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República islâmica é a principal rota de escoamento do ópio afegão
Irã tem 3,5 milhões de dependentes de drogas, e cifra cresce a 90 mil por ano
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEERÃ
Não é fácil ser vizinho do
maior armazém de drogas do
mundo. A rígida e puritana República Islâmica do Irã vê o número de dependentes de drogas aumentar ano após ano, em
progressão geométrica.
É absolutamente normal ver
seringas usadas jogadas no
chão de parques dos bairros pobres de Isfahan, cidade turística no centro-oeste do Irã -exatamente os que acolhem mais
refugiados afegãos.
De acordo com a ONU, o Irã
tem 3,5 milhões de dependentes de drogas, e a cifra aumenta
com estimados 90 mil dependentes novos a cada ano. É uma
das taxas mais altas do mundo e
uma quantidade altíssima para
um país de 70 milhões de habitantes, dos quais a metade tem
menos que 24 anos.
O fantasma da droga preocupa as famílias. É o caso de Vali,
um vendedor de tapetes em
Meshed, uma das principais cidades sagradas do Irã.
Seu filho, estudante de informática, aprendeu -como muitos outros jovens iranianos- a
fugir da férrea moral imposta
pelos clérigos xiitas: ele fuma
tabaco nas casas de chá clandestinas, flerta com garotas e
provavelmente bebe álcool
ocasionalmente. Mas seu pai se
preocupa apenas com as drogas, e ele e sua mulher decidiram submeter o filho a exames
de sangue regulares para detectar substâncias tóxicas.
O tema é tabu para o governo
iraniano, que proíbe o consumo de álcool e o uso de qualquer tipo de droga. Mas a verdade é que o Irã é a primeira escala no tráfico de drogas proveniente do vizinho Afeganistão
em direção à Europa e ao resto
do mundo, a "rota de ouro" do
ópio -que pouco esmoreceu
com a chegada das tropas dos
EUA e da Otan, em 2001.
A ONU afirma que 60% do
tráfico mundial de heroína passa pelo Irã. O problema é tão
grave que, quando o terremoto
de Bam arrasou a cidade histórica no sudeste do país, em
2003, a república islâmica foi
obrigada a pedir aos organismos internacionais que incluíssem metadona -droga usada
para tratar dependentes de heroína- na ajuda humanitária.
Não se pode dizer que o Irã
não faça nada para controlar
suas fronteiras. O país é responsável por 80% do ópio e
90% da morfina confiscados no
mundo. Mesmo assim, comboios carregados de drogas, escoltados por homens armados
com fuzis Kalashnikov, continuam a abrir caminho na província de Khoresan e em outras
partes da extensa fronteira
com o Afeganistão.
Desde 1979, pelo menos
3.600 policiais iranianos foram
mortos nessa região.
(MARINA MESEGUER TORRES)
Tradução de CLARA ALLAIN
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