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TERROR EM LONDRES
Anjem Choudary culpa também britânicos pelo 7 de Julho e lamenta que não tenham escutado "advertências" de Bin Laden
Radical prevê "sangue em ruas de Londres"
DE LONDRES
Anjem Choudary, um dos extremistas islâmicos mais conhecidos do Reino Unido, afirmou ontem de manhã, em entrevista à
Folha, que ocorrerão novos atentados em Londres e que tudo indica que há muitos jovens muçulmanos dispostos a praticar ações
suicidas. Disse ainda que os britânicos são parcialmente culpados
pelos ataques de 7 de julho por
não terem ouvido as "advertências" de Osama bin Laden.
Três horas depois da entrevista,
feita por telefone, voltaram a
ocorrer explosões no metrô e
num ônibus londrinos. Choudary
-que é advogado, diretor da
Corte Sharia do Reino Unido e
presidente da Sociedade de Advogados Muçulmanos- prevê mais
"sangue nas ruas de Londres". Eis
sua entrevista.
(ÉRICA FRAGA)
Folha - O que o sr. acha das medidas que o governo britânico tomou
desde os atentados?
Anjem Choudary - O governo está muito preocupado com a influência dos chamados radicais
sobre os jovens. Mas os muçulmanos moderados, alinhados
com Tony Blair, não representam
ninguém além deles mesmos. Isso
[alinhamento com moderados] e
a prisão de clérigos são um tiro
pela culatra. Os jovens se radicalizarão ainda mais com a perseguição e a prisão de seus líderes.
Folha - A inclusão de clérigos islâmicos na lista de extremistas que o
governo criará poderá estimular o
radicalismo?
Choudary - Não faz sentido elaborar uma lista com pessoas que
promovem o "jihad" [guerra santa]. Dá a impressão de que é apenas uma centena de pessoas em
todo o mundo. É uma besteira. Há
milhões de muçulmanos que
apóiam o "jihad". Mesmo no Reino Unido, há dezenas de milhares
de muçulmanos que apóiam os
"mujahidin" [aqueles que lutam
pela guerra santa], com dinheiro
ou súplicas pelo xeque Osama bin
Laden. O governo está tentando
enganar a população britânica no
que se refere à segurança. Isso é irresponsável e um desserviço.
Folha - O que o governo deveria,
então, estar fazendo?
Choudary - O governo deveria
olhar sua política externa, tirar
suas tropas do Iraque, parar de
apoiar Israel e de tentar interferir
nos Estados muçulmanos, abolir
as leis draconianas, levar a sério as
advertências do xeque Osama bin
Laden. Ele advertiu que, se continuassem a apoiar o regime bruto
de Blair haveria repercussões.
Mas a advertência foi ignorada.
Os britânicos votaram pela manutenção de Blair no poder. Ao
contrário dos espanhóis, que
aprenderam uma boa lição, depois de Madri [atentados de 11 de
março de 2004]. Também acho
que os chamados secularistas, os
moderados, que não são muçulmanos praticantes, precisam conversar com os radicais e fundamentalistas, como o xeque Omar
Bakri Mohammad e outros, para
que, juntos, possamos encontrar
alguma solução a fim de controlar
os jovens e assegurar que não se
repita o 7 de Julho.
Folha - O sr. está dizendo que o
governo e a população britânica
são culpados pelos atentados?
Choudary - Claro, não há dúvida
de que a culpa é dividida entre todos nós. Somos todos culpados.
Nós não fizemos o suficiente, como radicais e fundamentalistas,
para controlar os jovens. [Iqbal]
Sacranie [líder do Conselho Muçulmano Britânico] e os outros
moderados mentiram ao dizer
que não havia Al Qaeda, que não
haveria um ataque aqui, que o "jihad", na verdade, não existe. Se os
muçulmanos podem sacrificar
quatro jovens, isso quer dizer que
há muitos outros jovens para serem sacrificados.
Folha - Quais são seus sentimentos em relação aos quatro terroristas suicidas do 7 de Julho?
Choudary - Não importa quais
são meus sentimentos. O ponto é
que eles estavam respondendo à
situação na qual se encontram, à
política externa nazista do governo britânico e à própria política
doméstica.
Folha - O sr. declarou que ataques
suicidas contra israelenses eram legítimos porque eles são "ocupantes" do território palestino, mas
que não seria legítimo para muçulmanos do Reino Unido atacar este
país. O sr. mudou de idéia?
Choudary - A situação mudou
quando o governo britânico começou a matar muçulmanos no
Iraque, quando começou a fazer
novas leis para impedir a pregação dos religiosos, quando disse
que não poderíamos praticar nossa religião apoiando nossos irmãos no exterior, quando começou a dizer aos muçulmanos moderados que espionassem os extremistas.
Folha - O sr. diria que o islã é uma
religião pacífica?
Choudary - Não, não acho que o
islã seja, necessariamente, uma
religião pacífica. Islã significa submissão, e os muçulmanos são
aqueles que se submetem ao comando de Alá. Em tempos de paz,
os muçulmanos viverão pacificamente. Mas, se as pessoas quiserem declarar guerra a nós, não seremos como os cristãos, que dão a
outra face. Nós lutaremos.
Folha - Existe uma chance real de
diálogo dos governos ocidentais
com os muçulmanos extremistas?
Choudary - Estamos sempre
abertos ao diálogo. Mas o governo
não vai se sentar para discutir
com ninguém porque tem uma
longa história de animosidade
contra os muçulmanos, deu a terra da Palestina aos judeus, ajudou
os americanos a bombardear o
Afeganistão e o Iraque. Os britânicos têm sido, em sua política externa, muito antiislã e antimuçulmanos.
Folha - O que ocorrerá agora na
sua opinião?
Choudary - O governo continuará em sua cruzada contra o islã e
os muçulmanos, e os secularistas
moderados se sentirão fortalecidos. Isso significará que as causas
pelas quais o 7 de Julho ocorreu
continuarão a existir. Haverá
mais operações no Reino Unido.
Acontecerão muitos conflitos entre muçulmanos e não-muçulmanos. Agora seria o momento de o
governo agir, você não pode seguir nessa linha sem esperar que
haja sangue nas ruas de Londres.
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