|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA
Prefeitura estima prejuízos em US$ 400 milhões diários; prefeito Michael Bloomberg classifica grevistas de "egoístas"
Greve de transportes paralisa Nova York
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
A Times Square (praça) amanheceu estranhamente deserta na
manhã de ontem, o silêncio perturbado só por um helicóptero
que rondava a área. Com temperatura de cinco graus negativos na
madrugada ainda escura, 7 milhões de nova-iorquinos enfrentaram a primeira greve de transporte público na cidade em 25
anos e tiveram de improvisar
-com táxis, peruas ou a pé- para não deixar a cidade parar.
As reações variavam do conformismo à irritação, mas os nova-iorquinos encararam horas de espera ou caminhada para chegar
ao trabalho. Anunciada, a paralisação causou surpresa porque
muitos esperavam que sindicato
ou governo fosse ceder nas negociações da noite de segunda. A paralisação prossegue hoje.
Para evitar o caos, a prefeitura
implementou o plano emergencial anunciado na semana passada, e milhares de policiais tomaram as ruas para coordenar o fluxo. Para entrar em Manhattan, todos os carros precisavam transportar quatro passageiros. Os táxis operaram como lotações, cobrando US$ 10 por pessoa em trajetos locais. Ônibus e vans particulares circularam de forma
ordenada, e milhares optaram pela calçada para poupar dinheiro.
As escolas públicas abriram
com duas horas de atraso, e muitas lojas pequenas passaram a
manhã fechadas. Segundo a prefeitura, os prejuízos à economia
local são estimados em US$ 400
milhões por dia, cerca de 15% da
movimentação comercial diária
na metrópole nesta época do ano.
Enquanto isso, o sindicato e a
autoridade de transporte metropolitano passaram o dia trocando
acusações. A última proposta oferecida aos trabalhadores do setor
incluiu concessões importantes,
mas a briga havia se tornado uma
espécie de queda-de-braço, sem
avanços concretos. No final, o sindicato recusou a contribuição de
6% para o fundo de pensão de novos funcionários, apesar de conseguir aumento de 10,5% nos próximos três anos, mais um feriado
e a manutenção da idade de aposentadoria.
Por lei, funcionários do setor
público não podem fazer greve no
Estado de Nova York, e ontem
mesmo um juiz impôs multa de
US$ 1 milhão por dia de paralisação. Analistas esperam que o sindicato agüente a pressão política e
financeira por alguns dias.
Roger Toussaint, presidente do
sindicato dos trabalhadores de
transporte público, obteve empréstimos para sustentar a paralisação e transformou "respeito e
dignidade" em slogans contra o
governo local, que contra-atacou
com acusações de ilegalidade,
desrespeito e dados catastróficos
de prejuízos financeiros.
Imitando com menos impacto
popular o prefeito Ed Koch na última greve, em 1980, o prefeito
Michael Bloomberg atravessou a
pé a ponte do Brooklyn e classificou os grevistas de "egoístas".
Alheios à política, porém, muitos
nova-iorquinos estavam irritados
com os grevistas.
"Essa greve não se justifica. Eles
não ganham tão mal, prestam um
serviço de má qualidade e agora
estão causando muito desespero
para a população", disse Alejandro Perez, 27, que se preparava
para cruzar a ponte de Queensboro a pé para voltar para casa.
No mesmo local, a faxineira
Maria Mérida, 43, lamentava não
ter carona para retornar. "Espero
que isso não dure muito."
Porém turistas que conseguiram chegar ao centro não se queixaram. As famosas Quinta Avenida e Avenida Madison, geralmente intransitáveis na semana de Natal, estavam fechadas para carros.
As calçadas, menos tumultuadas.
Só as pequenas lojas fecharam. As
lojas de departamentos, como a
Bloomingdale's, recuperaram a
circulação no começo da tarde.
Texto Anterior: Pesquisas sobre aprovação de Bush divergem Próximo Texto: Sociedade: Elton John oficializa hoje sua união com cineasta Índice
|