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Questões internas dissipam discussão sobre política externa no debate francês
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Se o governo de Jacques Chirac foi marcado pelo embate
com os EUA, sobretudo no que
tange o Iraque, os candidatos a
sucedê-lo, imersos nas questões cotidianas da França, foram tímidos ao apresentar suas
propostas de política externa. E
não por falta de assunto.
No âmbito europeu, o desafio
começa em junho, com o fim da
presidência alemã da União
Européia. Na ocasião, os 27
membros deverão adotar o plano da chanceler Angela Merkel
para tirar a UE da crise institucional. As rusgas dentro do bloco se agravaram com o "não"
que a França deu à adoção de
uma Constituição Européia.
A retórica dos candidatos é
oscilante. "Eles tentaram acenar para quem votou "não" e para quem votou "sim". Por isso
acabaram reduzindo o debate
sobre a Europa", diz Robert
Chaouad, especialista em Europa na Universidade Paris 8.
A socialista Ségolène Royal e
o candidato direitista Nicolas
Sarkozy criticaram a rigidez do
Banco Central Europeu, pilar
econômico do bloco. Já François Bayrou, que se diz de centro, tem um viés mais pró-europeu e defende um reforço de
políticas comuns, sobretudo as
de segurança.
Mas é quanto aos EUA que
surgem as maiores diferenças.
Sarkozy, que criticou a "arrogância" francesa na oposição à
Guerra do Iraque, poderá ser o
mais pró-americanos dos presidentes franceses, na visão de
especialistas. Uma simpatia tão
explícita destoa do tom gaullista da política externa francesa
-o que fez com que, ao longo
dos meses, "Sarkô" fosse amaciando o viés pró-EUA para defender a amizade com os parceiros transatlânticos, mas enfatizando a soberania francesa.
Já Ségolène quer manter distância do presidente George W.
Bush, ao passo que busca reforçar o laço com o Partido Democrata. "Consideramos que as
decisões tomadas pelo governo
Bush agravaram a situação do
sistema internacional", disse o
porta-voz de Ségolène ao embaixador dos EUA no país.
De olho em uma troca de comando, Bayrou também corteja os democratas: "Não tenho
dúvida que em breve haverá um
novo governo em Washington".
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