São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uribe é acusado de comprar reeleição

Ex-senadora colombiana diz em vídeo que recebeu oferta de cargos por voto na emenda que permitiu segundo mandato

Imagens da ex-parlamentar Yidis Medina são de 2004; governo sugere que fita é montagem, e Procuradoria promete investigação

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi acusado de oferecer cargos no governo em troca de apoio para aprovar no Congresso a emenda que permitiu a sua reeleição. A denúncia é da ex-senadora Yidis Medina, em depoimento gravado em agosto de 2004 -dois meses após a votação- e divulgado apenas anteontem à noite.
Medina diz que participou de uma reunião na Casa de Nariño (sede do governo) pouco antes da votação para aprovar a reeleição, na qual o próprio Uribe estava. Ali teria sido acordada a entrega a ela de três cargos do governo federal em seu departamento natal (Santander) e um consulado caso ela apoiasse a mudança constitucional.
"O presidente me disse que por favor o ajudasse, que isso era fazer a pátria, que o que se conversasse com [o secretário pessoal de Uribe] Alberto Velásquez (...) seria cumprido (...) Que ele queria salvar este país e ter um tempo mais para cumprir com seu programa de governo", disse, no vídeo.
O comportamento de Medina à época gerou polêmica. Poucos dias antes da votação, ela se comprometera a votar contra a reeleição presidencial na Primeira Comissão do Congresso. Em 4 de junho de 2004, porém, a senadora foi um dos 18 parlamentares da comissão que apoiaram a reeleição, aprovada por apenas dois votos de diferença -outro parlamentar, Teodolindo Avendaño, desapareceu na hora de votar. Dois anos depois, Uribe foi reeleito.
Medina disse que decidiu divulgar o vídeo agora porque o governo Uribe não cumpriu o acordo. "Fui enganada pelo governo; somos responsáveis, tanto eles por oferecer quanto eu por receber", afirmou ao jornal "El Tiempo".
Ontem o Ministério Público colombiano anunciou que investigará as acusações, que envolvem ainda o ex-ministro do Interior Sabas Pretelt e o próprio procurador-geral, Mario Iguarán, então vice-ministro.
O governo colombiano tem negado qualquer acordo com Medina e sugeriu que o vídeo é uma montagem. Todos os funcionários citados também rejeitaram as denúncias.

Paramilitares
As acusações de Medina ocorrem num momento em que o Congresso colombiano atravessa uma das piores crises da sua história. Ontem, o senador uribista Ricardo Elcure Chacón se tornou o 32º parlamentar preso por suposto envolvimento com paramilitares. Quase todos os congressistas detidos são governistas.
Os parlamentares presos são acusados de fazer acordos eleitorais com os grupos paramilitares para obter apoio financeiro e logístico em regiões controladas por eles. O escândalo da "parapolítica" tem provocado discussão sobre a conveniência de dissolver o atual Congresso, mas Uribe já disse que não antecipará eleições.
Apesar do estrago em sua base, Álvaro Uribe tem superado os 80% de aprovação em recentes pesquisas, principalmente devido à sua política linha dura de segurança pública.


Texto Anterior: Artigo: Eleição frustra plano dos EUA
Próximo Texto: Direitos humanos: Cuba reprime protesto de parentes de presos políticos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.