foram
convocados para participar da
mobilização, mas o serviço não
chegou a ser interrompido.
Problema maior foi a mobilização dos controladores de vôo,
que provocou atrasos e cancelamentos nos principais aeroportos de Paris: Orly e Charles
de Gaulle. Para sorte dos passageiros, a greve teve baixa adesão entre os empregados encarregados das bagagens. Na França, a aviação aérea civil é garantida pelo Estado. Os empregados da DGAC (Direção Geral de
Aviação Civil), submetida ao
Ministério dos Transportes,
são servidores públicos.
Seguindo a tradição francesa
de protestar nas ruas, os grevistas, ao lado de estudantes universitários e secundaristas, manifestaram-se nas principais cidades do país. Em Paris, a marcha partiu da Place d'Italie, ao
sul da cidade, em direção ao
centro. De acordo com Bernard
Thibault, secretário-geral da
central sindical CGT, foram
700 mil manifestantes. Mas,
segundo a Direção Nacional da
Polícia Geral, os protestos reuniram 375 mil pessoas.
Poder aquisitivo
A paralisação dos servidores
tem como motivação o temor
de empobrecimento da categoria . As centrais sindicais exigem maiores reajustes salariais
porque denunciam uma perda
de 6% no poder aquisitivo desde 2000. Em 2007, reclamam
os sindicalistas, a política salarial do governo concedeu um
magro aumento de 0,8% para
os servidores.
"Nos últimos seis anos, os
funcionários públicos franceses têm sofrido com uma austeridade severa da política salarial. Os salários não acompanharam a alta dos preços, especialmente em setores como habitação e alimentação", avalia
Guillaume Duval, responsável
pela publicação "Alternatives
Economiques".
A questão da queda do poder
aquisitivo foi um tema central
da campanha de Sarkozy e figura entre as principais inquietações dos franceses.
Pacote
Outro foco de tensão que motivou a greve desta terça é o
anúncio do corte de 22 mil postos da função pública defendido pelo presidente Nicolas Sarkozy para 2008. Essa redução
dos quadros do funcionalismo
atinge principalmente os professores primários.
O confronto entre os grevistas e o governo põe em xeque o
pacote de reformas liberais
proposto por Sarkozy e o seu
relacionamento com os servidores, que compõem um quinto da força de trabalho no país e
são uma das categorias mais
atingidas pelo projeto de reestruturação do Estado francês.
O projeto foi o ponto principal da plataforma eleitoral de
Sarkozy, que, com 53% dos votos, derrotou a socialista Ségolène Royal no segundo turno da
eleição presidencial de maio.
Mesmo então já se prenunciava
que a implementação das reformas provocaria a atual queda-de-braço entre o governo e os
sindicatos.
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