São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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República islâmica é a principal rota de escoamento do ópio afegão

Irã tem 3,5 milhões de dependentes de drogas, e cifra cresce a 90 mil por ano

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEERÃ

Não é fácil ser vizinho do maior armazém de drogas do mundo. A rígida e puritana República Islâmica do Irã vê o número de dependentes de drogas aumentar ano após ano, em progressão geométrica.
É absolutamente normal ver seringas usadas jogadas no chão de parques dos bairros pobres de Isfahan, cidade turística no centro-oeste do Irã -exatamente os que acolhem mais refugiados afegãos.
De acordo com a ONU, o Irã tem 3,5 milhões de dependentes de drogas, e a cifra aumenta com estimados 90 mil dependentes novos a cada ano. É uma das taxas mais altas do mundo e uma quantidade altíssima para um país de 70 milhões de habitantes, dos quais a metade tem menos que 24 anos.
O fantasma da droga preocupa as famílias. É o caso de Vali, um vendedor de tapetes em Meshed, uma das principais cidades sagradas do Irã.
Seu filho, estudante de informática, aprendeu -como muitos outros jovens iranianos- a fugir da férrea moral imposta pelos clérigos xiitas: ele fuma tabaco nas casas de chá clandestinas, flerta com garotas e provavelmente bebe álcool ocasionalmente. Mas seu pai se preocupa apenas com as drogas, e ele e sua mulher decidiram submeter o filho a exames de sangue regulares para detectar substâncias tóxicas.
O tema é tabu para o governo iraniano, que proíbe o consumo de álcool e o uso de qualquer tipo de droga. Mas a verdade é que o Irã é a primeira escala no tráfico de drogas proveniente do vizinho Afeganistão em direção à Europa e ao resto do mundo, a "rota de ouro" do ópio -que pouco esmoreceu com a chegada das tropas dos EUA e da Otan, em 2001.
A ONU afirma que 60% do tráfico mundial de heroína passa pelo Irã. O problema é tão grave que, quando o terremoto de Bam arrasou a cidade histórica no sudeste do país, em 2003, a república islâmica foi obrigada a pedir aos organismos internacionais que incluíssem metadona -droga usada para tratar dependentes de heroína- na ajuda humanitária.
Não se pode dizer que o Irã não faça nada para controlar suas fronteiras. O país é responsável por 80% do ópio e 90% da morfina confiscados no mundo. Mesmo assim, comboios carregados de drogas, escoltados por homens armados com fuzis Kalashnikov, continuam a abrir caminho na província de Khoresan e em outras partes da extensa fronteira com o Afeganistão.
Desde 1979, pelo menos 3.600 policiais iranianos foram mortos nessa região. (MARINA MESEGUER TORRES)


Tradução de CLARA ALLAIN


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