São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

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[+]análise

Comunistas e verdes minam governo Prodi

JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM ROMA

O alívio do governo italiano depois da manifestação pacífica do sábado, que reuniu cerca de 100 mil pessoas (80 mil, para a prefeitura; 200 mil, para os organizadores) em um protesto contra a ampliação da base militar americana em Vicenza durou pouco. Não houve incidentes durante o dia de protestos, embora o Ministério do Interior temesse a ocorrência de infiltrações por pequenos grupos de militantes violentos, mas o sucesso da mobilização dos oponentes da base não serviu para reduzir a tensão política que aflige a coalizão governista de centro-esquerda.
A ampliação da base de Vicenza, decidida durante o governo de Silvio Berlusconi e confirmada, em 17 de janeiro, pelo premiê Romano Prodi, continua a ser causa de discórdia entre as facções que a imprensa italiana denomina de "as duas esquerdas", unidas no poder. Estimulados pelo sucesso popular da manifestação, o Partido de Refundação Comunista (PRC), o Partido dos Comunistas Italianos (PDCI) e o Partido Verde, os três membros da coalizão governista que apóia Prodi, decidiram exigir que o governo reconsiderasse sua decisão.
Os comunistas defendem a idéia de uma reversão completa quanto ao projeto. "Apelamos ao governo que escute o grande número de defensores da paz que fazem parte de seu eleitorado", declarou Oliviero Diliberto, secretário-geral do PDCI.
Os verdes, por sua vez, querem reabrir as discussões sobre o impacto ambiental de um projeto de US$ 500 milhões, que permitiria à base de Vicenza acolher 4.500 soldados, em lugar dos atuais 2.750 militares hoje lá. Os dirigentes do PRC, de sua parte, voltaram a propor a idéia de um referendo local.
O governo já não havia conseguido formar maioria no Senado para aprovar esse projeto em janeiro, e isso obrigou Romano Prodi a convocar os líderes dos partidos da coalizão governista para tentar "enquadrá-los".
Mesmo assim, a questão voltou à pauta ontem, com a retomada no Senado dos debates sobre a política externa da Itália. O financiamento das missões militares do país no exterior, em especial no Afeganistão, onde 1.900 soldados italianos estão em combate, derrubou a maioria de Prodi na Câmara alta.
Antes da votação, o chefe de governo havia apelado aos componentes da maioria, lembrando-os de que eles assinaram e aprovaram um programa legislativo, e que mudar de rumo devido à pressão de uma manifestação, ainda que legítima e importante, seria uma decisão indigna.
Prodi vem tentando preservar uma relação equilibrada com os EUA, apesar das numerosas fontes de conflito entre os dois países que vieram à tona nos últimos meses: a polêmica sobre a base de Vicenza; o indiciamento de um soldado americano acusado de matar um agente secreto italiano no Iraque; a investigação sobre as atividades de 26 operadores da CIA, por seu suposto envolvimento no seqüestro de um cidadão egípcio em solo italiano.
Alguns dias atrás, Ronald Spogli, embaixador dos EUA em Roma, teve de se explicar com relação a uma carta aberta, publicada pela imprensa italiana, na qual, por iniciativa dele, seis embaixadores pressionavam Roma a manter sua presença militar no Afeganistão.
A retirada das tropas italianas, defendida pelos comunistas e pelos verdes, foi considerada "insensata e irrealista" por Massimo d'Alema, o chanceler e presidente dos Democratas de Esquerda (DS), o principal partido italiano de centro-esquerda. Mas nem o líder da diplomacia italiana nem Prodi mencionaram nenhuma possibilidade de atender ao apelo americano pelo envio de ainda mais soldados italianos ao Afeganistão.
Ao receber o presidente afegão Hamid Kharzai em Roma, em 16 de fevereiro, Prodi assegurou a manutenção da presença militar italiana no Afeganistão sem reforços ou retiradas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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