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O NOVO PAPA
Bento 16 opta por continuidade na igreja
Dois dias após sua eleição, o novo papa mantém todo o topo da burocracia da Igreja Católica em Roma nos seus cargos até segunda ordem
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Dois dias após sua eleição, o papa Bento 16 tomou sua primeira
medida administrativa. Manteve
todo o topo da burocracia da Igreja Católica em Roma nos seus cargos, "donec aliter provideatur"
-frase em latim que significa
"até outras providências", ou seja,
até segunda ordem.
Com isso, o alemão Joseph Ratzinger garante a governabilidade
da igreja, a começar pelo seu número 2, o cardeal italiano Angelo
Sodano, mantido no cargo de secretário de Estado com seus dois
adjuntos. O cardeal serviu 14 anos
no cargo sob João Paulo 2º, mas,
aos 77 anos, Sodano já ultrapassou em dois a idade em que o Vaticano pede a demissão do seus altos funcionários, o somado à
menção às futuras mudanças, indica que Bento 16 deverá promover alterações na Cúria Romana.
Historicamente Ratzinger era
um defensor de uma igreja centralizada, e especula-se que ele favorecerá uma redução no tamanho da burocracia em Roma.
Ninguém sabe ao certo o tamanho da máquina: uma vez perguntado, o bonachão papa João
23 (1958-63) respondeu: "É a metade". A Cúria é formada por dicastérios, que é o nome dado às
diversas congregações, tribunais
eclesiásticos, conselhos, órgãos da
administração do Vaticano e outros. Há cerca de 3.000 funcionários, entre contratados e prestadores de serviços.
Os dicastérios são chefiados
normalmente por cardeais, com
arcebispos logo abaixo, descendo
a bispos, monsenhores até o nível
básico de padre. Há leigos nos andares de baixo da estrutura.
Só não foi anunciado quem sucederá a Ratzinger na poderosíssima Congregação para a Doutrina da Fé, que ele liderou por quase 24 anos sem concessão a elementos que considerava modernizantes em termos teológicos.
Perseguiu religiosos e ajudou a
quebrar a espinha da chamada
"igreja progressista" na América
Latina. Como virou papa, o cargo
ficou vago. Entre os candidatos
em especulação estão o arcebispo
de Viena, Christoph Schönborn,
muito ligado a Ratzinger.
O papa emitiu mais um sinal
conciliatório ontem, após ler anteontem uma homilia em que falava com surpreendente abertura
de temas como ecumenismo, ao
enviar um telegrama para o rabino-chefe de Roma, Riccardo di
Segni. Pediu ao "Altíssimo para
continuar o diálogo e reforçar a
colaboração com os filhos e filhas
do povo hebreu".
Além da questão do ecumenismo em si, que como cardeal Ratzinger combateu em termos teológicos, o contato mostra normalidade numa relação que alguns
temem poder azedar, já que
quando adolescente o alemão foi
convocado a servir na Juventude
Hitlerista e, depois, nas Forças
Armadas nazistas. João Paulo 2º
havia sido o primeiro papa a entrar numa sinagoga, em 1986.
A impressão que se tem em Roma é a de que Bento 16 adotará,
pelo menos nos primeiros sinais
externos, uma postura mais flexível do que a do ultraconservador
Ratzinger. A análise só poderá ser
feita com o correr do tempo.
Bento 16 celebra no domingo
sua primeira missa pública, na
qual receberá o Anel do Pescador,
símbolo do poder papal que faz
referência à profissão do primeiro
líder da Igreja Católica, são Pedro.
O governo da Itália e o do Vaticano estão preparando um esquema de segurança semelhante ao
adotado no funeral de Karol
Wojtyla. Estima-se aproximadamente 500 mil fiéis na missa, um
pouco menos do que no enterro
do dia 8 passado.
Enquanto isso, mantém uma
agenda relativamente cheia. Além
das duas visitas externas a seu antigo apartamento ontem e anteontem, perto do Vaticano, Bento 16 faz hoje um encontro com
todos os cardeais que ainda estão
em Roma.
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