São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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Papa Bento 16 já movimenta vida turística de Roma

DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Ainda de forma tímida, o papa Bento 16 toma seu lugar na estrutura de interesses turísticos de uma das cidades mais visitadas do mundo, Roma.
Sua segunda saída dos muros do Vaticano para visitar o apartamento onde morava, a menos de 100 metros da Santa Sé, consolidou seu status de novidade para os turistas e italianos que trabalham na região.
A pequena praça da Città Leonina, onde fica o prédio de quatro andares no qual Joseph Ratzinger morou por 24 anos, não era suficiente para a quantidade de turistas, jornalistas e locais querendo ver ou tirar uma foto do novo pontífice.
Bento 16 saiu de sua Mercedes com vidros fumê, placas SVC-1, após ter percorrido um trecho de via di Porta Angelica saindo da Porta de Santa Ana, no Vaticano. Pegou de surpresa os presentes, por volta das 16h. "Quando vi, lá estava o papa. Comecei a chamar minhas amigas", contou a estudante Patricia Rinni, 16.
Assim como ela, outros jovens eram vistos com celulares, enviando "torpedos" para chamar amigos. Logo, a aglomeração tomava forma, com fotógrafos e cinegrafistas desesperados por um lugar razoável para melhor captar a imagem de Ratzinger. Em quase três horas, havia uma pequena multidão, que não arredou o pé até a saída do papa, às 19h05.
"Agora posso dizer que vim a Roma e vi o papa", brincava com o clichê o brasileiro Rogério de Souza, de Belo Horizonte, que estava com os pais. Muitos turistas como ele paravam para perguntar o que estava acontecendo e acabavam ficando. Câmeras digitais e videocâmeras disputavam com o equipamento dos profissionais o melhor ângulo para filmar.
O papa saiu e acenou para os presentes, sob os gritos de "Be-ne-de-tto", intercalados por palmas. Diferentemente de ontem, não falou nada.
A três quadras dali, na via Vitelleschi, a austríaca Gerti era só sorrisos. "Nunca tive tantos clientes de uma só vez aqui, eu acho. E creio que virão ainda mais", disse ela, com um copo de cerveja alemã Spalde na mão. "Saúde ao papa!", brindou.
Gerti é uma das donas da Cantina Tirolese, um restaurante de comida austríaca, que guarda muita semelhança com a cozinha da Baviera, Estado vizinho no sul da Alemanha onde Ratzinger nasceu. Desde anteontem, circula na imprensa italiana a informação de que o então cardeal tinha no Tirolese seu restaurante predileto, o que levou a um afluxo de jornalistas ao local ontem. Havia pelo menos quatro equipes diferentes de reportagem na hora do almoço de ontem.


Empresa que faz lembranças dos papas decide adotar jornada dobrada para dar conta da demanda dos peregrinos que virão à primeira missa do novo papa alemão, no domingo

Um problema apenas: pode até ser o restaurante preferido de Ratzinger, mas definitivamente não é o local que mais freqüenta. "Ele vinha aqui umas duas, três, quatro vezes por ano, talvez. Mas todo ano estava aqui", disse a sócia do suposto "restaurante do papa". Em suas visitas, contam os garçons, deixava sempre gorjeta.
Segundo Gerti, Ratzinger sempre pedia o chamado prato tirolês, uma composição de várias especialidades típicas, como salsichas, goulash, chucrute e batatas a 12 euros (cerca de R$ 40). Para acompanhar, a tradicional Weissbier bávara (cerveja feita de trigo), a 3 euros (quase R$ 10) o copo alto e grande. A informação de Gerti contrasta com declarações de cardeais de que que o novo papa seria abstêmio.
O local é simples, barato para os padrões romanos e atende majoritariamente turistas durante o dia, quando funciona em esquema de self-service a preço fixo, 7,5 euros (cerca de R$ 25). Havia três mesas com religiosos ontem, dentro da média dos restaurantes das redondezas do Vaticano.
Mais afastado dali, num beco próximo da via Gregório 7º, outro que dava risadas ontem era Luigi Inglese. Ele é o dono da ILD, uma empresa especializada em lembranças religiosas.
"Já tínhamos tido um grande ganho com o aumento nas vendas de produtos relacionados a João Paulo 2º, embora obviamente não estejamos faturando em cima de uma morte. Agora é a vez de Bento 16", afirmou.
Os seus sete funcionários estão trabalhando em turno dobrado para atender à demanda dos peregrinos que virão à primeira missa do novo papa, no domingo. É uma tropa multinacional, com um peruano, um equatoriano e dois poloneses. Entre santinhos, missários, rosários perfumados, chaveiros, porta-moedas e outros badulaques, acredita que venderá cerca de 300 mil itens.
Ele já recebeu encomendas de lojas, mas faz também venda direta. O item mais barato, uma medalhinha ínfima, sai por 0,006 euro de lá para ser vendida por qualquer coisa entre 0,5 euro e 1 euro nas lojas e camelôs romanos. Quanto mais perto do Vaticano, mais caro, essa é a regra.
O produto mais caro em produção é uma imagem em prata de Karol Wojtyla, que ele vende por 40 euros na fábrica. "Nas lojas, chegam a cobrar 140 euros", afirmou com orgulho, sem revelar seu faturamento mensal. "Varia muito, mas com certeza esse será o melhor mês do ano", disse.
(IGOR GIELOW)


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