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[+]análise
Comunistas e verdes minam governo Prodi
JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM ROMA
O alívio do governo italiano depois da manifestação
pacífica do sábado, que reuniu cerca de 100 mil pessoas
(80 mil, para a prefeitura;
200 mil, para os organizadores) em um protesto contra a
ampliação da base militar
americana em Vicenza durou pouco. Não houve incidentes durante o dia de protestos, embora o Ministério
do Interior temesse a ocorrência de infiltrações por pequenos grupos de militantes
violentos, mas o sucesso da
mobilização dos oponentes
da base não serviu para reduzir a tensão política que aflige a coalizão governista de
centro-esquerda.
A ampliação da base de Vicenza, decidida durante o governo de Silvio Berlusconi e
confirmada, em 17 de janeiro, pelo premiê Romano Prodi, continua a ser causa de
discórdia entre as facções
que a imprensa italiana denomina de "as duas esquerdas", unidas no poder. Estimulados pelo sucesso popular da manifestação, o Partido de Refundação Comunista (PRC), o Partido dos Comunistas Italianos (PDCI) e
o Partido Verde, os três
membros da coalizão governista que apóia Prodi, decidiram exigir que o governo reconsiderasse sua decisão.
Os comunistas defendem a
idéia de uma reversão completa quanto ao projeto.
"Apelamos ao governo que
escute o grande número de
defensores da paz que fazem
parte de seu eleitorado", declarou Oliviero Diliberto, secretário-geral do PDCI.
Os verdes, por sua vez,
querem reabrir as discussões
sobre o impacto ambiental
de um projeto de US$ 500
milhões, que permitiria à base de Vicenza acolher 4.500
soldados, em lugar dos atuais
2.750 militares hoje lá. Os dirigentes do PRC, de sua parte, voltaram a propor a idéia
de um referendo local.
O governo já não havia
conseguido formar maioria
no Senado para aprovar esse
projeto em janeiro, e isso
obrigou Romano Prodi a
convocar os líderes dos partidos da coalizão governista
para tentar "enquadrá-los".
Mesmo assim, a questão
voltou à pauta ontem, com a
retomada no Senado dos debates sobre a política externa
da Itália. O financiamento
das missões militares do país
no exterior, em especial no
Afeganistão, onde 1.900 soldados italianos estão em
combate, derrubou a maioria
de Prodi na Câmara alta.
Antes da votação, o chefe
de governo havia apelado aos
componentes da maioria,
lembrando-os de que eles assinaram e aprovaram um
programa legislativo, e que
mudar de rumo devido à
pressão de uma manifestação, ainda que legítima e importante, seria uma decisão
indigna.
Prodi vem tentando preservar uma relação equilibrada com os EUA, apesar
das numerosas fontes de
conflito entre os dois países
que vieram à tona nos últimos meses: a polêmica sobre
a base de Vicenza; o indiciamento de um soldado americano acusado de matar um
agente secreto italiano no
Iraque; a investigação sobre
as atividades de 26 operadores da CIA, por seu suposto
envolvimento no seqüestro
de um cidadão egípcio em solo italiano.
Alguns dias atrás, Ronald
Spogli, embaixador dos EUA
em Roma, teve de se explicar
com relação a uma carta
aberta, publicada pela imprensa italiana, na qual, por
iniciativa dele, seis embaixadores pressionavam Roma a
manter sua presença militar
no Afeganistão.
A retirada das tropas italianas, defendida pelos comunistas e pelos verdes, foi
considerada "insensata e irrealista" por Massimo d'Alema, o chanceler e presidente
dos Democratas de Esquerda
(DS), o principal partido italiano de centro-esquerda.
Mas nem o líder da diplomacia italiana nem Prodi mencionaram nenhuma possibilidade de atender ao apelo
americano pelo envio de ainda mais soldados italianos ao
Afeganistão.
Ao receber o presidente
afegão Hamid Kharzai em
Roma, em 16 de fevereiro,
Prodi assegurou a manutenção da presença militar italiana no Afeganistão sem reforços ou retiradas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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