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ORIENTE MÉDIO
Assentamentos a serem desocupados recebem militantes ultranacionalistas que prometem resistir à retirada
Israel espera mais resistência na Cisjordânia
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SA-NUR (CISJORDANIA)
As forças de segurança de Israel
esperam uma resistência maior
que a encontrada na semana passada nos assentamentos radicais
de Gaza quando efetuar a desocupação de duas colônias da Cisjordânia, que deve começar entre
amanhã e quarta-feira. A polícia
teme que extremistas infiltrados
usem armas de fogo e bombas incendiárias contra as tropas.
Das quatro colônias do norte da
Cisjordânia incluídas no plano de
retirada, duas já estão vazias: Kadim e Ganim, de onde os moradores saíram voluntariamente. A
preocupação é com as outras
duas, Homesh e Sa-Nur, especialmente a segunda, cuja população
de judeus ortodoxos quintuplicou
nas últimas semanas com a chegada de ultranacionalistas contrários à retirada. Eles acamparam
dentro do assentamento e se preparam para o confronto.
Ontem aconteceram os primeiros incidentes nas proximidades
de Sa-Nur, num prenúncio do
que pode ocorrer quando a retirada começar. Pela importância religiosa e política da Cisjordânia,
considerada pelos ultranacionalistas judeus parte irrenunciável
da bíblica Terra de Israel, a disputa ganha tons bem mais extremados do que em Gaza.
Um buldôzer do Exército foi incendiado por coquetel molotov
atirado por um colono durante
violento protesto em Kedumim,
perto das duas colônias que serão
desocupadas. Os responsáveis pelo ataque fugiram depois que o
motorista do buldôzer os ameaçou com sua arma particular.
Apesar de rejeitarem a truculência dos militantes que chegam para se opor à retirada, os colonos
não escondem a esperança de que
eles sejam imitados por muitos
outros. "Queremos uma grande
mobilização para evitar o crime
que este governo está cometendo", disse à Folha o porta-voz da
colônia de Sa-Nur, Yossi Dagan.
Sua mãe, a argentina Tsipi Dagan, que mora num assentamento próximo, é uma das cerca de
1.500 pessoas que se mudaram
nas últimas semanas para Sa-Nur
a fim de resistir à remoção dos colonos. Ela negou categoricamente
que haja colonos armados ou dispostos a atacar as forças de desocupação. "A liderança está fazendo tudo para acalmar os mais jovens. Os boatos de que há pessoas
armadas não passam de guerra
psicológica do governo", acusou
Tsipi, que deixou Buenos Aires há
40 anos para morar em Israel.
Desafiando a proibição do Exército à presença de israelenses nas
áreas a serem desocupadas, Herzl
Ben-Ari, presidente do conselho
municipal de Karnei Shomron,
um assentamento próximo, fez
um apelo ontem aos moradores
das colônias da região para que se
infiltrem em Sa-Nur e Homesh,
irritando o governo.
Um grande contingente de soldados e policiais está postado nas
proximidades dos dois assentamentos. O carro que levava a reportagem da Folha teve de passar
por cinco barreiras do Exército
para chegar às colônias, que ficam
em área militar fechada.
Em Homesh, fundada em 1978
no topo da maior colina da região,
a parcela secular dos moradores
já saiu. Os que ficaram prometem
resistir sem violência, com a ajuda
de visitantes, como o uruguaio
Eliezer Gelber, 28 anos de Israel.
"Nossa esperança de que tudo
se mantenha como está ocorre em
dois planos: no terreno, de que a
militância vença o governo; no espiritual, que aconteça um milagre", diz Eliezer, enquanto observa um grupo de jovens preparar
uma barricada com arame farpada em torno da sinagoga do assentamento. A atmosfera em Homesh, porém, diferentemente de
Sa-Nur, era de calma, com crianças pintando cartazes de protesto
e famílias reunidas nos quintais,
em meio à contagem regressiva.
Hostis à imprensa, os colonos
receberam de braços abertos o deputado direitista Uzi Landau, um
dos maiores opositores do premiê
Ariel Sharon no governista Likud.
Em visita a Sa-Nur, Landau, candidato à presidência do partido,
se solidarizou com os colonos.
"Eles são as verdadeiras vítimas
desse governo pouco democrático", disse Landau à Folha.
A retirada de Gaza, que pelo plano original poderia se estender até
4 de setembro, será bem mais rápida. O comandante do Exército
israelense, Dan Halutz, disse ontem que, assim que as demolições
terminarem as tropas sairão.
Sharon visitou ontem um campo do Exército perto de Gaza onde felicitou os soldados pelo bom
trabalho na evacuação.
A retirada de mais sete colônias
foi concluída ontem pelas forças
israelenses, que não encontraram
resistência. Só resta agora em Gaza o assentamento de Netzarim,
cuja retirada deve ocorrer hoje.
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