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TRANSIÇÃO
Para jornalista e ex-líder estudantil iraniana, regime islâmico cairá logo
Exilada vê "Renascimento" no Irã
Reprodução
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A ex-líder estudantil iraniana Susan Akbarpour, na Califórnia |
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O regime islâmico está com os
dias contados no Irã, na opinião
de uma pioneira da "geração
das reformas" -a ex-líder estudantil Susan Akbarpour. "A crise atual mostra que o regime islâmico não poderá durar muito
mais tempo. O Estado e a religião nunca formaram uma
aliança frutífera", disse Akbarpour à Folha.
Para ela, "o islã, como as outras religiões do Irã, continuará
a existir, mas ele não poderá
controlar o comportamento das
pessoas". "O que vemos hoje
tem o mesmo valor para o Irã
que o Renascimento teve para a
Europa", diz Akbarpour, aludindo ao movimento dos séculos 15 e 16 que, para seus protagonistas, superou a "estagnação" intelectual, artística e científica da Idade Média.
Leia a seguir trechos da entrevista dada por Akbarpour, que
vive nos EUA desde 1997.
Folha - Como a sra. analisa o
confronto atual entre conservadores e reformistas no Irã?
Susan Akbarpour - Vejo a situação atual como um conflito entre dois grupos que ainda buscam encontrar uma plataforma
política correta um quarto de
século depois da revolução.
Essa plataforma, que ainda é
desconhecida, poderá tornar-se
o primeiro passo na busca por
um modo democrático de tomar o poder das mãos dos clérigos. Há muitos conflitos do gênero na história de vários países
que são democráticos hoje.
Esses dois grupos, como os
democratas e os republicanos
nos EUA, deveriam perceber
que as pessoas preferem plataformas construtivas. Pode haver
percalços, mas o caminho está
sendo traçado. Ambos os grupos têm objetivos corretos e errôneos, porém deveria caber ao
eleitorado iraniano julgá-los.
Folha - Trata-se do início do fim
do regime islâmico?
Akbarpour - A crise atual mostra que o regime islâmico não
poderá durar muito mais tempo. O Estado e a religião nunca
formaram uma aliança frutífera.
O islã, como as outras religiões
do Irã, continuará a existir, contudo ele não poderá controlar o
comportamento das pessoas. O
que vemos hoje tem o mesmo
valor para o Irã que o Renascimento teve para a Europa.
Folha - Por que os estudantes
não têm um papel mais ativo?
Akbarpour - Como deixei o Irã
há sete anos, não posso falar ao
certo. Todavia creio que a nova
geração de estudantes, como
seus colegas do mundo inteiro,
esteja mais preocupada com
suas próprias necessidades do
que com a evolução da política.
Vale lembrar que os estudantes que se sublevaram há alguns
anos já estão formados. Várias
formas de liberdade individual,
como o direito de ir a um concerto ou a uma festa, já foram
quase totalmente conquistadas.
O peso de pensar em política
continua nas costas da geração
anterior de estudantes.
Folha - Como foi seu tempo como líder estudantil no Irã?
Akbarpour - Na década de 90,
eu era uma jovem que buscava
respostas para milhões de questões na minha cabeça.
Eu deveria permanecer no Irã,
como fez meu pai [cuja revista
"Melat" foi banida após a revolução], para acabar morrendo
aos 44 anos? Ou deveria pôr o
véu em minha cabeça pela primeira vez na vida, agindo contra
meus próprios valores? Ou ainda deveria deixar que pessoas
que não tinham nem metade de
meu conhecimento tomassem
conta da mídia, sendo pagos por
textos sem nenhum significado?
É muito difícil explicar aos clérigos que nós, iranianos de
mente aberta e educados, não
queremos afastá-los de nosso
círculo social, como ocorreu durante cada grande movimento
social nos 3.000 anos de nossa
civilização. É difícil mostrar-lhes que, se eles fossem mais tolerantes, haveria lugar para todos em nossa sociedade.
Só encontrei as respostas que
procurava quando, de véu na
cabeça, tentei pensar de modo
diferente e fazer com que meus
chefes, todos religiosos, entendessem por que eu era diferente.
Com isso, também percebi que
eles tinham o direito de pensar
de outra forma. Assim, nasceu o
movimento reformista no Irã, e
nós nos tornamos a chamada
"geração das reformas".
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