São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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Ex-presa faz campanha por solturas no Irã

Roxana Saberi afirma que a relação do Brasil com o país persa não deve excluir proteção aos direitos humanos

Acusada de espionagem pró-EUA, a jornalista foi condenada, mas teve a pena comutada depois de cem dias na prisão

Letícia Moreira/Folhapress
Roxana Saberi, iraniano-americana, diz se sentir responsável por outros presos iranianos

CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO

Filha de pai iraniano e mãe japonesa, nascida nos EUA há 33 anos, Roxana Saberi teve uma trajetória de reviravoltas.
Em busca de uma bolsa acadêmica, foi miss Dakota do Norte em 1997. Fez mestrado em jornalismo e em relações internacionais, e mudou-se para o Irã como repórter em 2003, na Presidência do reformista Mohammad Khatami. Ficou no país para escrever um livro depois que sua credencial foi cassada no governo do conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Presa em janeiro de 2009, Saberi foi acusada de espionar. No pavilhão 209 da prisão de Evin, sofreu tortura psicológica e assinou confissão -ato do qual se arrependeu ao ver a resiliência das presas de consciência iranianas, e que negou no tribunal.
Teve a pena de oito anos comutada após cem dias, depois de forte pressão internacional.
Ela conta sua história em "Entre Dois Mundos" (editora Larousse), livro que veio lançar no Brasil, trazendo sua campanha para a libertação dos cerca de 500 presos políticos iranianos, incluindo duas antigas companheiras de cela, Mahvash Sabet and Fariba Kamalabadi, da religião Baha'i.
"Sinto que tenho uma responsabilidade [com os que ficaram]", diz Saberi, que cita também o blogueiro Hossein Derakhshan, condenado a nove anos, e a jornalista Jile Yagoob, condenada a um ano de prisão.
Abaixo, trechos da entrevista de Saberi à Folha feita em São Paulo, na sexta, após conversa com a Redação.

 

FOLHA - Você se definiria hoje como jornalista ou ativista?
Roxana Saberi
- É difícil dizer porque ainda escrevo para jornais, normalmente artigos de opinião. De certo modo, sou agora uma defensora dos direitos humanos no Irã porque seria difícil sair daquela situação e não dizer nada sobre as pessoas que ficaram para trás. Sinto que tenho uma responsabilidade.

O governo brasileiro argumenta que prefere agir nos bastidores do que denunciar violações. Qual sua opinião?
O governo brasileiro se absteve na resolução de um comitê da ONU que condenou violações no Irã. Por quê? Como tem boas relações com o Irã, suas palavras têm peso. Direitos humanos são universais, e todos os governos devem não apenas observá-los como defendê-los internacionalmente.

A melhor política é isolar o Irã ou manter relações?
Acho que os governos devem atuar multilateralmente; usar fóruns como o Conselho de Direitos Humanos da ONU para aprovar resoluções contra as violações e a ida de um relator especial ao Irã. A porta para negociações deve estar aberta, mas os direitos humanos sempre devem estar no topo.

Reportagens nos EUA indicam que o governo têm operações secretas no Irã. Isso ajuda a causa da democracia?
Sei que as autoridades iranianas, quando ouvem essas informações, gostam de usá-las para seu argumento de que o regime está sob ameaça de espiões. Em nome da proteção à segurança nacional, aumentam a repressão contra os críticos. Do outro lado, tenho certeza de que o Irã tem espiões por todo o mundo, meus próprios captores falaram isso.

Ainda acredita na possibilidade de reforma pacífica no Irã?
Depende de muitos fatores e do que o povo iraniano decidir. É imprevisível. Mas acho inevitável que o país caminhe para um sistema mais democrático. Dois terços da população têm menos de 30 anos. Parte apoia o sistema, mas muitos não estão satisfeitos. As mulheres estão cada vez instruídas, respondem por 65% das matrículas na universidade.

Como o programa nuclear e as sanções são vistas pela população iraniana em geral?
Vi muito apoio de iranianos comuns ao programa nuclear, mas as condições variam. Alguns diziam que o país deveria manter o programa apesar das sanções, pois é seu direito. Uma minoria defendia a construção de armas. Muitos defendiam o direito à energia nuclear. Acho que as sanções estão começando a apertar. Temos que ver qual será a reação.

Folha.com
Leia íntegra da entrevista com Roxana Saberi
folha.com.br/ mu833599

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