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COMENTÁRIO
Quem será o próximo?
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT", EM BEIRUTE
Era Georges Hawi. Ex-secretário-geral do Partido Comunista,
mediador entre cristãos e muçulmanos, amigo dos palestinos durante a Guerra Civil e, é claro, crítico ferrenho da Síria.
"Ajude-me, ajude-me", ele gritava, ao ser arrastado por seu motorista e um vizinho dos escombros de seu carro destruído por
uma bomba. Coberto de sangue,
morreu nos braços deles.
Um alvo "fácil", um homem
que acreditava não precisar de
proteção. Mais ou menos como
seu amigo jornalista e também
crítico da Síria, Samir Kassir, assassinado em seu carro por explosivos instalados da mesma maneira, no começo do mês.
O sapato direito de Hawi jazia
entre os escombros espalhados
pela rua, no bairro de Wata Mouseibeth, Beirute. O Mercedes estava passando por um posto de gasolina quando alguém detonou a
bomba colocada debaixo do assento do passageiro, fazendo com
que o carro derrapasse, fora de
controle, por cerca de dez metros.
As pessoas estavam revoltadas,
e a palavra "Síria" não saía de seus
lábios quando me encontrei com
Ghazi Aridi, amigo de Walid Jumblatt, druso como ele, e ex-ministro da Informação, na cena do crime. O choque de Aridi era palpável. "Venha comigo", murmurou,
e caminhamos para longe do carro destruído. Esse, ele disse, com
raiva, "é mais um passo no mesmo projeto de assassinar todos os
líderes da oposição, do futuro do
Líbano. A grande questão é a seguinte: será que todos os líderes
oposicionistas são alvos, agora?"
E, evidentemente, passadas algumas horas, a Síria insistia em
que não tinha nada a ver com o
mais recente assassinato, e o presidente Emile Lahoud, o melhor
amigo da Síria, estava denunciando o assassinato dessa figura "nacional", como "um novo capítulo
da conspiração contra o Líbano".
Pois enquanto os assassinos faziam seu trabalho, ontem, a equipe internacional de investigação
da ONU começava a interrogar o
brigadeiro-general Mustafá Hamdan, comandante da brigada de
Guarda Presidencial de Lahoud,
sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em 14 de
fevereiro. E não se tratava de um
simples bate-papo.
Os investigadores, que incluem
policiais norte-americanos e estão
sob o comando de um promotor
veterano da Alemanha, Detlev
Mehlis. Foi um severo choque para o presidente, já que Hamdan é
um de seus principais assessores
de segurança, e já foi acusado por
políticos oposicionistas de envolvimento no acobertamento do assassinato de Hariri pelo governo.
O assassinato de ontem não só
tomou por alvo um nacionalista
libanês popular e admirado, famoso em Beirute, por ter sido um
dos primeiros a conclamar o povo
a resistir ao Exército de ocupação
israelense, depois da invasão do
Líbano, em 1982. Foi também um
abalo para a estabilidade política,
econômica e social do país. O Líbano é um Estado sob o domínio
do assassinato, no qual os matadores não se deixam intimidar pela poderosa equipe de investigação da ONU, e onde os assassinos
trabalham com impunidade e
aparentemente estão protegidos
por autoridades de segurança.
Hawi era um cristão ortodoxo.
Era esquerdista e filósofo, embora
estivesse longe de ser um comunista fanático. Seu filho adotivo
disputou eleições no centro do Líbano pouco mais de uma semana
atrás e foi derrotado, assim como
Nasib Lahoud e outros importantes candidatos oposicionistas.
Mas o assassinato de Hawi aconteceu apenas um dia depois que
Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado, anunciou
que sua coalizão de oposição e inimiga da Síria conquistara a maioria no Parlamento libanês. Assim,
a primavera do Líbano foi seguida, como de hábito, por um túmulo no Líbano.
Figura importante do lado palestino e libanês durante a guerra
civil entre 1975 e 1990, Hawi era
muito amigo do líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Iasser Arafat, e seus
seguidores combateram ao lado
dos esquerdistas durante o conflito. Como muitos dos antagonistas, porém, no final de sua vida ele
estava tentando reconciliar as feridas causadas pela Guerra Civil
aos muçulmanos e cristãos libaneses. Saad Hariri disse ontem
que o assassinato de Hawi tinha
por objetivo perturbar os efeitos
da eleição. Walid Jumblatt disse
que os serviços de informação libaneses precisam ser "completamente expurgados", antes que a
segurança possa ser garantida. Só
nos resta a velha questão: quem
será o próximo?
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