Adriana Zehbrauskas/Folha Imagem - Jun.97

Índio mexicano reza em igreja de Chiapas

da Redação

O papa João Paulo 2º, 78, chega hoje à Cidade do México para comemorar 20 anos de viagens apostólicas pelo mundo, iniciadas em janeiro de 1979, apenas três meses após sua eleição, exatamente com uma visita ao México.
Durante os 20 anos e três meses de duração de seu pontificado (o mais longo do século 20), o polonês Karol Wojtyla realizou 85 viagens internacionais, um feito que é um dos pontos fortes de seu período na liderança da Igreja Católica.
A decisão de João Paulo 2º de dar início às suas viagens com uma visita ao México não foi gratuita. Pelo contrário: deixou claro, desde o início, que o novo papa pretendia, com sua presença, abrir portas para a igreja e aumentar sua influência política.
Em 1979, o México tinha cerca de 70 milhões de habitantes (sendo 97% católicos). Hoje, são quase 100 milhões, mas cerca de 90% católicos. O Vaticano e o México não tinham, à época, relações diplomáticas, estabelecidas em 1992.
Vinte anos depois, durante os quais pisou quatro vezes em solo mexicano, o papa enfrenta um novo desafio: o crescimento de outras religiões (ou mesmo seitas) cristãs no país, fenômeno também presente em outros países da América Latina (AL).
Além de sua relevância enquanto efeméride, a visita ao México, que durará cinco dias, será marcada pelo lançamento de um documento que estabelecerá as diretrizes para a ação da Igreja Católica na AL no início do novo milênio.
Segundo a agência "Associated Press", metade do cerca de 1 bilhão de católicos existentes no mundo vivem na América Latina.
O documento reunirá as principais conclusões do Sínodo dos Bispos para a América, realizado em outubro de 1997 em Santo Domingo (República Dominicana), que reuniu representantes de todos os países do continente, inclusive dos Estados Unidos e do Canadá (onde o catolicismo não é majoritário).
O documento solidificará a orientação de João Paulo 2º para a Igreja Católica latino-americana, que passou por profundas mudanças desde o início de seu pontificado, em outubro de 1978.
Em 1979, o papa chegou ao México em meio ao debate sobre a "teologia da libertação", segundo a qual a igreja teria a missão de libertar os habitantes da região da pobreza e da opressão. Na época, muitos países da AL viviam sob regimes autoritários.
O papa reprimiu o envolvimento do clero na política e substituiu, gradualmente, lideranças religiosas "progressistas" (mais próximas da esquerda) por bispos e cardeais identificados com a nova orientação do Vaticano, qualificada como "mais espiritual".
Mas os temas da pobreza e da fome continuam no centro do debate no continente e serão abordados pelo papa na visita ao México.
A viagem de João Paulo inclui também uma escala em St. Louis, no Estado de Missouri, nos Estados Unidos, onde se encontrará com o presidente Bill Clinton.
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