São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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análise

Governos árabes temem onda islâmica

MICHAEL SLACKMAN
DO "NEW YORK TIMES", NO CAIRO

A conquista da faixa de Gaza pelo Hamas assustou os líderes árabes porque foi caracterizada pela mesma dinâmica que vem causando agitação na região. Uma vez mais, como no Líbano um ano atrás, a disputa opõe um governo que tem apoio do Ocidente a um grupo islâmico radical recém-chegado ao poder e alinhado à Síria e ao Irã. E o grupo apoiado pelo Ocidente saiu novamente derrotado.
O desfecho demonstra a crescente ameaça do islamismo político aos grupos dominantes em lugares como o Egito, a Jordânia e a Arábia Saudita. E propiciou ao Irã uma nova cabeça-de-ponte nos territórios árabes.
"Temos um grande problema aqui", disse Abdel Moneim Said, diretor do Centro Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, financiado pelo governo egípcio. "Ele se relaciona à falência da forma assumida pela entidade política árabe moderna e à sua incapacidade de realmente convencer o povo quanto à direção em que o está conduzindo. A isso se contrapõe o sucesso do outro lado, como o Hamas, em difundir sua mensagem, clara e simples." Em uma tentativa de reduzir o choque, os governos pró-ocidentais da região alinharam-se firmemente a Mahmoud Abbas, oferecendo-lhe dinheiro e apoio.
Mas nem todos os árabes apóiam Abbas ou desejam a paz com Israel. O desafio que a crise impõe é aquele que os líderes vêm enfrentando enquanto tentam restaurar sua legitimidade e impedir que a maré do islamismo político continue a subir. O Egito está tentando conter a popularidade da Irmandade Muçulmana, e a Jordânia se esforça por reprimir a Frente de Ação Islâmica, braço político da Irmandade.

Paz essencial
Como resultado, os países árabes, com exceção da Síria, vêm pressionando pela paz entre Israel e os palestinos como o primeiro e mais essencial dos passos para a estabilização da região e para garantir o papel de suas lideranças e combater a crescente influência iraniana. Mas essa agenda amplia a distância que separa os governantes em lugares como Amã e o Cairo dos cidadãos comuns, entre os quais prevalece o antagonismo aos EUA e a visão de Israel como inimigo.
Em certo sentido, começou uma corrida para determinar o que acontecerá primeiro: um processo de paz bem-sucedido e capaz de garantir a permanência das lideranças atuais ou o crescimento de um movimento político islâmico capaz de abalar o status quo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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