São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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Chávez pede a Lula "clube de amigos"

DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O presidente Hugo Chávez solicitou a Marco Aurélio Garcia, emissário especial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que o governo brasileiro tente organizar uma espécie de "clube de amigos da Venezuela", para ajudar a romper o impasse em que o país está mergulhado.
O pedido foi feito durante o jantar no Palácio de Miraflores, a sede governamental, anteontem, o segundo encontro no mesmo dia entre Marco Aurélio (mais o embaixador Ruy Nogueira) e o presidente venezuelano.
Não está claro ainda o formato que o clube poderá adotar, embora dois nomes de governantes já tenham saltado como convidados naturais a participar da iniciativa: o chileno Ricardo Lagos e o francês Jacques Chirac, ambos tidos como simpáticos a uma solução aceitável para Chávez.
Os EUA, decisivos em crises, em especial na América Latina, têm adotado posições erráticas na crise venezuelana, mas, assim mesmo, Chávez foi aconselhado a não provocar Washington.

Correlação de forças
A análise feita pelo emissário de Lula é a de que está surgindo uma nova correlação de forças na região, com a ascensão de Lula e do equatoriano Lucio Gutiérrez, com a eventual manutenção do próprio Chávez e mais, talvez, o novo presidente argentino.
Não é uma configuração antiamericana, mas também não é de alinhamento automático e cego.
Os EUA chegaram a defender de público eleições antecipadas, como quer a oposição venezuelana, mas recuaram depois. No entanto a agência de notícias Reuters atribuiu ontem a uma fonte não-identificada de Washington a informação de que, nos bastidores, os EUA continuam trabalhando por uma eleição antecipada.
A proposta do clube de amigos será agora levada por Marco Aurélio a Lula, que deverá se reunir com Chávez no dia 2, em Brasília, já que o venezuelano confirmou que irá à posse do brasileiro.
Antes, no entanto, tanto o atual como o futuro governo brasileiro estão se empenhando para atender os pedidos materiais de Chávez ao Brasil, especialmente e com urgência, um navio-tanque carregado de gasolina, para garantir o cada vez mais escasso abastecimento de combustível.

Com a oposição
Marco Aurélio fechou ontem o circuito de conversações com os governistas ao se reunir com Willian Lara, presidente da Assembléia Nacional (o Congresso unicameral criado pela nova Constituição aprovada após a ascensão de Chávez ao poder).
Lara mostrou-se bastante conciliador, dando ao emissário brasileiro "a impressão de que quer construir um espaço para a negociação institucional" entre governo e oposição.
Mas o deputado disse também que, dos dois lados, há setores radicalizados que, a qualquer momento, podem cometer uma violência capaz de incendiar de vez uma situação já volátil.
Hoje, o emissário de Lula inicia as conversas com a oposição. Toma café da manhã com Teodoro Petkoff, que foi guerrilheiro nos anos 60, depois criou o MAS (Movimento ao Socialismo, uma agrupação com alguma semelhança com o PT brasileiro), para, por fim, passar ao liberalismo (foi ministro de Planejamento no governo Rafael Caldera, antecessor de Chávez).
Petkoff faz oposição a Chávez, mas de uma maneira tida como não-golpista.
Marco Aurélio vai se reunir também com dois deputados da Ação Democrática, tradicional partido social-democrata que forneceu a maior parte dos presidentes da Venezuela na segunda metade do século passado.
Hoje, a AD está muito enfraquecida, varrida como todos os partidos tradicionais pela ascensão do "chavismo". (CR)


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