São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Sob investigação, queixas podem levar minoria a deixar processo político e violência sectária a crescer

Sunitas citam fraude e pedem nova eleição em Bagdá

DA REDAÇÃO

Sob a ameaça de intensificar a violência sectária, grupos árabe-sunitas exigiram ontem novas eleições parlamentares na Governadoria (Província) de Bagdá, alegando a ocorrência de fraudes na votação da última quinta-feira, quando 11 milhões de iraquianos foram às urnas escolher a nova Assembléia Nacional do país.
Representantes da comissão eleitoral registraram mais de mil queixas de fraude e violação eleitoral em todo o país, mas disseram que "só 20 são muito graves".
O embaixador dos EUA no Iraque, Zalmay Khalilzad, disse que os resultados finais não serão anunciados até que todas as queixas graves sejam investigadas. Segundo a comissão, isso não deve ocorrer antes de janeiro.
"Vamos exigir que as eleições sejam conduzidas outra vez em Bagdá", disse Adnan al Dulaimi, líder da Frente pelo Acordo no Iraque (FAI), chamando o resultado preliminar de "falsificação dos desejos da população".
Os árabes sunitas são pouco menos de 20% dos iraquianos, enquanto os árabes xiitas perfazem quase 60% da população. Outros 15% também são sunitas, mas de etnia curda e alinhados aos xiitas, que, como eles, defendem a autonomia regional. Já os árabes sunitas temem que a autonomia lhes tire acesso ao petróleo.
Bagdá é o maior colégio eleitoral iraquiano, e sua divisão étnico-religiosa reflete a do país, o que a torna um espelho razoável dos resultados finais. A única diferença considerável é a participação dos curdos -maioria no norte, eles não são significativamente representativos na região da capital.
Com quase 90% dos votos apurados na Província, a FAI, principal coalizão árabe-sunita, está em segundo lugar, com 18,98% das preferências. Em primeiro, aparece a Aliança Iraque Unido, coalizão árabe-xiita que quer um Estado islâmico, com 58,96% dos votos. A aliança do ex-premiê provisório Iyad Allawi, um árabe xiita de linha secular, teve desempenho aquém do esperado e obteve só 13,8% dos votos em Bagdá.
"[Os resultados atuais] terão grave repercussão na segurança e na estabilidade política", anunciou a FAI em um comunicado sobre as irregularidades.
A eleição do dia 15 era a maior aposta de Washington e de Bagdá para incorporar os árabes sunitas ao processo político e esvaziar a insurgência, mantida essencialmente por membros da minoria. Se os protestos crescerem, a violência sectária, amenizada na última semana por conta de uma trégua para a votação, pode recrudescer. Ontem voltaram a eclodir confrontos em Ramadi (oeste), e um motorista da Embaixada da Jordânia foi seqüestrado.
Tal quadro põe em xeque a redução do contingente americano no país, que, no início de janeiro, deveria cair de 157 mil homens para o nível pré-eleitoral: 138 mil.

Saddam
Advogados do ex-ditador disseram que ele deve se apresentar hoje ao tribunal que o julga pela morte de mais de 140 xiitas em 1982. As audiências serão retomadas após três adiamentos, o último dos quais, há duas semanas, quando Saddam não foi à corte.


Com agências internacionais

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