|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Uribe é acusado de comprar reeleição
Ex-senadora colombiana diz em vídeo que recebeu oferta de cargos por voto na emenda que permitiu segundo mandato
Imagens da ex-parlamentar Yidis Medina são de 2004; governo sugere que fita é montagem, e Procuradoria promete investigação
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente da Colômbia,
Álvaro Uribe, foi acusado de
oferecer cargos no governo em
troca de apoio para aprovar no
Congresso a emenda que permitiu a sua reeleição. A denúncia é da ex-senadora Yidis Medina, em depoimento gravado
em agosto de 2004 -dois meses após a votação- e divulgado
apenas anteontem à noite.
Medina diz que participou de
uma reunião na Casa de Nariño
(sede do governo) pouco antes
da votação para aprovar a reeleição, na qual o próprio Uribe
estava. Ali teria sido acordada a
entrega a ela de três cargos do
governo federal em seu departamento natal (Santander) e
um consulado caso ela apoiasse
a mudança constitucional.
"O presidente me disse que
por favor o ajudasse, que isso
era fazer a pátria, que o que se
conversasse com [o secretário
pessoal de Uribe] Alberto Velásquez (...) seria cumprido (...)
Que ele queria salvar este país e
ter um tempo mais para cumprir com seu programa de governo", disse, no vídeo.
O comportamento de Medina à época gerou polêmica.
Poucos dias antes da votação,
ela se comprometera a votar
contra a reeleição presidencial
na Primeira Comissão do Congresso. Em 4 de junho de 2004,
porém, a senadora foi um dos
18 parlamentares da comissão
que apoiaram a reeleição, aprovada por apenas dois votos de
diferença -outro parlamentar,
Teodolindo Avendaño, desapareceu na hora de votar. Dois
anos depois, Uribe foi reeleito.
Medina disse que decidiu divulgar o vídeo agora porque o
governo Uribe não cumpriu o
acordo. "Fui enganada pelo governo; somos responsáveis,
tanto eles por oferecer quanto
eu por receber", afirmou ao jornal "El Tiempo".
Ontem o Ministério Público
colombiano anunciou que investigará as acusações, que envolvem ainda o ex-ministro do
Interior Sabas Pretelt e o próprio procurador-geral, Mario
Iguarán, então vice-ministro.
O governo colombiano tem
negado qualquer acordo com
Medina e sugeriu que o vídeo é
uma montagem. Todos os funcionários citados também rejeitaram as denúncias.
Paramilitares
As acusações de Medina
ocorrem num momento em
que o Congresso colombiano
atravessa uma das piores crises
da sua história. Ontem, o senador uribista Ricardo Elcure
Chacón se tornou o 32º parlamentar preso por suposto envolvimento com paramilitares.
Quase todos os congressistas
detidos são governistas.
Os parlamentares presos são
acusados de fazer acordos eleitorais com os grupos paramilitares para obter apoio financeiro e logístico em regiões controladas por eles. O escândalo
da "parapolítica" tem provocado discussão sobre a conveniência de dissolver o atual
Congresso, mas Uribe já disse
que não antecipará eleições.
Apesar do estrago em sua base, Álvaro Uribe tem superado
os 80% de aprovação em recentes pesquisas, principalmente
devido à sua política linha dura
de segurança pública.
Texto Anterior: Artigo: Eleição frustra plano dos EUA Próximo Texto: Direitos humanos: Cuba reprime protesto de parentes de presos políticos Índice
|