São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Discurso sobre o Estado da União foi o menos bem avaliado do mandato; presidente foi superficial, diz oposição

Bush recebe críticas por "tom eleitoreiro"

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O discurso anual do presidente dos EUA, George W. Bush, sobre o Estado da União, anteontem à noite, despertou críticas entre os democratas (oposição) e em segmentos da opinião pública norte-americana, incluindo os jornais mais influentes do país.
Bush foi criticado por usar o discurso como instrumento eleitoral e por abordar apenas superficialmente temas importantes para o público, como saúde e, principalmente, economia e emprego.
Dos pronunciamentos que Bush fez em seu mandato, este foi o menos bem avaliado pela opinião pública, segundo pesquisa CNN/"USA Today"/Gallup.
Segundo o levantamento, feito anteontem à noite logo após o discurso presidencial, 45% responderam que acharam a fala de Bush "muito positiva". Em 2002 e 2003, Bush teve percentuais de 74% e 50%, respectivamente.
Na última pesquisa, o presidente também ampliou o percentual dos que acreditam que sua administração esteja levando o país "para a direção errada". O número atingiu 26% ontem, contra 7% em 2002 e 20% no ano passado. Dos entrevistados anteontem, 46% declararam ser republicanos, e apenas 26%, democratas.

Pé na estrada
Ontem, o presidente iniciou um giro por três Estados do país considerados cruciais em seus planos de reeleição em novembro (Ohio, Arizona e Novo México).
Bush pretende fazer eventos semelhantes até a terça-feira próxima, quando será realizada, em New Hampshire (Costa Leste dos EUA), mais uma prévia para a escolha do candidato democrata que desafiará o presidente. Sete pré-candidatos disputam a vaga.
Ontem, assessores dos principais pré-candidatos criticaram o "tom eleitoreiro" da fala de Bush.
"Foi o pontapé inicial de sua campanha para a reeleição", disse à Folha Maria Echaveste, assessora da campanha de Howard Dean, um dos favoritos à vaga de candidato presidencial democrata, e ex-chefe-de-gabinete-adjunta do ex-presidente Bill Clinton.
"É impressionante como Bush amarrou todo o seu discurso econômico, político e social em torno de sua campanha contra o terrorismo. A mensagem é a seguinte: se você é contra as propostas e as medidas dele, então é a favor do terrorismo", disse Echaveste.

Anabolizantes e déficit
"Bush gastou mais tempo falando sobre anabolizantes e jogadores de beisebol do que sobre a economia. Pediu cortes de impostos permanentes e não deu uma palavra sobre como resolver o déficit recorde de US$ 500 bilhões", disse Dan Gerstein, diretor-adjunto de comunicações do pré-candidato Joe Lieberman.
Em campanha em New Hampshire, o pré-candidato John Kerry, vencedor do caucus (prévia) democrata de segunda-feira no Estado de Iowa, disse que a opinião pública não deveria acreditar "em nada do que Bush diz".
"Há dois meses Bush afirmou que a economia passaria a criar 250 mil empregos por mês. Ontem (anteontem) admitiu que só mil vagas novas apareceram em dezembro", disse Kerry.
A vitória do pré-candidato na prévia de Iowa já trouxe resultados para sua campanha. De segunda-feira até ontem, Kerry registrou o ingresso de US$ 250 mil em doações espontâneas pela internet. O senador por Massachusetts também recebeu o apoio de 20 figuras conhecidas do Partido Democrata de New Hampshire para a prévia da semana que vem.
Também em campanha no Estado, o general da reserva Wesley Clark disse não concordar com a "premissa" de Bush em seu discurso de que a Guerra do Iraque "é parte da campanha norte-americana contra o terrorismo".


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