São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Assentamentos a serem desocupados recebem militantes ultranacionalistas que prometem resistir à retirada

Israel espera mais resistência na Cisjordânia

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SA-NUR (CISJORDANIA)

As forças de segurança de Israel esperam uma resistência maior que a encontrada na semana passada nos assentamentos radicais de Gaza quando efetuar a desocupação de duas colônias da Cisjordânia, que deve começar entre amanhã e quarta-feira. A polícia teme que extremistas infiltrados usem armas de fogo e bombas incendiárias contra as tropas.
Das quatro colônias do norte da Cisjordânia incluídas no plano de retirada, duas já estão vazias: Kadim e Ganim, de onde os moradores saíram voluntariamente. A preocupação é com as outras duas, Homesh e Sa-Nur, especialmente a segunda, cuja população de judeus ortodoxos quintuplicou nas últimas semanas com a chegada de ultranacionalistas contrários à retirada. Eles acamparam dentro do assentamento e se preparam para o confronto.
Ontem aconteceram os primeiros incidentes nas proximidades de Sa-Nur, num prenúncio do que pode ocorrer quando a retirada começar. Pela importância religiosa e política da Cisjordânia, considerada pelos ultranacionalistas judeus parte irrenunciável da bíblica Terra de Israel, a disputa ganha tons bem mais extremados do que em Gaza.
Um buldôzer do Exército foi incendiado por coquetel molotov atirado por um colono durante violento protesto em Kedumim, perto das duas colônias que serão desocupadas. Os responsáveis pelo ataque fugiram depois que o motorista do buldôzer os ameaçou com sua arma particular.
Apesar de rejeitarem a truculência dos militantes que chegam para se opor à retirada, os colonos não escondem a esperança de que eles sejam imitados por muitos outros. "Queremos uma grande mobilização para evitar o crime que este governo está cometendo", disse à Folha o porta-voz da colônia de Sa-Nur, Yossi Dagan.
Sua mãe, a argentina Tsipi Dagan, que mora num assentamento próximo, é uma das cerca de 1.500 pessoas que se mudaram nas últimas semanas para Sa-Nur a fim de resistir à remoção dos colonos. Ela negou categoricamente que haja colonos armados ou dispostos a atacar as forças de desocupação. "A liderança está fazendo tudo para acalmar os mais jovens. Os boatos de que há pessoas armadas não passam de guerra psicológica do governo", acusou Tsipi, que deixou Buenos Aires há 40 anos para morar em Israel.
Desafiando a proibição do Exército à presença de israelenses nas áreas a serem desocupadas, Herzl Ben-Ari, presidente do conselho municipal de Karnei Shomron, um assentamento próximo, fez um apelo ontem aos moradores das colônias da região para que se infiltrem em Sa-Nur e Homesh, irritando o governo.
Um grande contingente de soldados e policiais está postado nas proximidades dos dois assentamentos. O carro que levava a reportagem da Folha teve de passar por cinco barreiras do Exército para chegar às colônias, que ficam em área militar fechada.
Em Homesh, fundada em 1978 no topo da maior colina da região, a parcela secular dos moradores já saiu. Os que ficaram prometem resistir sem violência, com a ajuda de visitantes, como o uruguaio Eliezer Gelber, 28 anos de Israel.
"Nossa esperança de que tudo se mantenha como está ocorre em dois planos: no terreno, de que a militância vença o governo; no espiritual, que aconteça um milagre", diz Eliezer, enquanto observa um grupo de jovens preparar uma barricada com arame farpada em torno da sinagoga do assentamento. A atmosfera em Homesh, porém, diferentemente de Sa-Nur, era de calma, com crianças pintando cartazes de protesto e famílias reunidas nos quintais, em meio à contagem regressiva.
Hostis à imprensa, os colonos receberam de braços abertos o deputado direitista Uzi Landau, um dos maiores opositores do premiê Ariel Sharon no governista Likud. Em visita a Sa-Nur, Landau, candidato à presidência do partido, se solidarizou com os colonos. "Eles são as verdadeiras vítimas desse governo pouco democrático", disse Landau à Folha.
A retirada de Gaza, que pelo plano original poderia se estender até 4 de setembro, será bem mais rápida. O comandante do Exército israelense, Dan Halutz, disse ontem que, assim que as demolições terminarem as tropas sairão.
Sharon visitou ontem um campo do Exército perto de Gaza onde felicitou os soldados pelo bom trabalho na evacuação.
A retirada de mais sete colônias foi concluída ontem pelas forças israelenses, que não encontraram resistência. Só resta agora em Gaza o assentamento de Netzarim, cuja retirada deve ocorrer hoje.


Próximo Texto: Palestinos buscam nomes árabes para colônias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.