São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

BBC exibe depoimento do cientista que se matou após escândalo

Entrevista complica versão de Blair

DA REDAÇÃO

A BBC exibiria ontem uma entrevista inédita com o cientista britânico David Kelly, o assessor do Ministério da Defesa que se suicidou em julho após ter seu nome envolvido em um escândalo sobre a veracidade das acusações feitas por Londres a Bagdá antes da Guerra do Iraque.
A gravação foi feita em outubro de 2002, um mês depois de o premiê Tony Blair apresentar um dossiê sobre a iminência da ameaça iraquiana e cinco meses antes da invasão do Iraque pela coalizão anglo-americana.
A rede de TV e rádio britânica, envolvida no escândalo por ter confirmado o nome de Kelly como fonte de uma reportagem contestando a posição do governo, não explicou o motivo de ter mantido o depoimento do cientista inédito até agora, mas afirmou que a produção do programa em que a entrevista será exibida, o "Panorama", trabalhou com total independência.
Na semana que vem, o lorde Hutton deve publicar as conclusões de um inquérito que apurou as circunstâncias da morte de Kelly. A BBC disse ter apresentado a gravação no processo.
A reportagem envolvendo Kelly contestava a informação de Londres de que o Iraque poderia lançar mão de um arsenal de destruição em massa em 45 minutos, com potencial para atingir qualquer país. Segundo o repórter Andrew Gilligan, o governo teria deixado o relatório sobre o Iraque "mais sexy" para conquistar a opinião pública.
Gilligan citou uma fonte no governo que ratificara a inviabilidade do pronto uso do arsenal -era Kelly, cujo nome foi vazado pelo próprio governo e depois confirmado pela BBC.
Na entrevista veiculada ontem, que teve alguns trechos antecipados pela BBC, o assessor da Defesa concorda com a posição do governo sobre a existência do arsenal proibido, mas afirma que este não constituiria uma ameaça imediata. Segundo Kelly, as armas levariam "dias ou até semanas" para serem acionadas, e o risco se restringiria aos vizinhos do Iraque -diferentemente do que afirmou Blair.
A suposta existência de armas de destruição em massa no Iraque foi o principal motivo alegado por Washington e Londres para invadir o país. Passados dez meses da invasão, no entanto, nenhum indício do arsenal foi encontrado.

Dívida
Também ontem, o enviado americano para negociar a dívida externa iraquiana, James Baker, esteve na Arábia Saudita. Riad prometeu perdoar parte dos US$ 9 bilhões que Bagdá lhe deve, de uma dívida externa total de US$ 120 bilhões. Não há posição sobre os US$ 19 bilhões que o Iraque deve a entidades privadas sauditas.


Com agências internacionais

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