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AMÉRICAS
Citgo, subsidiária americana da estatal petrolífera venezuelana PDVSA, sofre efeitos da rixa entre Caracas e Washington
Petrolífera pode ter virado joguete de Chávez
DAVID J. LYNCH
DO "USA TODAY", EM HOUSTON
Desde seu edifício envidraçado
e gramado perfeito até o guarda
de segurança que recebe os visitantes falando com simpático sotaque texano, tudo na empresa
Citgo Petroleum parece comum.
Na realidade, porém, não existe
nada de comum na Citgo. Uma
das maiores refinarias dos EUA,
ela é subsidiária da estatal petrolífera venezuelana Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA). Como tal,
em última análise, pertence ao
presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, líder declaradamente antiamericano, que conta o ditador
Fidel Castro entre seus amigos.
A questão da influência de Chávez sobre a Citgo ganhou destaque com o recente fornecimento
pela empresa de óleo de aquecimento a pessoas pobres do nordeste dos EUA, a preços subsidiados. Mais de 100 mil famílias devem beneficiar-se da ajuda.
Mas alguns setores temem que o
fato de a Venezuela ser proprietária de mais de 6% da capacidade
norte-americana de refino de petróleo confere a Chávez o poder
não apenas de reconfortar mas
também de aleijar.
Como bem demonstraram os
furacões Katrina e Rita, qualquer
perturbação sofrida pelo setor de
refino nacional resulta em aumento do preço da gasolina. O
que aconteceria se Chávez, que
periodicamente ameaça reduzir
suas vendas de petróleo aos EUA,
fechasse as refinarias da Citgo?
"Ele só teria que fazê-lo por 90
dias para destruir nossa economia", se preocupa Matthew Simmons, um importante banqueiro
de investimentos no setor energético. "Ele detém o controle de fato
de nosso meio de vida."
Outros observam que petróleo
importado de outras fontes poderia acabar compensando qualquer possível interrupção do fornecimento da Citgo. E, como
Chávez depende das refinarias especializadas da empresa para processar o óleo cru venezuelano, um
fechamento da empresa custaria
muito caro a ele e a seu país.
No final do ano passado, quando a primeira onda de frio do inverno levou os consumidores a
acionar seus termostatos, 12 senadores americanos pediram a dez
grandes companhias petrolíferas
que doassem uma parcela de seus
lucros recordes em benefício dos
pobres. Apenas a Citgo reagiu, enviando caminhões-tanque para
conjuntos habitacionais de Nova
York, Massachusetts e Maine.
Muitos analistas, porém, viram
a iniciativa como manobra política de Chávez, que visava causar
constrangimento ao governo dos
EUA. E alguns dizem que a generosidade da Citgo, que provavelmente custará à empresa mais de
US$ 20 milhões, sugere que a empresa pode estar sendo transformada num joguete de Chávez.
Executivos da Citgo dizem que a
empresa tem lucros sólidos e condições financeiras de auxiliar a
população carente, oferecendo
descontos de 40% sobre o óleo de
aquecimento. Felix Rodriguez,
presidente da empresa, disse que
Chávez ordenou a doação por temer que americanos de baixa renda fossem forçados a optar entre
alimentação ou aquecimento.
"A diferença entre a Citgo e outras empresas é que a Citgo tem
apenas um acionista", disse ele,
referindo-se a Chávez.
No entanto existem ecos da
atuação recente da Citgo em fatos
ocorridos em outras partes da indústria petrolífera venezuelana
desde a eleição de Chávez, em
1998. Após um golpe que o afastou do poder por pouco tempo
em 2002, Chávez retaliou, promovendo um expurgo na empresa
petrolífera do Estado. Milhares de
executivos e engenheiros veteranos foram demitidos, sendo substituídos por outros que se alinhavam politicamente com as metas
revolucionárias do presidente.
Política externa anti-EUA
Luis Giusti, que deixou a presidência da companhia petrolífera
nacional quando Chávez tomou
posse, diz que a produção petrolífera da PDVSA caiu de 3,3 milhões de barris por dia em 1999
para 1,5 milhão hoje. Apesar disso, graças aos preços superiores a
US$ 60 por barril vigentes hoje, o
controle exercido por Chávez sobre a PDVSA lhe permitiu gastar
bilhões de dólares em projetos sociais e na promoção de sua política externa antiamericana.
A Citgo, que vende gasolina
através de mais de 13.500 postos
de combustível, pagou ao governo venezuelano US$ 697 milhões
em dividendos em 2005.
A PDVSA comprou 50% da Citgo em 1986. Em 1990, os venezuelanos adquiriram a outra metade
da empresa da Southland Corporation. As seis refinarias da Citgo
são idealmente adequadas para
refinar o pesado e sulfuroso petróleo cru da Venezuela.
Ao longo da década de 1990 as
autoridades petrolíferas venezuelanas concederam um enorme
grau de autonomia aos administradores americanos da empresa.
Essa situação mudou sob o governo Chávez. Em outubro de
2000, ele aumentou seu controle
sobre a Citgo, nomeando um ex-general do Exército, Oswaldo
Contreras, para sua presidência.
Bush foi eleito presidente dos
EUA no mês seguinte, mas as relações entre EUA e Venezuela só
azedaram definitivamente depois
do 11 de Setembro, quando Chávez comparou a guerra travada
pelos EUA no Afeganistão aos
ataques terroristas em Nova
York. Mais tarde, Washington
saudou publicamente o golpe que
derrubou Chávez por dois dias
em 2002. Chávez acusa Washington de planejar seu assassinato.
Indagado sobre como o atrito
bilateral persistente vem afetando
a Citgo, Rodriguez respondeu:
"Não tem efeito nenhum. Nada".
Mas Jerry Thompson, o americano mais altamente situado na empresa, admitiu que os clientes da
Citgo estão preocupados.
Sede nova
O clima de incerteza foi exacerbado durante boa parte de 2005
pela prolongada e cara mudança
da sede da empresa, mudanças
em seu alto escalão e as repetidas
sugestões de autoridades venezuelanas de que a Citgo poderia
ser vendida, inteira ou em parte.
Após passar décadas sediada
em Tulsa, Oklahoma, a Citgo concluiu uma transferência para sua
nova sede no coração do "corredor energético" de Houston.
A mudança também custou à
empresa vários gerentes, que optaram por não deixar a cidade onde viviam havia anos, o que levou
vários executivos americanos e o
conselho de direção a serem substituídos por venezuelanos.
Giusti diz que a equipe de direção atual, venezuelana, é fraca e
foi instalada com base em sua
lealdade política a Chávez. Ele criticou o presidente, Rodriguez, dizendo que lhe falta experiência internacional e fluência no inglês.
Rodriguez chamou a atenção
para o fato de ser engenheiro petrolífero com 32 anos de experiência. Ele disse que já ocupou vários
cargos de supervisão, viajou aos
campos petrolíferos do mar do
Norte em "missões especiais" e foi
vice-presidente da PDVSA.
O ministro da Energia venezuelano afirmou estar discutindo a
venda de toda a Citgo ou de parte
dela. Mas Rodriguez disse que
não existem planos de venda e
que a relação comercial continua
a ser benéfica para todos.
Tradução de Clara Allain
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