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EUA
Casos como o de Abramoff são "anomalia", diz o democrata Michael Berman
Para lobista americano,
sistema impede excessos
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
O megalobista republicano Jack
Abramoff, cujo acordo com a
Promotoria para delatar cúmplices vem provocando arrepios em
Washington, é uma anomalia. O
endurecimento das regras do jogo
não trará mudanças na prática, e
contra os excessos o melhor é
confiar no sistema.
Em resumo, essa é a avaliação
de Michael Berman, 66, um democrata que atua na cidade mais
controlada pelos republicanos.
Ele é lobista desde 1980 e também
dá aulas de ética na American
University. Em entrevista à Folha,
defendeu os colegas. Pregou regras justas para o trabalho e lembrou que as suspeitas de corrupção envolvem também, e sempre,
os agentes públicos.
Folha- Que lição o sr. tirou do processo contra Abramoff?
Michael Berman- Nas minhas
aulas de ética na American University costumo dizer aos alunos
que não há lições a serem aprendidas com Abramoff. O que ele fez
foi quebrar todas as leis e regras.
Se admitiu culpa é porque fez intencionalmente. Não foi como se
tivesse escorregado. Essa não é
uma questão de ter gasto US$ 53
[quando um lobista só pode gastar US$ 50 numa refeição], mas
sim que ele tinha um restaurante e
os congressistas e os funcionários
do governo basicamente entravam, comiam, assinavam um recibo e ninguém via a conta. Isso
tem provocado muitas reações,
mas ele é uma anomalia.
Folha - Mas a prática de oferecer
jantares e adular políticos é regra.
Berman - A maioria do Congresso não muda seu voto por uma ou
dez refeições. Pode mudar alguns
de seus votos, mas não aqueles relacionados aos chamados grandes
temas nacionais.
Folha - A solução é confiar no sistema para isolar anomalias?
Berman - Eles sempre são pegos.
O que acontece é que eles começam a trapacear em questões pequenas, não são descobertos e, como em outros casos, tornam-se
mais ousados, vão além e além.
De repente, o sistema responde. O
sistema americano é feito para lidar com os excessos. E Abramoff
trapaceou todo mundo, seus
clientes, seus empregados, e enganou seus colegas.
Folha- Endurecer as regras trará
mudanças na prática?
Berman - O mundo vai acabar se
alguém levar um congressista para um jogo de futebol? Se disserem que os congressistas não podem ter viagens pagas pelo setor
privado, irão com dinheiro do governo. Essas propostas que estão
estudando não mudam a essência
de nada. Se disserem que os congressistas precisam esperar dois
anos antes de influenciar seus colegas diretos... nada disso é o fim
do mundo. O sistema muda, as
pessoas se ajustam. A coisa que
um lobista mais quer são regras
justas. O que a maioria faz é advogar interesses de uma indústria
contra os interesses de outra, e
ninguém quer que o outro lado
tenha vantagens indevidas.
Folha - E a idéia de aumentar a
fiscalização?
Berman -Não acho que mais fiscalização vá impedir as pessoas de
aceitar presentes. Muito disso
acontece dentro das regras. Se você olha para viagens na superfície,
as fundações que pagam, os formulários, os relatórios, a verdadeira questão é como o dinheiro
entra nas fundações, há muitas
coisas que derivam daí. Há muito
esforço em dizer que a culpa é dos
lobistas, mas são necessárias duas
pessoas para jogar esse jogo.
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