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Torpedos facilitam paquera de afegãos e paquistaneses
Advento de serviços de mensagem por celular muda comportamento de jovens
Tecnologia permite que homens marquem encontros
com mulheres sem precisar passar pelo estágio de apresentação aos pais
DO ENVIADO AO PAQUISTÃO
E AO AFEGANISTÃO
O advento dos serviços de
mensagem por celular, de 2006
para cá, mudou o comportamento dos jovens no Paquistão
e no Afeganistão. Uma pequena
revolução na paquera em duas
sociedades muito rígidas.
Nas grandes cidades paquistanesas, o fenômeno é mais evidente. Todas as quintas à tarde,
o ritual se repete no Melody
Market, uma espécie de praça
de alimentação ao ar livre em
Islamabad. "Me manda um torpedo?", é a pergunta que vem
após trocas de olhares e sorrisos, seguida da entrega de um
papelzinho com o número do
telefone por parte do garoto.
Sexta é o dia de folga no país, janela para encontros.
"Quando saíamos da aula, íamos tomar Coca e Fanta no
Jinnah Super Market [conjunto de lojas e restaurantes locais]. Tínhamos de esperar ser
apresentados aos pais e aí poder ir ao cinema", diz o analista
de sistemas Waqar Hussain, 24.
Pelo menos havia cinemas
em Islamabad naquela época,
lembra ele. Hoje, não há, por
medo de atentados. Em Cabul,
há poucas salas, vazias, a passar
filmes de Bollywood.
Com os torpedos, contudo,
tudo ficou mais fácil. É possível
combinar programas sem passar pelo estágio "apresentação
aos pais". "Minha família sempre foi moderna, mas ainda assim obrigava isso", diz a namorada de Hussain, a estudante
Shahida, 22.
Ambos falaram no principal
ponto de encontro de Islamabad, o Margalla Park. Pediram
para não serem fotografados.
"Antigamente a polícia podia
prender a gente", diz o rapaz.
Durante o dia, aqui e ali é
possível ver casais tomando refrigerantes ou chá em quiosques isolados. Vez ou outra eles
desaparecem nas matas densas
do parque. Para fazer o que parece que vão fazer? "Claro, tudo", diz o agente de turismo
Chaudry Farhad, 35.
O processo é algo diferente
no Afeganistão. Mesmo na
grande Cabul, em que a paquera por torpedo ocorre principalmente na região de restaurantes e casas de chá da Chicken Street, o "tudo" não acontece com tanta facilidade.
"Eu tenho 26. Não bebo, não
fumo e não tive relações", afirma o tradutor Mohammad Wadaht. É só por preceito religioso? "Não é bem assim. Não quero pagar US$ 50 por isso com
alguma chinesa ou azerbaijana.
Com moças certas, só depois de
a família autorizar o casamento. Não há chance de uma menina afegã não casar virgem."
O paquistanês Farhad diz
que é diferente em sua terra,
onde a rigor o homem tem de
pagar um dote para poder casar. "É um problema para a moça não ser virgem, mas se ela e o
rapaz se amam, hoje em dia
pouco importa. Não é como nas
vilas, em que o mulá pode até
checar a menina", diz.
Em Cabul, conta Wadaht, o
que acontece é o "encontro casual" em algum parque. Não há
vida noturna alguma, exceto os
passeios pela Chicken Street
até no máximo 23h.
Quase nenhuma menina se
dispõe a falar com um homem
estrangeiro sobre o assunto.
Tanto que, quando a Folha foi
buscar depoimentos no ponto
de encontro feminino chamado Jardim das Mulheres, apenas Jamila, 20, topou falar.
Isso porque ela mora em
Frankfurt, Alemanha, filha de
uma família no exílio a passeio.
"Eu converso com minhas amigas, é tudo muito difícil. Elas
namoram por torpedo, mas
nunca veem os meninos. Eu tenho namorado na Alemanha,
mas não posso falar dessas coisas aqui", conta.
Como são países muçulmanos, o álcool é vetado. Mas em
ambos os lugares é possível para jovens comprar de cristãos
ou hindus, que têm a licença
para a venda, uma lata de cerveja -que sai mais ou menos
pelo mesmo preço nos dois países, cerca de US$ 4.
Drogas são tabu. Drogados
são vistos como não pessoas, e,
embora alguns jovens fumem
haxixe, não é algo de que eles se
vangloriem.
(IGOR GIELOW)
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