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Palestra no Rio em 90 dá pistas sobre papado
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
Se depender do que o próprio
cardeal Joseph Ratzinger disse
-e escreveu- em visita ao Rio
em 1990, o pontificado de Bento
16 não deve seguir a mesma lógica
de severa ortodoxia que marcou
seu trabalho à frente da Congregação para a Doutrina da Fé.
O cardeal disse então que um
papa não deve seguir "sua própria
lógica" no exercício da função. A
idéia aparece numa das conferências que fez para cerca de cem bispos brasileiros, a convite do então
cardeal do Rio de Janeiro, d. Eugenio Sales. Ratzinger falou sobre
a Igreja Católica, sua hierarquia e
o papel do papa. Os textos do curso foram reunidos no livro "Compreender a Igreja Hoje" (Vozes).
Na segunda conferência, "O Primado de Pedro e a Unidade da
Igreja", ele lembra que o primeiro
pontífice foi repreendido por Jesus e chamado de "Satanás" e
"objeto de tropeço" após "repreender o Senhor" e não aceitar
que aconteceriam a morte e a ressurreição que o próprio Cristo
anunciava. "Aquele que, por graça de Deus, está destinado a ser a
rocha sobre a qual se apoiará o
edifício da igreja é, por si próprio,
uma pedra no caminho", afirmou. O trecho talvez ajude a entender as mudanças no discurso
de Ratzinger e a constante nas
mensagens do papa Bento 16 até
agora: a extrema humildade.
"Antecipa-se nisso, de alguma
maneira, todo o drama da história
dos papas, na qual nos deparamos constantemente com essas
duas realidades: a de que o papado permanece o fundamento da
igreja, por uma força que não provém dele, e a de que, ao mesmo
tempo, alguns papas se convertem, a partir de seu próprio ser
humano, em pedra de escândalo,
por quererem adiantar-se ao Cristo, em lugar de segui-lo; por acreditarem que devem traçar por sua
própria lógica o caminho que somente Ele pode fixar", disse.
O cardeal alemão fez no Rio
uma defesa contundente da hierarquia na igreja, defendendo a
primazia de Roma sobre as igrejas
locais. Também combateu teologias que, inspiradas pelo liberalismo ou pelo marxismo, contribuem, segundo ele, para enfraquecer a instituição e dispersar os
católicos. O marxismo pode contribuir para o enfraquecimento da
igreja, diz Ratzinger, ao apresentar Jesus como alguém que se
apresenta como opositor das instituições estabelecidas.
"Segundo esse modelo dialético, à igreja institucional contrapõe-se a "igreja do povo", que nasce constantemente do povo e, por
isso, perpetua as intenções de Jesus: sua luta contra a instituição e
seu poder opressor em favor de
uma nova sociedade livre, que será "o Reino de Deus'", afirmou.
Quando prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger combateu a Teologia da Libertação e impôs silêncio a um de
seus principais representantes no
Brasil, Leonardo Boff. Independentemente da origem ideológica
das teorias de Boff, os representantes "progressistas" da igreja no
Brasil sempre defenderam maior
autonomia para as igrejas locais
em relação a Roma.
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