São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Bogotá dá prazo a Chávez para soltar reféns

Presidência da Colômbia diz que venezuelano tem até dezembro para mostrar resultados na mediação com as Farc

Governo colombiano acusa Chávez de revelar segredo, mas confirma autorização, sob condições, para reunião entre guerrilheiro e Chávez

Eric Fefekberg/France Presse
Chávez e Sarkozy, antes de reunião na qual francês disse que prova de vida da franco-colombiana Ingrid Betancourt é indispensável

DA REDAÇÃO

A exposição de desencontros entre o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e o colega Hugo Chávez foi o saldo não esperado da visita do venezuelano ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, ontem em Paris. O objetivo da visita era tratar da negociação para a troca de 45 reféns em poder das Farc por guerrilheiros presos.
A falta de afinação entre Bogotá e Caracas nas tratativas com a guerrilha começou a ficar evidente anteontem quando, irritado com declarações de Chávez em Paris, Uribe afirmou, em comunicado, que o venezuelano havia revelado um "segredo" das negociações. O comunicado fixou o mês de dezembro como data-limite para que a mediação de Chávez para a libertação de reféns, entre eles a franco-colombiana Ingrid Betancourt, tenha resultado concreto. O venezuelano participa da negociação desde agosto, a pedido de Uribe.
A reação colombiana surgiu momentos após Chávez dizer, anteontem, que Uribe havia autorizado um encontro entre ele e o chefe máximo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Manuel Marulanda, 77, o "Tirofijo", do qual até o presidente colombiano participaria. Bogotá disse que um possível encontro com Marulanda era "para ser tratado em segredo como ferramenta de negociação". Fez reparos: afirmou que Uribe só se encontraria com o guerrilheiro "sempre e quando estivessem livres todos os seqüestrados das Farc".
Ontem, Chávez afirmou que jamais lhe pediram segredo sobre a reunião e que libertar todos os reféns antes do encontro não fazia sentido. "É bom não se impacientar", disse sobre o prazo dado por Uribe. Depois, porém, amenizou as declarações: "Uribe não vai a Caguán [lugar da reunião]. O que eu interpretei é que ele poderia ir". E fez um apelo: "Uribe, meu amigo, Uribe, Uribe, me deixa ir ver Marulanda".
Mais tarde, foi a vez da Presidência colombiana ampliar o comunicado do dia anterior, agradecendo o papel de Chávez na questão e atacando as Farc. Apesar de reiterar que o plano era segredo, a nota disse que, uma vez divulgado, era preciso explicá-lo melhor.
Segundo o governo colombiano, a reunião com Marulanda só ocorrerá se as Farc liberarem um primeiro grupo de reféns unilateralmente, se comprometerem a soltar todos os seqüestrados depois, inclusive três cidadãos americanos, e tomar o encontro como começo de um processo de paz.

Encontro com Sarkozy
Desde que Chávez começou a mediar o conflito, um encontro dele com os líderes máximos das Farc é discutido. Bogotá, porém, afirmou várias vezes que não tinha como garantir a segurança dos guerrilheiros na reunião, daí a importância da autorização, ainda que com exigências consideradas muito altas para as Farc. (É sabido que a opção preferida por Uribe para o resgate de reféns é ainda a militar, baseado no sucesso de operações recentes, como a que libertou o atual chanceler Fernando Araújo).
Uma hipótese para a suposta inconfidência de Chávez é que o venezuelano -ávido por sucesso na operação que lhe projeta positivamente sobretudo na Europa- tenha tentado forçar um compromisso público de Uribe com o encontro entre ele e chefes da guerrilha. Para o jornal colombiano "El Tiempo", a revelação de Chávez foi uma estratégia para não chegar de mãos vazias à reunião com Sarkozy, que desde a campanha presidencial francesa fez da libertação de Ingrid Betancourt tema prioritário.
A expectativa entre os familiares da franco-colombiana era que Chávez levasse uma prova de vida da refém, o que não ocorreu. O venezuelano disse ter certeza de que ela está viva e que as Farc prometeram provas disso até o fim do ano. O porta-voz de Sarkozy -o presidente não se pronunciou após o encontro ontem- "encorajou" Chávez a continuar a mediação, mas disse também que as provas de vida eram "indispensáveis" para sinalizar a boa-fé da guerrilha.
O posicionamento do presidente francês é central. Foi principalmente a pressão de Sarkozy que empurrou Uribe ao diálogo com as Farc mediado por seu antípoda ideológico, mas de estilo afim, Chávez.


FLÁVIA MARREIRO, com agências internacionais


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