São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

Anjem Choudary culpa também britânicos pelo 7 de Julho e lamenta que não tenham escutado "advertências" de Bin Laden

Radical prevê "sangue em ruas de Londres"

DE LONDRES

Anjem Choudary, um dos extremistas islâmicos mais conhecidos do Reino Unido, afirmou ontem de manhã, em entrevista à Folha, que ocorrerão novos atentados em Londres e que tudo indica que há muitos jovens muçulmanos dispostos a praticar ações suicidas. Disse ainda que os britânicos são parcialmente culpados pelos ataques de 7 de julho por não terem ouvido as "advertências" de Osama bin Laden.
Três horas depois da entrevista, feita por telefone, voltaram a ocorrer explosões no metrô e num ônibus londrinos. Choudary -que é advogado, diretor da Corte Sharia do Reino Unido e presidente da Sociedade de Advogados Muçulmanos- prevê mais "sangue nas ruas de Londres". Eis sua entrevista. (ÉRICA FRAGA)

 
Folha - O que o sr. acha das medidas que o governo britânico tomou desde os atentados?
Anjem Choudary -
O governo está muito preocupado com a influência dos chamados radicais sobre os jovens. Mas os muçulmanos moderados, alinhados com Tony Blair, não representam ninguém além deles mesmos. Isso [alinhamento com moderados] e a prisão de clérigos são um tiro pela culatra. Os jovens se radicalizarão ainda mais com a perseguição e a prisão de seus líderes.

Folha - A inclusão de clérigos islâmicos na lista de extremistas que o governo criará poderá estimular o radicalismo?
Choudary -
Não faz sentido elaborar uma lista com pessoas que promovem o "jihad" [guerra santa]. Dá a impressão de que é apenas uma centena de pessoas em todo o mundo. É uma besteira. Há milhões de muçulmanos que apóiam o "jihad". Mesmo no Reino Unido, há dezenas de milhares de muçulmanos que apóiam os "mujahidin" [aqueles que lutam pela guerra santa], com dinheiro ou súplicas pelo xeque Osama bin Laden. O governo está tentando enganar a população britânica no que se refere à segurança. Isso é irresponsável e um desserviço.

Folha - O que o governo deveria, então, estar fazendo?
Choudary -
O governo deveria olhar sua política externa, tirar suas tropas do Iraque, parar de apoiar Israel e de tentar interferir nos Estados muçulmanos, abolir as leis draconianas, levar a sério as advertências do xeque Osama bin Laden. Ele advertiu que, se continuassem a apoiar o regime bruto de Blair haveria repercussões.
Mas a advertência foi ignorada. Os britânicos votaram pela manutenção de Blair no poder. Ao contrário dos espanhóis, que aprenderam uma boa lição, depois de Madri [atentados de 11 de março de 2004]. Também acho que os chamados secularistas, os moderados, que não são muçulmanos praticantes, precisam conversar com os radicais e fundamentalistas, como o xeque Omar Bakri Mohammad e outros, para que, juntos, possamos encontrar alguma solução a fim de controlar os jovens e assegurar que não se repita o 7 de Julho.

Folha - O sr. está dizendo que o governo e a população britânica são culpados pelos atentados?
Choudary -
Claro, não há dúvida de que a culpa é dividida entre todos nós. Somos todos culpados. Nós não fizemos o suficiente, como radicais e fundamentalistas, para controlar os jovens. [Iqbal] Sacranie [líder do Conselho Muçulmano Britânico] e os outros moderados mentiram ao dizer que não havia Al Qaeda, que não haveria um ataque aqui, que o "jihad", na verdade, não existe. Se os muçulmanos podem sacrificar quatro jovens, isso quer dizer que há muitos outros jovens para serem sacrificados.

Folha - Quais são seus sentimentos em relação aos quatro terroristas suicidas do 7 de Julho?
Choudary -
Não importa quais são meus sentimentos. O ponto é que eles estavam respondendo à situação na qual se encontram, à política externa nazista do governo britânico e à própria política doméstica.

Folha - O sr. declarou que ataques suicidas contra israelenses eram legítimos porque eles são "ocupantes" do território palestino, mas que não seria legítimo para muçulmanos do Reino Unido atacar este país. O sr. mudou de idéia?
Choudary -
A situação mudou quando o governo britânico começou a matar muçulmanos no Iraque, quando começou a fazer novas leis para impedir a pregação dos religiosos, quando disse que não poderíamos praticar nossa religião apoiando nossos irmãos no exterior, quando começou a dizer aos muçulmanos moderados que espionassem os extremistas.

Folha - O sr. diria que o islã é uma religião pacífica?
Choudary -
Não, não acho que o islã seja, necessariamente, uma religião pacífica. Islã significa submissão, e os muçulmanos são aqueles que se submetem ao comando de Alá. Em tempos de paz, os muçulmanos viverão pacificamente. Mas, se as pessoas quiserem declarar guerra a nós, não seremos como os cristãos, que dão a outra face. Nós lutaremos.

Folha - Existe uma chance real de diálogo dos governos ocidentais com os muçulmanos extremistas?
Choudary -
Estamos sempre abertos ao diálogo. Mas o governo não vai se sentar para discutir com ninguém porque tem uma longa história de animosidade contra os muçulmanos, deu a terra da Palestina aos judeus, ajudou os americanos a bombardear o Afeganistão e o Iraque. Os britânicos têm sido, em sua política externa, muito antiislã e antimuçulmanos.

Folha - O que ocorrerá agora na sua opinião?
Choudary -
O governo continuará em sua cruzada contra o islã e os muçulmanos, e os secularistas moderados se sentirão fortalecidos. Isso significará que as causas pelas quais o 7 de Julho ocorreu continuarão a existir. Haverá mais operações no Reino Unido. Acontecerão muitos conflitos entre muçulmanos e não-muçulmanos. Agora seria o momento de o governo agir, você não pode seguir nessa linha sem esperar que haja sangue nas ruas de Londres.


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