São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Minustah planeja doação para contrapor EUA

Missão liderada pelo Brasil quer distribuir toneladas de comida e água para centenas nas cercanias de palácio ocupado por americanos

Operação, prevista para ontem, foi adiada porque suprimentos não chegaram; propósito é mostrar que não há áreas controladas por EUA


DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE

A Minustah, força de estabilização da ONU no Haiti, controlada pelo Brasil, planeja um evento com recado político para os próximos dias, como contraponto à ocupação americana dos arredores do palácio presidencial, desabado no centro de Porto Príncipe.
A ideia é fazer uma grande distribuição de alimentos de madrugada ou no início da manhã na praça em frente ao palácio, que se transformou num acampamento de pessoas que perderam suas casas no terremoto ou têm medo de retornar a elas por causa dos tremores secundários.
O evento estava marcado para ontem, mas teve de ser adiado, porque os suprimentos previstos não chegaram. Poderá ocorrer hoje. Serão distribuídas ao menos cinco toneladas de alimentos e água para centenas de pessoas.
Embora em público haja um esforço dos brasileiros de dizer que a relação com os americanos é saudável e de cooperação, há um claro incômodo manifestado em conversas de bastidores com a repentina escalada militar dos EUA.
Como revelou um dos integrantes do batalhão brasileiro à Folha, o Brasil pretende se contrapor a iniciativas dos EUA consideradas desastrosas -e já suspensas-, como a de jogar caixas de mantimentos de helicópteros, causando grande tumulto. Mais do que isso, também há o claro propósito de mostrar que não há nenhuma área de controle exclusivo americano no país, com a exceção do aeroporto (objeto de um acordo de procedimento assinado com a Minustah).

Entrega em lixão
Desde a semana passada, os brasileiros têm feito eventos de distribuição de cestas básicas e água. Ontem, 320 cestas com leite em pó, açúcar, presunto e biscoito foram distribuídas ao lado de um lixão numa favela no bairro de Cité Militaire. A operação foi acompanhada por cerca de 30 militares da Minustah, armados e usando capacetes e coletes à prova de bala.
Para evitar tumulto, os soldados brasileiros não anunciam com antecedência onde estarão. Assim que os caminhões aparecem, pessoas saem de suas casas ou tendas e começam a correr para pegar um lugar melhor na fila.
Mulheres costumam levar a pior, e por isso há um esforço da Minustah para que algumas delas furem a fila. Outra estratégia dos brasileiros é terceirizar parte da distribuição para alguns líderes locais. "A própria população nos ajuda a fiscalizar essas pessoas para evitar que haja desvio", afirma o capitão de fragata Julio César da Costa, coordenador das operações de doação.
Durante a distribuição de alimentos, há empurra-empurra e uma luta para conseguir o melhor lugar. Quando a carga acaba, a ordem é deixar o local rapidamente para evitar confusão. (FÁBIO ZANINI)


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