São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Taleban mata 60 e acirra crise no Paquistão

À beira de um racha no governo civil, bombas explodem em fábricas de armas, no maior atentado desde o fim da ditadura

Viúvo de Benazir conquista apoio do 3º maior partido governista e pode ser eleito presidente, a despeito da oposição de Nawaz Sharif

Associated Press
Paquistanesa observa sapatos das vítimas, que ajudam parentes a identificarem os operários atingidos pelos ataques de

DA REDAÇÃO

A explosão de dois terroristas suicidas matou ontem mais de 60 trabalhadores no principal complexo da indústria bélica paquistanesa, ao norte da capital, Islamabad. Reivindicado pela milícia radical islâmica do Taleban, o atentado é o mais mortífero desde a posse do governo civil, que assumiu há cinco meses propondo negociações com os radicais islâmicos para pôr fim à violência.
O porta-voz do Taleban, Maulvi Omar, afirma que as explosões foram uma resposta às operações do Exército em Bajaur, região próxima à fronteira afegã. "Se [as ações militares] não pararem, continuaremos os ataques", ameaçou. Após uma trégua inicial, o líder do Taleban no país, Baitullah Mehsud, suspendeu em junho o diálogo com o governo, em retaliação à ofensiva contra o grupo nas cercanias de Peshawar, também na zona fronteiriça.
Os terroristas se explodiram em dois portões do complexo de Wah enquanto centenas de operários deixavam as instalações, que contam com policiamento ostensivo e empregam cerca de 20 mil pessoas em 16 fábricas. "Tinha corpos por todo o lugar e feridos ensopados de sangue gritavam por ajuda", conta Shah, gerente de um posto de combustíveis próximo.
Segundo relatos da mídia local, o ataque matou 71 pessoas e feriu dezenas -o governo confirmara antes 59 mortes.

Instabilidade
A combinação de violência e incerteza política, com racha iminente da coalizão governista, acirra a instabilidade crônica no Paquistão, que tem a bomba atômica e é um dos principais fronts da "guerra ao terror" capitaneada pelos EUA.
Após forçar a renúncia do general reformado Pervez Musharraf, ex-ditador acuado pela ameaça de impeachment, o neófito governo civil paquistanês vive um impasse.
Não houve acordo sobre a sucessão presidencial, e o PLM-N (Partido da Liga Muçulmana -facção Nawaz) pode deixar a coalizão hoje, quando expira o ultimato dado pela legenda para que o ex-presidente da Suprema Corte, Iftikhar Chaudhry, e os outros juízes destituídos por Musharraf sejam reconduzidos ao cargo.
O PPP (Partido do Povo Paquistanês), líder do governo, declara-se favorável à volta dos juízes, mas quer que o tema seja tratado pelo próximo presidente. A indicação do chefe de Estado divide a frágil coalizão, que reúne rivais históricos unidos pela oposição a Musharraf.
A ruptura não forçaria eleições, mas faria o PPP refém das pequenas legendas, agravando a instabilidade no país.
Num passo em direção à ruptura com o PLM-N, nomes da cúpula do PPP manifestaram ontem apoio à indicação de Asif Ali Zardari, viúvo da ex-premiê assassinada Benazir Bhutto e líder do partido, para a Presidência. O ex-premiê Nawaz Sharif -líder do segundo maior partido governista- o rejeita.
Uma possível saída conciliatória, levada ao debate após a renúncia de Musharraf, seria a indicação de um político de perfil discreto e o esvaziamento dos poderes presidenciais. A escolha de um nome consensual -preferencialmente vindo de outra Província que não Sindh, a terra natal de Zardari- seria uma derrota honrosa para o PLM-N.
O Muttahida -terceiro partido da base governista, que tem Sindh como seu principal reduto eleitoral- manifestou ontem apoio à candidatura de Zardari. O endosso do Muttahida será crucial para possibilitar a vitória, caso se confirme a ruptura na coalizão.


Com agências internacionais


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