São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Transferência internacional de dinheiro recomeça

DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE

Um grupo privilegiado de haitianos, aqueles com parentes no exterior, teve ontem a primeira chance de receber algum dinheiro desde o terremoto. Agências da Western Union, empresa especializada em transferência de recursos, reabriram ontem no centro de Porto Príncipe, com longas filas no sol forte, que causaram tumultos e desmaios.
A filial da avenida Delmas, uma das maiores vias da cidade e entre as mais afetadas pelo terremoto, tinha filas que precisavam ser controladas por um policial armado e por um segurança privado.
"Meu filho mandou o pouquinho que tem. Mesmo assim é muito bom", afirmou Lesly Orsel, 70, funcionário da companhia de balé nacional, que tem família em Boston (EUA).
Estima-se que a grande diáspora haitiana, sobretudo na Costa Leste dos EUA e no Canadá, sustente 1 milhão de pessoas no país, ou 10% da população, ajudando a formar uma tênue classe média.
Lajeunesse Nixon já estava de pé na fila havia quatro horas. Chegou às 8h, alertado por notícias na imprensa local de que algumas filiais estariam abertas. "Está muito difícil sobreviver desde o terremoto. Esse pouquinho que espero retirar hoje vai ajudar um pouco."
Mas o processo de retirar "um pouquinho" era bastante tumultuado. Pessoas se acotovelavam e se xingavam atrás de um lugar melhor perto da pequena entrada do escritório. Cada transação poderia levar até meia hora, em razão do sistema lento e que caía a toda hora. Nos cerca de 20 minutos que a Folha passou no local, uma mulher teve de ser carregada por policiais, e um senhor idoso precisou ser amparado para não cair no chão.
Rosé Fortune, que trabalha com informática, havia tentado duas outras filiais da Western Union naquela manhã. "Todas estavam sem dinheiro. Nesta aqui ainda tem. Ainda...", contou a haitiana.
Seu irmão vive em Miami e envia dinheiro para a família todos os meses. "Geralmente, há uma pequena fila, mas hoje isso aqui está impossível", afirmou ela.
Sua amiga Yasmine Onesime, estudante de enfermaria, esperava para sacar uma transferência enviada de um irmão no Canadá. "A primeira coisa que vou fazer é comprar telhas. Nossa casa ficou de pé, mas o telhado desmontou no terremoto", afirmou. Ela também pretendia comprar comida.
A reabertura de ao menos o sistema de transferência de recursos é um tímido passo na volta à normalidade no Haiti, nove dias após o tremor. Para os próximos dias, está prometida a volta ao funcionamento de parte das agências bancárias -aquelas que ainda estão de pé. Em alguns pontos da cidade, caixas eletrônicos já foram religados, mas ainda mostram a mensagem "fora de serviço".
A falta de dinheiro virou um grande problema hoje no Haiti. Sem compradores, os poucos produtos disponíveis encalham em mercadinhos e barracas de ambulantes.
Anteontem, tropas brasileiras da Minustah, a força de paz da ONU, escoltaram um carro-forte pelas ruas de Porto Príncipe, recolhendo dinheiro de cofres de bancos que ruíram e levando para agências que sobreviveram. Um primeiro passo para tentar normalizar o sistema bancário.0 (FZ)


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