São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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AMIZADE ABALADA

Retirada de aplicações estaria ligada a temores de represálias pós-11 de setembro

Investidores sauditas tiram dinheiro dos EUA

DA REDAÇÃO

Sauditas insatisfeitos com as políticas americanas para o Oriente Médio e com a retórica anti-saudita de membros do governo e na mídia tiraram dos EUA dezenas de bilhões de dólares em investimentos e aplicações.
Analistas dizem que a retirada dos investidores pode chegar a US$ 200 bilhões. Alguns bancos, porém, minimizam o impacto e falam em até US$ 100 bilhões.
As relações entre sauditas e americanos já vinham se deteriorando desde os dias que se seguiram aos atentados de 11 de setembro -15 dos 19 sequestradores dos aviões usados nos ataques de então eram sauditas.
Críticos no Ocidente afirmam que o regime saudita, que difunde uma corrente mais extrema do islamismo, estaria fomentando o terror internacional e que instituições de caridade sauditas estariam financiando a rede terrorista Al Qaeda. Isso acabou sendo interpretado dentro da Arábia Saudita como ataques à sua sociedade e à sua religião.
Uma análise feita recentemente pela Rand Corporation para o Pentágono disse que o país é radical e pode se tornar um inimigo dos EUA. Isso aumentou a percepção na elite saudita de que seus membros poderiam estar sendo "demonizados" pelos americanos. Sendo assim, os investimentos deles não estariam mais seguros nos EUA.
Como parte da luta contra o terrorismo, autoridades americanas e sauditas vêm monitorando as contas de dezenas de empresas e investidores, o que alarmou ainda mais os donos de aplicações.
Youssef Ibrahim, pesquisador do Counsil of Foreign Relations que vem reexaminando as relações EUA-Arábia Saudita, afirma que US$ 200 bilhões foram retirados do país nos últimos meses.
Para ele, uma das causas da fuga dos investidores foi a onda de comentários sobre a viabilidade de congelar investimentos supostamente ligados ao financiamento do terrorismo global.
Essa tendência de fuga pode ser acelerada agora que existe uma ação de indenização feita pelos parentes das vítimas de 11 de setembro. O processo acusa várias instituições sauditas e ao menos três membros da família real de financiar o terror. O valor da causa ultrapassa US$ 1 trilhão.
Os números relativos aos investimentos sauditas nos EUA são incertos, mas analistas estimam que eles devam variar de US$ 400 bilhões a US$ 600 bilhões.
Os investidores não estariam fechando suas contas americanas, apenas transferindo o dinheiro para contas na Europa.
Um banqueiro britânico se disse cético e afirmou que ainda não é perceptível essa "migração", mas ele confirmou que o dinheiro saudita nos EUA estava em aplicações pouco diversificadas.
"Talvez de 30% a 50% dos investimentos em bancos americanos estejam procurando diversificação", disse o financista.
De qualquer modo, essa mudança de mãos pode ter contribuído para a recente pressão de queda do dólar.


Com agências internacionais


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