São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / ACERTANDO AS CONTAS

Obama congela salários e promete mais transparência

Ante crise econômica, medida que atinge assessores é posta como "exemplo de sacrifício"; posição sobre lobby é dúbia

Executivo baixa ordem para coibir "porta giratória" entre governo e associações lobistas, mas interesses privados mantêm influência

DE WASHINGTON

Entre as primeiras medidas tomadas por Barack Obama no cargo, estão uma que pode ajudar a tornar o governo norte-americano mais transparente - depois de oito anos de segredismo da dupla Bush-Cheney- e outra que foi mais uma jogada para a plateia, pois deve ter pouco efeito prático.
Na primeira, ao dar posse para mais de cem membros de sua equipe, incluindo os sete ministros já confirmados pelo Senado, o novo presidente anunciou ações que tornarão os atos do Executivo mais acessíveis ao escrutínio do público. Tentarão coibir ainda a ação no governo dos lobistas, uma atividade legalizada nos EUA.
Desde ontem, membros do governo obamista estão proibidos de aceitar presentes de lobistas -já há um limite em vigor para membros do Congresso (US$ 50 por presente e até US$ 100 em itens dados ao longo de um ano), mas não havia para o Executivo.
A prática comum de passar de cargos no governo direto para escritórios de influência política e vice-versa também foi de alguma maneira coibida. A partir de agora, o funcionário terá de assinar um termo em que se compromete a não ser lobista na área em que trabalhou por dois anos após sua saída do governo, e ex-lobistas não serão aceitos para cargos em áreas nas quais trabalhavam antes de ir para o governo.
Obama fez da luta contra o lobby uma das bandeiras de sua campanha. Muitas vezes, no entanto, foi apanhado em contradição, ao contratar pessoas que fugiam das regras que propõe agora para a Casa Branca e para trabalhar no comando da transição.
Além disso, entre os principais doadores de sua campanha e mesmo da festa de sua posse estão representantes dos principais grupos de interesse do país, entre eles executivos das instituições financeiras que foram auxiliadas pelo pacote federal de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso em 2008.
Ainda segundo a ordem de Obama, os pedidos feitos via Ato da Liberdade de Informação, uma lei federal aprovada para facilitar o acesso da população a documentos oficiais, serão aprovados mais rápida e rotineiramente por sua administração. Além disso, o arquivo de documentos oficiais será agilizado e sua consulta, facilitada, prometeu ele.
"Por muito tempo, tem havido muito segredismo nessa cidade", cutucou o novo presidente, referindo-se à gestão de seu antecessor. "As velhas regras diziam que, se houvesse um argumento defensável para que um documento não fosse liberado, então ele não seria liberado. Essa era acabou."
Dick Cheney destacou-se no cargo pelos obstáculos que colocou à liberação dos documentos oficiais, principalmente do gabinete do vice-presidente e dos que tinham a ver com a chamada "guerra ao terror".
Até momentos antes de sua saída, ações na Justiça pediam a liberação para o arquivo oficial de seus e-mail pessoais, uma disputa que continua.

Congelamento
Na jogada de marketing, Barack Obama congelou os salários dos assessores que ganham mais de US$ 100 mil por ano (R$ 19,6 mil por mês). Disse que, em tempos de sacrifício e em que o governo pede sacrifício da população, era preciso mostrar um pouco dele também. Menos de cem pessoas se encaixam nessa faixa salarial.
As iniciativas servem para "restaurar a confiança no governo, sem a qual nós não conseguiremos fazer as mudanças que nós fomos mandados aqui para fazer", disse o presidente, em cerimônia no prédio executivo do governo, localizado ao lado da Casa Branca.
Eric Holder, o secretário da Justiça apontado por ele, não participou do evento de posse dos ministros. Sua audiência de confirmação no Senado foi adiada porque os republicanos querem detalhes de sua visão sobre interrogatórios. A aprovação é dada como certa, no entanto. (SÉRGIO DÁVILA)


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