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Sérvios queimam a Embaixada dos EUA
Grupo de radicais tenta destruir edifício em resposta ao reconhecimento de Washington à independência de Kosovo
Bombeiros acham um corpo
carbonizado; diplomatas e
funcionários não estavam
no prédio, desocupado no
domingo, após protestos
Milos Peric/France Presse
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Antes do ataque à embaixada, sérvios participam em Belgrado de ato contra a independência kosovar, convocado pelo governo |
DA REDAÇÃO
Uma centena de sérvios,
muitos com o rosto coberto por
máscaras, invadiu o prédio da
Embaixada dos Estados Unidos
em Belgrado, provocando um
incêndio que demorou para ser
controlado pelos bombeiros.
Vidraças foram estilhaçadas, e
móveis e documentos, atirados
pelas janelas. Um cadáver carbonizado, provavelmente de
um manifestante, foi retirado à
noite do edifício.
Os EUA reconheceram na segunda-feira a independência da
Província sérvia de Kosovo,
que na véspera se declarou Estado soberano. Kosovo estava
sob administração da ONU
desde a intervenção da Otan (a
aliança militar liderada pelos
EUA) contra a repressão sérvia
aos separatistas kosovares.
Cerca de mil pessoas, aglomeraradas do lado de fora da
embaixada, aplaudiam o ato de
vandalismo. As embaixadas são
protegidas pelo princípio da extraterritorialidade (território
do país representado). A polícia, ausente, chegou 30 minutos depois e dispersou os radicais com gás lacrimogêneo. Há
88 feridos, 19 deles policiais.
O embaixador americano nas
Nações Unidas, Zalmay Khalilzad, declarou-se "ultrajado"
pelo incidente, condenado em
duros termos pelo Conselho de
Segurança -no qual a Rússia
tem poder de veto. Declaração
do Conselho critica ataques às
embaixadas estrangeiras, mas
acolhe os esforços sérvios para
restaurar a ordem.
As embaixadas da Croácia, da
Bósnia e da Turquia também
foram atacadas por manifestantes, que danificaram bancos
e uma loja da rede McDonald"s.
O chanceler sérvio Vuk Jeremic condenou na noite de ontem os "atos lamentáveis de extremistas" e afirmou que a violência não será tolerada.
Ato de 150 mil
Esse conjunto de incidentes
foi precedido por uma grande
manifestação com declarações
exaltadas, convocada pelo governo e que reuniu 150 mil pessoas diante do Parlamento.
O primeiro-ministro sérvio,
Vojislav Kostunica, principal
orador, reiterou que "Kosovo
pertence ao povo sérvio, assim
sempre foi e assim sempre será". A multidão empunhava
bandeiras sérvias e de países
que não reconheceram o novo
Estado, como as da Espanha, da
Rússia e do Brasil.
"Fora o terrorismo americano", dizia um dos cartazes.
Uma bandeira albanesa foi
queimada. Kostunica qualificou a secessão de "ato de força"
e afirmou que, aceitando a força e o medo, seu país não
honraria a memória dos que
permitiram sua formação.
O líder ultranacionalista Tomislav Nikolic acusou os EUA e
a União Européia por terem
"roubado" Kosovo. Para atrair
manifestantes, o governo decretou ponto facultativo e tornou gratuito os ônibus e trens.
Ao fim da manifestação, milhares de participantes se reuniram na catedral cristã ortodoxa. Em Kosovo predomina o
islamismo, religião dos etnicamente albaneses.
O presidente Boris Tadic não
participou do ato público por
estar em visita à Romênia, que,
ao lado da Espanha e Chipre,
forma na União Européia o bloco que nega o reconhecimento
de Kosovo como Estado.
Em Bucareste, Tadic disse
que, apesar do sentimento anti-UE em seu país, "não nos afastaremos da Europa e não abriremos mão de nosso futuro europeu". Considerado pró-Ocidente, ele quer o ingresso da
Sérvia no bloco. Luxemburgo
reconheceu ontem o novo Estado, elevando a 16 o número
dos que acompanharam o
exemplo dos EUA, Reino Unido, Alemanha e França.
Posto de fronteira
Um grupo de 200 reservistas
sérvios vindos da cidade de
Kursumlija atacou com pedradas o posto de fronteira de
Merdare, localizado ao norte de
Kosovo, e por alguns minutos
penetrou em território kosovar. Um policial ficou ferido. Os
reservistas se dispersaram depois de queimar pneus.
O ministro alemão da Defesa,
Franz-Josef Jung, visitou ontem Kosovo e reiterou o apoio
de seu país ao contingente de 16
mil militares da Otan, a aliança
ocidental, que desde 1999 assegura a defesa do território.
Em entrevista à Associated
Press, o presidente kosovar,
Fatmir Sejdiu, acusou a Sérvia
de estar "raivosamente desafiando a independência" de seu
país e reiterou a importância
das tropas da Otan.
Sejdiu também acusou a Sérvia de estimular, por meio de
"apelos irracionais", manifestações separatistas de sérvios
étnicos ao norte de Kosovo.
Em Berlim, o ministro das
Relações Exteriores alemão,
Frank-Walter Steinmeier, disse ser "fundamental" evitar a
divisão do território kosovar.
O "New York Times" diz que
tudo indica existir um plano
para que a Sérvia incorpore as
aldeias kosovares habitadas
por sérvios. O ministro sérvio
para assuntos do Kosovo, Metohija Samardzic, assim comentou a destruição de postos
de fronteira: "Pode não ser
agradável, mas é legítimo."
Com agências internacionais
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