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HAITI EM RUÍNAS
Minustah planeja doação para contrapor EUA
Missão liderada pelo Brasil quer distribuir toneladas de comida e água para centenas nas cercanias de palácio ocupado por americanos
Operação, prevista para ontem, foi adiada porque suprimentos não chegaram; propósito é mostrar que não há áreas controladas por EUA
DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE
A Minustah, força de estabilização da ONU no Haiti, controlada pelo Brasil, planeja um
evento com recado político para os próximos dias, como contraponto à ocupação americana
dos arredores do palácio presidencial, desabado no centro de
Porto Príncipe.
A ideia é fazer uma grande
distribuição de alimentos de
madrugada ou no início da manhã na praça em frente ao palácio, que se transformou num
acampamento de pessoas que
perderam suas casas no terremoto ou têm medo de retornar
a elas por causa dos tremores
secundários.
O evento estava marcado para ontem, mas teve de ser adiado, porque os suprimentos previstos não chegaram. Poderá
ocorrer hoje. Serão distribuídas ao menos cinco toneladas
de alimentos e água para centenas de pessoas.
Embora em público haja um
esforço dos brasileiros de dizer
que a relação com os americanos é saudável e de cooperação,
há um claro incômodo manifestado em conversas de bastidores com a repentina escalada
militar dos EUA.
Como revelou um dos integrantes do batalhão brasileiro à
Folha, o Brasil pretende se
contrapor a iniciativas dos
EUA consideradas desastrosas
-e já suspensas-, como a de
jogar caixas de mantimentos
de helicópteros, causando
grande tumulto. Mais do que
isso, também há o claro propósito de mostrar que não há nenhuma área de controle exclusivo americano no país, com a
exceção do aeroporto (objeto
de um acordo de procedimento
assinado com a Minustah).
Entrega em lixão
Desde a semana passada, os
brasileiros têm feito eventos de
distribuição de cestas básicas e
água. Ontem, 320 cestas com
leite em pó, açúcar, presunto e
biscoito foram distribuídas ao
lado de um lixão numa favela
no bairro de Cité Militaire. A
operação foi acompanhada por
cerca de 30 militares da Minustah, armados e usando capacetes e coletes à prova de bala.
Para evitar tumulto, os soldados brasileiros não anunciam
com antecedência onde estarão. Assim que os caminhões
aparecem, pessoas saem de
suas casas ou tendas e começam a correr para pegar um lugar melhor na fila.
Mulheres costumam levar a
pior, e por isso há um esforço da
Minustah para que algumas delas furem a fila. Outra estratégia dos brasileiros é terceirizar
parte da distribuição para alguns líderes locais. "A própria
população nos ajuda a fiscalizar
essas pessoas para evitar que
haja desvio", afirma o capitão
de fragata Julio César da Costa,
coordenador das operações de
doação.
Durante a distribuição de alimentos, há empurra-empurra
e uma luta para conseguir o
melhor lugar. Quando a carga
acaba, a ordem é deixar o local
rapidamente para evitar confusão.
(FÁBIO ZANINI)
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