São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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Tortura sob Bush pode levar a processos

Obama abre caminho para ações judiciais contra mentores das "técnicas duras de interrogatório" do governo passado

Presidente diz que apoiaria comissão de investigação bipartidária; diretor da CIA escreveu que tortura levou a "informações valiosas"


DA REDAÇÃO

O presidente americano, Barack Obama, abriu caminho ontem para processos contra autoridades do governo Bush que criaram o marco legal para torturar suspeitos de terrorismo em interrogatórios.
Em entrevista na Casa Branca, o democrata afirmou que os EUA perderam "o patamar moral" com o emprego de táticas como simulação de afogamento, que eram chamadas de "técnicas duras de interrogatório" pelo governo anterior.
O comentário de Obama foi feito um dia após reiterar, na sede da CIA (onde foi ovacionado), que os funcionários da agência envolvidos nos abusos não serão punidos por isso. Ele havia dito isso na semana passada, quando mandou divulgar memorandos secretos da gestão anterior sobre a questão.
Ontem, Obama deixou a cargo do secretário da Justiça, Eric Holder, avaliar se os mentores dos interrogatórios com tortura devem ser processados. Holder agirá "dentro dos parâmetros de inúmeras leis, e eu não pretendo prejulgar isso", disse.
Ele declarou também que apoiaria uma investigação parlamentar bipartidária do programa de detenção de suspeitos de terrorismo da era Bush. A porta aberta ontem por Obama aparentemente contrariou a declaração de seu chefe de gabinete (equivalente no Brasil a ministro-chefe da Casa Civil), Rahm Emanuel, que dissera, no domingo, que o governo não apoia processos contra "os que planejaram a política".
Assessores da Casa Branca depois informaram que ele tinha se referido aos superiores da CIA e não às autoridades do Departamento da Justiça autoras dos memorandos que os autorizavam.
Ontem, o "New York Times" revelou que o diretor da CIA, Dennis Blair, escreveu um memorando a seus funcionários, também na quinta passada, no qual diz que as técnicas agora banidas forneceram "informações valiosas". Na versão distribuída à imprensa não havia esse trecho e a agência disse que o documento passou por processo normal de edição.
A revelação deve munir as críticas de políticos republicanos e ex-funcionários, como o ex-diretor da CIA Michael Hayden, que alegam que a revelação dos memorandos compromete a segurança nacional.
O ex-vice-presidente Dick Cheney já havia pedido a divulgação de documentos que provariam que os órgãos de inteligência obtiveram dados importantes nos interrogatórios em que houve prática de tortura.
A revisão da política de combate ao terror de Bush representa uma encruzilhada para Obama, que a atacou duramente na campanha e é pressionado pela ala esquerda do Partido Democrata e no âmbito internacional a punir os abusos.


Com agências internacionais


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