São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Torpedos facilitam paquera de afegãos e paquistaneses

Advento de serviços de mensagem por celular muda comportamento de jovens

Tecnologia permite que homens marquem encontros com mulheres sem precisar passar pelo estágio de apresentação aos pais


DO ENVIADO AO PAQUISTÃO
E AO AFEGANISTÃO

O advento dos serviços de mensagem por celular, de 2006 para cá, mudou o comportamento dos jovens no Paquistão e no Afeganistão. Uma pequena revolução na paquera em duas sociedades muito rígidas.
Nas grandes cidades paquistanesas, o fenômeno é mais evidente. Todas as quintas à tarde, o ritual se repete no Melody Market, uma espécie de praça de alimentação ao ar livre em Islamabad. "Me manda um torpedo?", é a pergunta que vem após trocas de olhares e sorrisos, seguida da entrega de um papelzinho com o número do telefone por parte do garoto. Sexta é o dia de folga no país, janela para encontros.
"Quando saíamos da aula, íamos tomar Coca e Fanta no Jinnah Super Market [conjunto de lojas e restaurantes locais]. Tínhamos de esperar ser apresentados aos pais e aí poder ir ao cinema", diz o analista de sistemas Waqar Hussain, 24.
Pelo menos havia cinemas em Islamabad naquela época, lembra ele. Hoje, não há, por medo de atentados. Em Cabul, há poucas salas, vazias, a passar filmes de Bollywood.
Com os torpedos, contudo, tudo ficou mais fácil. É possível combinar programas sem passar pelo estágio "apresentação aos pais". "Minha família sempre foi moderna, mas ainda assim obrigava isso", diz a namorada de Hussain, a estudante Shahida, 22.
Ambos falaram no principal ponto de encontro de Islamabad, o Margalla Park. Pediram para não serem fotografados. "Antigamente a polícia podia prender a gente", diz o rapaz.
Durante o dia, aqui e ali é possível ver casais tomando refrigerantes ou chá em quiosques isolados. Vez ou outra eles desaparecem nas matas densas do parque. Para fazer o que parece que vão fazer? "Claro, tudo", diz o agente de turismo Chaudry Farhad, 35.
O processo é algo diferente no Afeganistão. Mesmo na grande Cabul, em que a paquera por torpedo ocorre principalmente na região de restaurantes e casas de chá da Chicken Street, o "tudo" não acontece com tanta facilidade.
"Eu tenho 26. Não bebo, não fumo e não tive relações", afirma o tradutor Mohammad Wadaht. É só por preceito religioso? "Não é bem assim. Não quero pagar US$ 50 por isso com alguma chinesa ou azerbaijana. Com moças certas, só depois de a família autorizar o casamento. Não há chance de uma menina afegã não casar virgem."
O paquistanês Farhad diz que é diferente em sua terra, onde a rigor o homem tem de pagar um dote para poder casar. "É um problema para a moça não ser virgem, mas se ela e o rapaz se amam, hoje em dia pouco importa. Não é como nas vilas, em que o mulá pode até checar a menina", diz.
Em Cabul, conta Wadaht, o que acontece é o "encontro casual" em algum parque. Não há vida noturna alguma, exceto os passeios pela Chicken Street até no máximo 23h.
Quase nenhuma menina se dispõe a falar com um homem estrangeiro sobre o assunto. Tanto que, quando a Folha foi buscar depoimentos no ponto de encontro feminino chamado Jardim das Mulheres, apenas Jamila, 20, topou falar.
Isso porque ela mora em Frankfurt, Alemanha, filha de uma família no exílio a passeio. "Eu converso com minhas amigas, é tudo muito difícil. Elas namoram por torpedo, mas nunca veem os meninos. Eu tenho namorado na Alemanha, mas não posso falar dessas coisas aqui", conta.
Como são países muçulmanos, o álcool é vetado. Mas em ambos os lugares é possível para jovens comprar de cristãos ou hindus, que têm a licença para a venda, uma lata de cerveja -que sai mais ou menos pelo mesmo preço nos dois países, cerca de US$ 4.
Drogas são tabu. Drogados são vistos como não pessoas, e, embora alguns jovens fumem haxixe, não é algo de que eles se vangloriem. (IGOR GIELOW)


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