|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Transferência internacional de dinheiro recomeça
DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE
Um grupo privilegiado de
haitianos, aqueles com parentes no exterior, teve ontem a
primeira chance de receber algum dinheiro desde o terremoto. Agências da Western Union,
empresa especializada em
transferência de recursos, reabriram ontem no centro de
Porto Príncipe, com longas filas
no sol forte, que causaram tumultos e desmaios.
A filial da avenida Delmas,
uma das maiores vias da cidade
e entre as mais afetadas pelo
terremoto, tinha filas que precisavam ser controladas por
um policial armado e por um
segurança privado.
"Meu filho mandou o pouquinho que tem. Mesmo assim
é muito bom", afirmou Lesly
Orsel, 70, funcionário da companhia de balé nacional, que
tem família em Boston (EUA).
Estima-se que a grande diáspora haitiana, sobretudo na
Costa Leste dos EUA e no Canadá, sustente 1 milhão de pessoas no país, ou 10% da população, ajudando a formar uma tênue classe média.
Lajeunesse Nixon já estava
de pé na fila havia quatro horas.
Chegou às 8h, alertado por notícias na imprensa local de que
algumas filiais estariam abertas. "Está muito difícil sobreviver desde o terremoto. Esse
pouquinho que espero retirar
hoje vai ajudar um pouco."
Mas o processo de retirar
"um pouquinho" era bastante
tumultuado. Pessoas se acotovelavam e se xingavam atrás de
um lugar melhor perto da pequena entrada do escritório.
Cada transação poderia levar
até meia hora, em razão do sistema lento e que caía a toda hora. Nos cerca de 20 minutos que
a Folha passou no local, uma
mulher teve de ser carregada
por policiais, e um senhor idoso precisou ser amparado para
não cair no chão.
Rosé Fortune, que trabalha
com informática, havia tentado
duas outras filiais da Western
Union naquela manhã. "Todas
estavam sem dinheiro. Nesta
aqui ainda tem. Ainda...", contou a haitiana.
Seu irmão vive em Miami e
envia dinheiro para a família
todos os meses. "Geralmente,
há uma pequena fila, mas hoje
isso aqui está impossível", afirmou ela.
Sua amiga Yasmine Onesime, estudante de enfermaria,
esperava para sacar uma transferência enviada de um irmão
no Canadá. "A primeira coisa
que vou fazer é comprar telhas.
Nossa casa ficou de pé, mas o
telhado desmontou no terremoto", afirmou. Ela também
pretendia comprar comida.
A reabertura de ao menos o
sistema de transferência de recursos é um tímido passo na
volta à normalidade no Haiti,
nove dias após o tremor. Para
os próximos dias, está prometida a volta ao funcionamento de
parte das agências bancárias
-aquelas que ainda estão de
pé. Em alguns pontos da cidade, caixas eletrônicos já foram
religados, mas ainda mostram
a mensagem "fora de serviço".
A falta de dinheiro virou um
grande problema hoje no Haiti.
Sem compradores, os poucos
produtos disponíveis encalham em mercadinhos e barracas de ambulantes.
Anteontem, tropas brasileiras da Minustah, a força de paz
da ONU, escoltaram um carro-forte pelas ruas de Porto Príncipe, recolhendo dinheiro de
cofres de bancos que ruíram e
levando para agências que sobreviveram. Um primeiro passo para tentar normalizar o sistema bancário.0
(FZ)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Haiti em ruínas: Minustah planeja doação para contrapor EUA Índice
|