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IRÃ
Presidente prefere não correr riscos
Khatami evita falar de renuncia de gabinete
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O presidente do Irã, o clérigo
moderado Mohammad Khatami,
fugiu ontem de uma pergunta direta sobre a ameaça de renúncia
de seu gabinete em protesto contra o veto do Conselho de Guardiães, que zela pelo respeito da
Constituição -cujos 12 membros foram apontados por Ali
Khamenei, o líder supremo do
país-, a mais de 3.000 pedidos de
candidatura de reformistas. Estes
buscam disputar a eleição legislativa de 20 de fevereiro.
Em concorrida entrevista coletiva em Davos, onde participa do
Fórum Econômico Mundial,
Khatami deu toda uma volta para
dizer que ele e seus colegas (liberais) têm uma meta: "uma eleição
livre e competitiva. O curso dos
fatos leva a isso".
O presidente atribuiu a ameaça
ao fato de que todos os processos
eleitorais "levantam temas sensíveis". Na verdade, é algo mais que
isso: se de fato forem vetados os
candidatos liberais, o bloco religioso radical passa a controlar
também o Parlamento, além do
Conselho Supremo da Revolução,
anulando as chances de reformas
políticas.
Na coletiva, Khatami foi confrontado precisamente com uma
comparação entre ele e o ex-presidente russo Mikhail Gorbatchov,
que tentava reformas, foi atropelado, e elas só saíram com a ascensão de Bóris Ieltsin, seu sucessor.
"Não creio que seja possível estabelecer um paralelo. Eu sou
Khatami e sempre serei Khatami", respondeu.
Depois, engatou uma defesa do
modelo iraniano de democracia,
dizendo que a história e a cultura
do país "são muito influenciadas
por valores e princípios religiosos.
O islamismo é compatível com o
progresso e com a liberdade, o
que é levado em conta na presente
Constituição". Esta foi aprovada
depois da chamada Revolução Islâmica que depôs o xá Reza Pahlevi, em 1979.
Cauteloso em assuntos internos, Khatami foi radical em questões internacionais. Recusou, para começar, o raciocínio do presidente norte-americano, George
Walker Bush, que atribuiu à sua
própria firmeza o fato de líderes
da Líbia e do Irã estarem agora
demonstrando moderação e renunciando ao uso de armas de
destruição em massa.
"Não aceito o que ele disse. Antes de toda essa fanfarra, o Irã já
era membro do TNP [Tratado de
Não-Proliferação Nuclear] e de
outros convênios que vedam armas de destruição em massa",
afirmou.
Completou: "Todo esse ruído
[dos Estados Unidos] não teve nenhum impacto em nossas decisões".
Khatami insistiu no direito que
o Irã tem de explorar a energia
nuclear para fins pacíficos, negou
que o país tenha recebido um carregamento de material nuclear da
Coréia do Norte e não viu nenhum êxito na política do presidente Bush contra o terrorismo.
"A América, com todo seu poderio, invadiu o Afeganistão, alegando que era para pegar Bin Laden. Onde está Bin Laden? O Iraque foi ocupado porque teria armas de destruição em massa e para implantar a democracia. É
muito claro que a opinião pública
internacional se sentiu enganada,
pois não há armas de destruição
em massa no Iraque. Com respeito à democracia, o aiatolá Sistani
[Ali al Sistani, um dos principais
líderes xiitas iraquianos] pediu
eleições diretas. Os ocupantes de
opõem a ela."
(CR)
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