São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Cessar-fogo com Israel é possível, diz líder do Hamas

Dirigente de Gaza recusa, no entanto, negociação direta com governo israelense

Para Mahmoud Zahar, gabinete de união nacional dissolvido pelo presidente Abbas ainda é o governo "legal" dos palestinos

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

Em 26 de janeiro de 2006, ainda sob o impacto da surpreendente vitória do Hamas nas eleições palestinas do dia anterior, o médico Mahmoud Zahar, um dos principais líderes do grupo islâmico, não previu problemas em dividir o poder com o rival Fatah, que acabara de ser derrotado após monopolizar a política palestina por quatro décadas. "Isso foi feito na França, por exemplo", disse então à Folha.
"O presidente era de um partido e o premiê de outro. Portanto, não vejo problema." Mais de um ano e meio depois, o discurso é outro. A tentativa de coabitação terminou com uma miniguerra civil que deixou mais de cem mortos. O Hamas tem o controle total de Gaza e os palestinos estão mais divididos do que nunca.
"Nos livramos de um regime profundamente corrupto e agora podemos cuidar das necessidades do povo palestino", disse Zahar ontem à Folha, por telefone. Chanceler do gabinete formado após a vitória do Hamas, Zahar, considerado um dos ideólogos da ala radical do grupo, ficou fora do fracassado governo de união palestino formado em março, mas parece ter recuperado sua influência após a tomada de Gaza. Tem sido apontado como o principal líder do Hamas nesta nova fase.
Zahar continua se recusando a negociar com Israel, mas admite um cessar-fogo para cuidar das necessidades básicas da população de Gaza. Leia a seguir trechos da entrevista.

 

FOLHA - Agora que expulsou o Fatah, o que o Hamas vai fazer com Gaza?
MAHMOUD ZAHAR -
Temos que ajudar o povo palestino de todas as formas possíveis. Já conseguimos trazer segurança. Também vamos ter sucesso nos serviços sociais, em dar salários para todos. E vamos continuar a lutar para obter uma solução final para os nossos problemas.
Nos livramos de um regime profundamente corrupto e agora podemos cuidar das necessidades do povo palestino.

FOLHA - O Hamas vai continuar governando Gaza ou pretende voltar a dividir o poder com o Fatah?
ZAHAR -
Não há mais governo do Fatah. O que há é um governo ilegal, estabelecido pelo senhor [Mahmoud] Abbas, e o governo legal, de união, que representa Gaza e parte da Cisjordânia.

FOLHA - O Hamas não aceita negociar com o governo israelense, mas depende dele para muitas coisas, como a passagem de pessoas e mercadoria na fronteira.
ZAHAR -
Estamos esperando pelas ações deles. Se eles continuarem a permitir que os serviços básicos sejam prestados ao nosso povo, tudo bem. Caso contrário, teremos que falar com o Egito.

FOLHA - O senhor quer dizer que o Hamas poderia negociar com Israel?
ZAHAR -
Negociar o quê? Não temos nada a falar com eles, a não ser sobre a ajuda essencial, de emergência, como alimentos. Eles não têm um projeto a oferecer ao povo palestino.

FOLHA - O Hamas vai impedir o disparo de foguetes contra Israel?
ZAHAR -
Essa resposta deve ser dada antes de tudo pelos israelenses. Eles estão dispostos a parar com a agressão contra os palestinos em Gaza? Ontem eles mataram seis palestinos.

FOLHA - O Hamas está disposto a aceitar um cessar-fogo?
ZAHAR -
Se os israelenses estiverem dispostos a parar sua agressão nós poderemos discutir um cessar-fogo, com a intermediação dos egípicos. Até agora todos os cessares-fogos fracassaram por culpa de Israel.

FOLHA - O Egito anunciou hoje que sediará uma conferência de apoio ao Fatah. Ainda assim o senhor considera possível a mediação egípcia?
ZAHAR -
Os egípcios apoiarem o senhor Abbas não é novo. O importante é que temos o apoio do povo palestino.

FOLHA - Como o Hamas sobreviverá a esse crescente isolamento?
ZAHAR -
Já passamos por períodos piores, de boicote dos Estados Unidos e da União Européia, e mesmo assim conseguimos ajudar o povo palestino. Esses boicotes não significam que perdemos o apoio da comunidade internacional.


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