São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

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GUERRA SEM LIMITES

Greenpeace, Peta e até grupo vegetariano foram investigados, segundo documentos oficiais obtidos por ONG

FBI monitorou ativistas, afirma "Times"

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Na medida em que cresce o debate sobre o amparo jurídico da espionagem praticada nos EUA com autorização do presidente George W. Bush, surgem novas evidências de excessos cometidos por forças de segurança contra cidadãos americanos nos meses seguintes aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Documentos divulgados pelo FBI (polícia federal dos EUA) mostram que grupos como o Greenpeace e associações de proteção aos animais tiveram suas atividades monitoradas de perto, segundo reportagem publicada ontem pelo "New York Times".
Um dos relatórios do FBI indica que agentes em Indianápolis planejavam conduzir vigilância de pessoas relacionadas no "Projeto comunidade vegan".
Em outro documento, comenta-se a "ideologia semicomunista" do grupo Trabalhadores Católicos. Um terceiro relatório, ainda, indica o interesse do FBI em descobrir a localização de um protesto contra o uso de pele de lhama que era planejado pelo Peta (pessoas pelo tratamento ético de animais, da sigla em inglês).
Os documentos divulgados ontem foram obtidos pela Aclu (União de Liberdades Civis Americanas), uma prestigiosa ONG com tradição em fiscalização de atos do governo. Parte deles foi repassada ao "New York Times".
A papelada, obtida por meio da Foia (lei sobre a liberdade de informação), contém mais documentos que devem ser divulgados amanhã pela Aclu. Mas não há muitas pistas sobre os motivos que levaram o FBI a espionar os grupos. Os papéis liberados pelo FBI são, sempre segundo o jornal nova-iorquino, muito editados, dificultando a compreensão.
Indagado, o FBI informou que muitas vezes o fato de uma organização ser citada em um documento não significa que ela esteja sob investigação. E que os grupos foram monitorados a partir de indícios de crimes e terrorismo ou prática de crimes ou violência em protestos e outras atividades.
A justificativa, obviamente, provocou protestos das ONGs, muitas deles com bandeiras de pacifismo e não-violência.
Os documentos indicam que o FBI usou empregados e estagiários de grupos como o Greenpeace para obter pistas sobre potenciais ligações com atividades criminosas.
No caso do Greenpeace, por exemplo, conhecido por atos de desobediência civil como entrar em navios de carga para pendurar faixas de protesto, os arquivos indicam que o FBI buscava elos entre membros da ONG e militantes de grupos como Frente de Libertação da Terra e Frente de Libertação Animal.

Governo na mira
O caso de uso de agências de inteligência para monitorar ONGs é mais uma denúncia do "New York Times" sobre a inteligência norte-americana. Na sexta-feira, o jornal revelou a existência de um programa de espionagem da NSA (Agência de Segurança Nacional) de contatos telefônicos e eletrônicos de moradores dos EUA com estrangeiros.
São acusações que se somam contra a administração do presidente Bush. Na semana passada veio à tona denúncia de que o Pentágono havia monitorado grupos pacifistas e seus protestos contra a guerra no Iraque. Antes, a suposta existência de prisões secretas da CIA (Agência Central de Inteligência) na Europa e de prática de tortura contra suspeitos de terrorismo suscitou polêmica.


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