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SOB NOVA DIREÇÃO / ACERTANDO AS CONTAS
Obama congela salários e promete mais transparência
Ante crise econômica, medida que atinge assessores é posta como "exemplo de sacrifício"; posição sobre lobby é dúbia
Executivo baixa ordem
para coibir "porta giratória" entre governo e associações lobistas, mas interesses privados mantêm influência
DE WASHINGTON
Entre as primeiras medidas
tomadas por Barack Obama no
cargo, estão uma que pode ajudar a tornar o governo norte-americano mais transparente
- depois de oito anos de segredismo da dupla Bush-Cheney-
e outra que foi mais uma jogada
para a plateia, pois deve ter
pouco efeito prático.
Na primeira, ao dar posse para mais de cem membros de sua
equipe, incluindo os sete ministros já confirmados pelo Senado, o novo presidente anunciou ações que tornarão os atos
do Executivo mais acessíveis ao
escrutínio do público. Tentarão
coibir ainda a ação no governo
dos lobistas, uma atividade legalizada nos EUA.
Desde ontem, membros do
governo obamista estão proibidos de aceitar presentes de lobistas -já há um limite em vigor para membros do Congresso (US$ 50 por presente e até
US$ 100 em itens dados ao longo de um ano), mas não havia
para o Executivo.
A prática comum de passar
de cargos no governo direto para escritórios de influência política e vice-versa também foi
de alguma maneira coibida. A
partir de agora, o funcionário
terá de assinar um termo em
que se compromete a não ser
lobista na área em que trabalhou por dois anos após sua saída do governo, e ex-lobistas não
serão aceitos para cargos em
áreas nas quais trabalhavam
antes de ir para o governo.
Obama fez da luta contra o
lobby uma das bandeiras de sua
campanha. Muitas vezes, no
entanto, foi apanhado em contradição, ao contratar pessoas
que fugiam das regras que propõe agora para a Casa Branca e
para trabalhar no comando da
transição.
Além disso, entre os principais doadores de sua campanha
e mesmo da festa de sua posse
estão representantes dos principais grupos de interesse do
país, entre eles executivos das
instituições financeiras que foram auxiliadas pelo pacote federal de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso em 2008.
Ainda segundo a ordem de
Obama, os pedidos feitos via
Ato da Liberdade de Informação, uma lei federal aprovada
para facilitar o acesso da população a documentos oficiais, serão aprovados mais rápida e rotineiramente por sua administração. Além disso, o arquivo de
documentos oficiais será agilizado e sua consulta, facilitada,
prometeu ele.
"Por muito tempo, tem havido muito segredismo nessa cidade", cutucou o novo presidente, referindo-se à gestão de
seu antecessor. "As velhas regras diziam que, se houvesse
um argumento defensável para
que um documento não fosse
liberado, então ele não seria liberado. Essa era acabou."
Dick Cheney destacou-se no
cargo pelos obstáculos que colocou à liberação dos documentos oficiais, principalmente do
gabinete do vice-presidente e
dos que tinham a ver com a chamada "guerra ao terror".
Até momentos antes de sua
saída, ações na Justiça pediam
a liberação para o arquivo oficial de seus e-mail pessoais,
uma disputa que continua.
Congelamento
Na jogada de marketing, Barack Obama congelou os salários dos assessores que ganham
mais de US$ 100 mil por ano
(R$ 19,6 mil por mês). Disse
que, em tempos de sacrifício e
em que o governo pede sacrifício da população, era preciso
mostrar um pouco dele também. Menos de cem pessoas se
encaixam nessa faixa salarial.
As iniciativas servem para
"restaurar a confiança no governo, sem a qual nós não conseguiremos fazer as mudanças
que nós fomos mandados aqui
para fazer", disse o presidente,
em cerimônia no prédio executivo do governo, localizado ao
lado da Casa Branca.
Eric Holder, o secretário da
Justiça apontado por ele, não
participou do evento de posse
dos ministros. Sua audiência de
confirmação no Senado foi
adiada porque os republicanos
querem detalhes de sua visão
sobre interrogatórios. A aprovação é dada como certa, no entanto.
(SÉRGIO DÁVILA)
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