São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Tbilisi admite que errou seu cálculo sobre reação russa

JAN CIENSKI
DO "FINANCIAL TIMES", EM TBILISI

A Geórgia não acreditava que a Rússia reagiria à sua ofensiva na região separatista da Ossétia do Sul e foi apanhada totalmente despreparada pelo contra-ataque russo, admitiu o ministro-assistente da Defesa.
Batu Kutelia disse ao "Financial Times" que seu país decidira capturar Tskhinvali, a capital ossetiana, mesmo sem ter armas antitanque e antiaéreas suficientes. "Infelizmente, demos baixa prioridade a esses equipamentos", declarou, sentado diante de uma parede com bandeiras da Geórgia e da Otan, a aliança militar ocidental, da qual seu país não faz parte.
O Exército georgiano de 20 mil soldados, construído ao custo de US$ 2 bilhões com a ajuda de instrutores americanos e equipamento descartado pelos membros do antigo Pacto de Varsóvia, estava organizado para enfrentar conflitos pequenos com os encraves separatistas e para contribuir em missões internacionais como a ocupação do Iraque (o que reforça os elos com o Ocidente). A Rússia não estava nos planos.
Para Kutelia, a culpa cabe aos russos e aos ossetianos. Ele diz que, no início do mês, combatentes ossetianos começaram a disparar contra aldeias e posições militares georgianas e que a Rússia passou a transferir blindados para a Província russa da Ossétia do Norte antes de o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, ordenar o avanço de suas tropas, no dia 7.
Mas não oferece prova de nada.
Segundo ele, os danos à infra-estrutura militar da Geórgia foram "significativos" e será necessária assistência estrangeira para reconstruir as capacidades defensivas georgianas.
Tropas russas ocuparam muitas bases militares georgianas. Confiscaram veículos Humvee de fabricação americana, explodiram embarcações da guarda costeira, destruíram posições de radar e outras instalações de defesa e teriam também capturado tanques, armas e munição georgianos.
Moscou não indicou que pretenda devolver esse material.
O custo do despreparo pôde ser visto no sepultamento, nesta semana, de sete soldados mortos nos combates. Cerca de 20 soldados em uniformes de camuflagem, e um usando calças de moletom, assistiam à sombra de uma árvore enquanto uma escavadeira recobria de terra arenosa a longa trincheira em que os seus colegas de armas estavam sendo enterrados.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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